domingo, 29 de dezembro de 2019

CRÔNICA DE UM NATAL...

Crônica de um Natal que ainda vai voltar 
Por Luis Nassif*
Passada a grande noite do pesadelo, em um ponto qualquer do futuro haverá um reencontro no Natal brasileiro. Há de cair a ficha do país.

Minha família, pelo menos o círculo mais próximo, não pratica o discurso de ódio. Temos algumas diferenças, nenhuma no plano moral. Antes, julgava ser um padrão normal de família classe média brasileira. Hoje em dia, agradeço a Deus pelo presente. Tias, irmãs, filhos, netos, primos próximos, todos preservam os princípios morais dentro dos quais fomos educados.
                      
Há dissidências em algumas tias e primos mais afastados, mas educação suficiente para não externar as divergências em reuniões familiares.

O que me aflige, no contato com os bolsominions, é justamente o plano moral. Apoiar uma pessoa intrinsecamente imoral, como Jair Bolsonaro, é prova de falha de caráter. É compactuar com a imoralidade.

E, olhe, jamais dividi as pessoas em bons e maus, de acordo com suas inclinações políticas. Mais que tolerância, sempre tive profundo interesse pela divergência. É a divergência que traz novas informações, permite reavaliar posições, de tal maneira que, no final da polêmica, os dois lados saem mais sábios.

Aliás, foi isso que me ensinou minha caçula Dodó quando, com 16 anos, saiu de um grupo de feministas maduras, que a utilizavam para desconstruir artigos contrários. Deixou de lado um fã clube de amigas adultas, que a cobriam de likes, por discordar da polêmica como instrumento de guerra contra o inimigo.

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

DIA DE LUTA E REFLEXÃO DA CONSCIÊNCIA NEGRA EM MONTES CLAROS. E a BLACK FRAUDE do comércio no feriado...

Diretor da Igualdade Racial em Montes Claros chama de 'Black Fraude' o abuso do comércio local em abrir em pleno feriado da 'Consciência Negra'
4ª Marcha contra o Racismo e a Intolerância Religiosa, nesta quarta (20/11)  no  centro de Montes Claros. Foto: FN Café NEWS.
MONTES CLAROS (MG) – No 'Dia da Consciência Negra', as ruas do centro de Montes Claros foram tomadas nesta quarta-feira (20) por dezenas de manifestantes [dentre eles: alunos, diretores e professores de escolas públicas, além de militantes da causa negra na cidade] na 4ª Marcha contra o Racismo e a Intolerância Religiosa.

José Gomes Filho (centro), diretor da Igualdade Racial na cidade.
O diretor da Coordenadoria de Igualdade Racial na cidade, José Gomes Filho denunciou o preconceito, os estereótipos e estigmas sociais na discriminação contra o povo negro em Montes Claros e no Brasil. Zé Gomes aproveitou para denunciar o abuso de alguns comerciantes que insistem, em pleno feriado da 'Consciência Negra', em abrir suas lojas no centro da cidade, onde ele disse que "isso é uma 'Black Fraude' [referência à promoção da 'Black Friday' no comércio], ou seja, um total desrespeito com o povo negro. Por isso, nós (povo negro e simpatizantes da causa) não vamos comprar neste dia", assinalou para um possível boicote dos produtos comercializados no feriado. O feriado, segundo Gomes, "foi instituído por meio de votação na Câmara Municipal, a partir de acordo com a Associação Comercial local”.

domingo, 22 de setembro de 2019

Diante da barbárie, desgraça e dor, “mas tudo bem”, Brasil?

TUDO RUIM, MAS TUDO BEM

Por Arthur da Távola*
O “tudo bem” é uma expressão profundamente brasileira. Somos um povo pacífico e acomodado. Término do romance, sem dinheiro, brigou com a família e, após contar a desgraça inteira, diz: “Mas tudo bem”.

Na verdade, preferimos fingir que não ligamos e secretamente diluir o que nos chateia ou oprime, a remover o mal sob forma cirúrgica. Para tal, o “tudo bem” cai como luva. Revela uma espécie de certeza de que nada é duradouro, tudo acabará modificado, por mais que a rigidez pareça dominar.

