domingo, 25 de abril de 2021

COVID-19: A EPIDEMIA SILENCIOSA DA DOR QUE ‘ESCONDE O TERROR E O SOFRIMENTO DOS QUE MORRERAM SOZINHOS’

Morte “higiênica” e “escondida” por covid-19 agrava a epidemia silenciosa da dor

Duas pesquisas apontam que cada óbito afeta uma média de nove parentes diretos, gerando uma nova onda de desafios para a saúde da população
Enfermeira atende um paciente internado na UTI do Complexo Hospitalar de Navarra, na Espanha, em 15 de abril. Foto: Jesús Diges / EFE

El País, 24 abr 2021 - Raúl LimónOs mortos por covid-19 se tornaram um número a mais. Suas cifras, sem imagens e sem referências biográficas, acompanham diariamente as de contagiados, hospitalizados, internados em UTIs e vacinados. É o que o antropólogo Alberto del Campo, da Universidade Pablo de Olavide, em Sevilha (sul da Espanha), qualifica como “morte higiênica”, que, entre outras coisas, “esconde o terror e o sofrimento dos que morreram sozinhos”, segundo ele. Mas essas mortes têm consequências que vão além dela própria. Dois estudos diferentes, um da Universidade de Cambridge (Reino Unido) e outro da Estadual da Pensilvânia (EUA), concordam em calcular que, de cada paciente morto por covid-19, há um impacto direto sobre nove parentes próximos (avós, pais, irmãos, cônjuges e filhos), que são parte de uma crise sanitária, social e econômica mais ampla que a atribuída diretamente ao coronavírus. Segundo a conclusão do estudo norte-americano, publicado na revista PNAS, “poderiam conduzir indiretamente a uma maior mortalidade devido a causas não relacionadas com a pandemia: agravamento de condições crônicas não tratadas, abuso de álcool, autolesão, violência doméstica e outros fatores”.

Para o antropólogo sevilhano, “a higienização da morte não é uma estratégia inocente, como tampouco é inocente a forma como o poder tenta camuflar a calamidade da pandemia, como se de uma catástrofe natural se tratasse. Se for apresentada como inevitável, então não há responsáveis”.

Del Campo reuniu em seu livro Pensar la pandemia (editora Dykinson, 2021) uma dúzia de trabalhos sobre os efeitos da covid-19 além da saúde e a economia. Em um destes estudos, Alejandro González Jiménez-Peña, especialista em filosofia da morte, acrescenta uma razão antropológica adicional para esta camuflagem da morte: “Antigamente ela era silenciada, era um tabu até ontem, antes da pandemia, e poderíamos continuar dizendo que é um tabu hoje em dia, apesar da pandemia”.

quarta-feira, 21 de abril de 2021

EVOLUÇÃO HUMANA

 E se nós formos os neandertais?

As últimas descobertas genéticas reabrem o debate sobre a possibilidade de que esta espécie não tenha se extinguido, mas foi integrada aos ‘sapiens’
Menina observa uma figura que recria a fisionomia atribuída ao homem de neandertal. Fonte: Museo del Neandertal
El País, Guillermo Altares – 10 Abr 2021 

O debate sobre a capacidade cognitiva dos neandertais, a espécie humana mais próxima da nossa, desaparecida há cerca de 40.000 anos, parece cada vez mais convergente na comunidade científica: eram tão inteligentes, habilidosos, solidários e criativos quanto nós, os homo sapiens. Mas, agora, as novas descobertas genéticas abrem um debate ainda mais desafiador: e se, na realidade, eles não tiverem se extinguido? Impulsionados por novas análises de DNA fóssil, alguns especialistas apontam que os neandertais continuam por aqui porque somos nós, já que ocorreu uma integração entre as duas espécies.

Quanto mais material genético conseguem extrair e analisar da pré-história remota —algo nada simples, porque quanto mais antigo o DNA, mais difícil é obter resultados confiáveis— fica mais evidente que neandertais e humanos mantiveram cruzamentos constantes. A revista Nature revelou na quarta-feira as análises de DNA de quatro indivíduos europeus de 45 mil anos atrás: todos eles tinham ancestrais, mais ou menos diretos, neandertais. E não é a primeira vez que isso acontece: os outros dois genomas do homo sapiens daquela época analisados também revelam hibridização entre as espécies, num caso, aliás, muito recente (o seu tataravô pertencia à outra espécie).

Se os cruzamentos entre os neandertais e o homo sapiens fossem raros e bem localizados no tempo e no espaço, esses resultados seriam o equivalente científico a encontrar uma agulha no imenso palheiro da pré-história. O fato de ancestrais diretos aparecerem repetidamente indica um padrão. Não está claro quantas ondas migratórias humanas vieram da África para a Europa e Ásia, ou quando ocorreram. Nem o que aconteceu com os seres humanos —neandertais e denisovanos— que estavam lá quando nossa espécie chegou. Mas é evidente que mantiveram muito mais do que relações de amizade, como mostram os resultados obtidos pela equipe de Svante Pääbo, o geneticista sueco que revolucionou a investigação da evolução humana graças à análise de DNA antigo e que obteve o primeiro genoma completo de um neandertal.

MÁ GESTÃO DA PANDEMIA NO BRASIL

Desmatamento na Amazônia, má gestão da pandemia no Brasil e agravamento da crise de covid-19 devido à escassez nos hospitais são destaques no noticiário alemão

Jornal satiriza pedido de Ricardo Salles por US$ 1 bi do exterior: "Agora o preço da floresta amazônica está sobre a mesa". Foto AP, via DW.
Deutsche Welle (DW) [empresa pública de radiodifusão da Alemanha], 21 abr. 2021

Die Süddeutsche Zeitung - "Uma combinação perigosa de inação e irregularidades" (15/04)

O Brasil tem cerca de 3% da população mundial, mas registra 12% de todas as mortes por covid-19. As razões para isso são complexas, conforme analisou a equipe da pesquisadora Márcia Castro, da Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard. Isso inclui o fato de que o Sars-Cov-2 inicialmente circulou despercebido no Brasil por mais de um mês. Grandes desigualdades sociais e econômicas no país também afetam o setor da saúde, contribuindo para o fato de algumas regiões terem sido particularmente atingidas. Além disso, a gestão de crises é insuficiente. As cidades impuseram poucas medidas uniformes. O uso da máscara foi em parte politizado. "Uma combinação perigosa de inação e irregularidades", escrevem os autores do estudo. Não houve muita melhora até agora, afirmam os pesquisadores. E a campanha de vacinação caminha devagar.

Pierre Van Heddegem, gerente de operações da organização Médicos sem Fronteiras para a ajuda da covid-19 no Brasil, diz: "A devastação que nossas equipes viram inicialmente na Amazônia agora se tornou realidade na maior parte do Brasil." Ele também aponta para a falta de planejamento e coordenação por parte das autoridades competentes: "Os pacientes morrem sem acesso a ajuda médica, os profissionais de saúde estão exaustos e sofrem de graves tensões psicológicas e emocionais."

 

FATOS DA SEMANA

Mapa Geopolítico do Rio São Francisco

Mapa Geopolítico do Rio São Francisco
Caracterização do Velho Chico

Vocé é favorável à Transposição do Rio São Francisco?

FN Café NEWS: retrospectiva