A universidade
não precisa de 'empreendedorismo'. Precisa de pensamento crítico
Por professor Luiz Felipe Miguel (UnB)*
Quando
eu estava terminando o doutorado, me preparando para ingressar na carreira
docente, recebi o telefonema de um ex-professor. Ele me convidava para ser
sócio de sua firma de consultoria. Explicou em que consistia a proposta,
enfatizou muito que o serviço era consultoria e não lobby e apresentou seu
argumento principal: “Você terá uma vida muito mais confortável”.
Eu ouvi com atenção e polidamente
recusei a oferta. Não sou nenhum asceta, quero ser bem remunerado pelo meu
trabalho. Mas o que a universidade me oferecia era muito mais do que isso: o
espaço para pensar com liberdade, para ser útil à sociedade, para contribuir na
sua transformação.
Mais de vinte anos se passaram. A
universidade brasileira mudou muito, de lá para cá, para o bem e para o mal.
Mas continuo insensível ao chamariz do “Future-se” do MEC: não quero a
oportunidade de ficar rico. Mesmo, aliás, que isso fosse de fato uma possibilidade
aberta, não uma ilusão para tolos.
Quero ter boas condições de fazer
meu trabalho. E a primeira condição é autonomia.
O governo Bolsonaro ataca esta
autonomia por um lado com a censura ideológica, por outro com o
subfinanciamento. Seu projeto é o pior dos mundos: uma universidade dependente
das vontades do mercado e, ao mesmo tempo, submissa ao controle dos donos do
poder.
A universidade não precisa de
"empreendedorismo". Precisa de pensamento crítico.