O “tudo bem” possui duas outras leituras que latejam por dentro de sua significação aparente. São elas: “Não faz mal” e “deixa comigo que adiante eu dou um jeito”.

“Não faz mal” quer dizer “não importa”, “não há de ser nada”, “tentaram me atingir mas não conseguiram”. Quer, portanto, dizer: “Olha, eu não desistirei; estou apenas fingindo que não ligo”.

sexta-feira, 19 de julho de 2019

CHAMARIZ EMPREENDEDOR DO "FUTURE-SE"/MEC PARA UNIVERSIDADES PÚBLICAS

A universidade não precisa de 'empreendedorismo'. Precisa de pensamento crítico
Por professor Luiz Felipe Miguel (UnB)*
Vista aérea do campus central da Universidade de Brasília (UnB) - Asa Norte/Brasília (DF). Foto: Portal do PROFCIAMB - Programa de Pós-Graduação em Rede Nacional para Ensino das Ciências Ambientais (USP)
Quando eu estava terminando o doutorado, me preparando para ingressar na carreira docente, recebi o telefonema de um ex-professor. Ele me convidava para ser sócio de sua firma de consultoria. Explicou em que consistia a proposta, enfatizou muito que o serviço era consultoria e não lobby e apresentou seu argumento principal: “Você terá uma vida muito mais confortável”.

Eu ouvi com atenção e polidamente recusei a oferta. Não sou nenhum asceta, quero ser bem remunerado pelo meu trabalho. Mas o que a universidade me oferecia era muito mais do que isso: o espaço para pensar com liberdade, para ser útil à sociedade, para contribuir na sua transformação.

Mais de vinte anos se passaram. A universidade brasileira mudou muito, de lá para cá, para o bem e para o mal. Mas continuo insensível ao chamariz do “Future-se” do MEC: não quero a oportunidade de ficar rico. Mesmo, aliás, que isso fosse de fato uma possibilidade aberta, não uma ilusão para tolos.
Quero ter boas condições de fazer meu trabalho. E a primeira condição é autonomia.

O governo Bolsonaro ataca esta autonomia por um lado com a censura ideológica, por outro com o subfinanciamento. Seu projeto é o pior dos mundos: uma universidade dependente das vontades do mercado e, ao mesmo tempo, submissa ao controle dos donos do poder.

A universidade não precisa de "empreendedorismo". Precisa de pensamento crítico.

sexta-feira, 24 de maio de 2019

Patrus Ananias fala nesta sexta-feira (24) em Montes Claros sobre educação pública no Brasil

Ex-ministro do combate à fome e atual deputado federal debaterá hoje na Filosofia Unimontes
* Por Waldo Ferreira
Patrus Ananias foi durante sete dos oito anos do governo Luiz Inácio Lula da Silva(2003-2010) Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Foto: Arquivo PT-MG 
Ex-ministro e atual deputado federal, Patrus Ananias (PT) estará em Montes Claros na próxima sexta-feira 24, para proferir palestra sobre “a conjuntura atual da educação pública no Brasil e seus desafios”, a partir das 19 horas, no auditório do Centro de Ciências Humanas (CCH) da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).

A palestra, promovida pelo Departamento de Filosofia, em conjunto com as coordenações dos cursos de Filosofia e Ciências da Religião, está inserida no atual cenário de achaque à educação pública, promovido pelo governo Bolsonaro.

De acordo com o chefe do Departamento de Filosofia, professor doutor Antônio Wagner, o objetivo é reunir professores e alunos da Unimontes e de outras instituições de ensino superior, bem como das escolas de educação básica e sociedade para discutir a atual situação do ensino público brasileiro a partir das informações e análises que serão apresentadas durante a exposição de Patrus Ananias.

Segundo ele, é preciso colocar em xeque os rumos das políticas públicas educacionais, tendo em vista as ações e medidas adotadas pelo governo federal no tocante à redução de recursos e ao corte de verbas nas universidades e escolas. “Além de outros aspectos que denotam tratamento desrespeitoso para com os educadores deste país”, reitera o professor.

“O momento atual exige que nos manifestemos bravamente e conjuntamente a favor da extrema valorização da educação e do livre pensar no âmbito das instituições de ensino, bem como a favor da permanência das iniciativas que permitem a todos, especialmente os mais pobres, terem pleno acesso à formação escolar e acadêmica”, defende.

sábado, 11 de maio de 2019

DESMONTE DA EDUCAÇÃO E O SUBDESENVOLVIMENTO BRASILEIRO...

História e educação
É sintomático que universidades sejam um dos principais alvos de Bolsonaro
 Por Fernando Haddad*
CORTES NA EDUCAÇÃO: estudantes e professores se unem em ato contra medidas do governo Bolsonaro na área da educação. Foto: Rodolfo Buhrer – 10 maio de 2019/Reuters.
Há muita polêmica na literatura sobre por que as nações se diferenciam tanto em seu desenvolvimento econômico. As causas apontadas são as mais variadas: geografia, religião, instituições, colonialismo etc.

O subdesenvolvimento brasileiro, por exemplo, é associado ao nosso peculiar processo de colonização que nos legou a escravidão, o patrimonialismo e a inquisição, dos quais a abolição, a independência e a república não nos permitiram livrar-nos inteiramente.

Existem alguns fatores, entretanto, que parte dos estudiosos considera pressupostos comuns a muitas das experiências nacionais bem-sucedidas de superação do atraso.
Democratização do acesso à terra, ao crédito e à educação são alguns exemplos comumente citados, e não é difícil perceber que, ao longo da nossa história, esses fatores têm sido restringidos a uma ínfima parcela da sociedade.

A rigor, a revolução democrática deveria ter sido feita por ocasião da libertação dos negros, mas nem terra nem crédito nem educação lhes foram assegurados. Tratou-se de soltura, não de libertação.

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

LUCRO ACIMA DE TUDO, LAMA EM CIMA DE TODOS

A Vale e Bolsonaro são as mais perfeitas expressões do capitalismo neoliberal no mundo*
Por Pedro Paulo Zahluth Bastos**
O rompimento da barragem de Brumadinho foi um desastre ambiental ocorrido no município de Brumadinho, a 65 km da capital mineira, Belo Horizonte, no início da tarde do dia 25 de janeiro de 2019. Rompeu-se uma barragem de rejeitos de mineração controlada pela Vale S.A., construída no ribeirão Ferro-Carvão, na localidade de Córrego do Feijão. No rompimento, ao menos 84 pessoas morreram e há ainda 276 pessoas desaparecidas. Foto: Jornal El País (Espanha) - Vista aérea da devastação em Brumadinho. 
O desastre da Vale em Brumadinho foi uma tragédia anunciada. Em dois sentidos: primeiro porque o lobby das mineradoras barra legislação para evitar o pior. Segundo, em um sentido mais profundo, porque tragédias ambientais são da lógica do capitalismo, principalmente depois das reformas neoliberais que mudaram o mundo desde os anos 1980.

O desastre com a barragem da Samarco em Mariana (MG) em novembro de 2015 também é responsabilidade da Vale. A Samarco é um joint venture da Vale com a anglo-australiana BHP Billiton. A última era a maior empresa de mineração do mundo em 2013, perdendo a posição para outra anglo-australiana (a Rio Tinto), que por sua vez teria perdido a posição para a Vale há duas semanas.

Depois do desastre em Mariana, a comoção levou a promessas de mudança de conduta por parte da empresa, de um lado, e de dureza na legislação e na fiscalização, de outro. As promessas foram vãs, pois as mineradoras financiaram lobby para barrar reformas protetoras do meio-ambiente.

Um projeto com regras severas de licenciamento ambiental para novas barragens e fiscalização mais dura das existentes está paralisado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais há um ano. O projeto aumentava o custo das mineradoras, tanto por aumentar investimento em prevenção quanto exigir a formação de um fundo para danos futuros.

Foi vetado pelos deputados Tadeu Martins Leite (MDB), Gil Pereira (PP) e Thiago Cota (MDB). O último afirmou à BBC Brasil que o projeto “inviabilizaria a mineração em Minas Gerais… não teríamos mais como sonhar com o retorno da Samarco. Isso seria terrível para Mariana, Ouro Preto e toda uma região.”

O lobby das mineradoras também barrou projeto no Senado que aumentava a fiscalização, as exigências de segurança e as punições por não cumpri-las. Também exigia a contratração de seguro ou garantia financeira para cobertura de danos. A exigência de seguro complementaria a fiscalização pública com a avaliação da seguradora privada.

Enquanto o projeto do Senado foi arquivado em 2018, três projetos da Câmara de Deputados estão parados desde 2016. No Ministério Público, a cobrança no valor de R$ 155 bilhões contra a Samarco está suspensa por conta de negociações com a empresa, que quer diminuir o valor.

A luta contra a indenização pelo desastre de Brumadinho já começou. Na segunda-feira o advogado da Vale, Sérgio Bermudes, afirmou que a empresa “não enxerga razões determinantes de sua responsabilidade” no estouro da barragem. A repercussão negativa levou a empresa a desautorizá-lo, mas ele já pediu à Justiça mineira o fim do bloqueio de R$ 11 bilhões para indenizações.

A Vale também é conhecida por lutar contra impostos. Como outras empresas, pratica elisão fiscal através de preços de transferência: exporta para uma coligada em um paraíso fiscal, que depois revende pelo preço de mercado. Assim, não recolhe tributos devidos no Brasil (nem no paraíso fiscal).

Sem limitar-se à Vale, um estudo do economista Guilherme Morlin atestou uma diferença sistemática entre o preço do minério de ferro exportado pelo Brasil e a cotação internacional de mercado entre 2009 e 2015. A depender da base de dados, o subfaturamento totalizou algo entre US$ 39 e 49 bilhões entre fevereiro de 2009 e dezembro de 2015. Mais de 80% das exportações brasileiras de ferro foram adquiridas por empresas sediadas na Suíça, um ponto de revenda que só se justifica por ser conhecido paraíso fiscal.

A perda de arrecadação tributária foi estimada em nada menos que US$ 12,5 bilhões apenas em impostos sobre os lucros, sem contar rendimentos financeiros e a CFEM (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais). Outro estudo do INESC calculou que a Vale pagou 40% a menos do que o devido CFEM em 2013.

Para dizer o mínimo, a Vale não devolve o que deveria para a coletividade que a abriga. A empresa é uma expressão perfeita do capitalismo neoliberal. A concorrência impõe a lógica do capitalismo sobre cada empresa: reduzir custos por todos os meios e se apropriar gratuitamente de recursos coletivos e naturais não renováveis até seu esgotamento. Já o neoliberalismo exalta a empresa e deslegitima o poder público que poderia impor regras e custos para as empresas.

Muitas empresas não têm compromisso nacional e preferem se deslocar para territórios com menores custos tributários, trabalhistas, ambientais ou regulatórios. Quando não podem, seus lobistas, políticos, advogados, intelectuais e publicitários procuram recriar condições “mais livres” em suas próprias sedes usando os argumentos neoliberais de sempre.

A má notícia para os brasileiros é que a melhor expressão mundial da pulsão neoliberal talvez seja Jair Bolsonaro, para quem a vida do empresário é difícil por causa das leis trabalhistas, dos impostos e das normas ambientais (a “indústria da multa”).

A notícia pior é que o novo desastre da Vale é fichinha diante dos desastres que serão produzidos pelo aquecimento global, produto maior daquilo que nosso presidente chamou de “dejeitos” da atividade econômica. Apesar de Brumadinho, o mais provável é que Bolsonaro continue considerando o combate à degradação ambiental e à mudança climática um complô do “marxismo cultural” contra o capitalismo.

*Texto publicado na CartaCapital, na terça-feira, 29 de janeiro de 2019.
**Desde 2002, leciona no Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde atualmente é Professor Associado (Livre Docente).

FATOS DA SEMANA

Mapa Geopolítico do Rio São Francisco

Mapa Geopolítico do Rio São Francisco
Caracterização do Velho Chico

Vocé é favorável à Transposição do Rio São Francisco?

FN Café NEWS: retrospectiva