No Brasil, 9,6% das pessoas de 15 anos ou mais não
sabem ler e escrever, contra 23,3% entre índios; proporção pode chegar a 32,3%
Povos indígenas no Brasil: tribos do parque do Xingu. Foto: Iberê Thenório/Globo Amazônia - ago 2012. |
Luciana Nunes Leal*
Embora a vida dentro das terras próprias garanta
mais identidade cultural aos indígenas, alguns indicadores sociais são piores
nessas áreas do que fora delas. O índice de analfabetismo na população de 15
anos ou mais, de 9,6% no País, sobe para 23,3% na população indígena em geral e
chega a 32,3% entre os que indígenas que vivem em terras próprias.
Entre os índios que vivem fora das terras
indígenas, a proporção cai para 14,5% de analfabetos. A explicação é a carência
de escolas nas terras indígenas, segundo o IBGE.
Enquanto entre os não-indígenas 98,4% das crianças
de até 10 anos têm registro em cartório, a proporção cai para 87,5% para as
crianças índias que vivem fora das terras próprias e para apenas 63% entre as
que vivem em terras indígenas. Nas reservas e outros territórios indígenas,
27,8% das crianaças têm apenas o Registro Administrativo de Nascimento Indígena
(RANI) e 7,4% não têm qualquer registro de nascimento.
Quase 80 mil não se
declaram, mas se consideram indígenas
Censo 2010 somou à população total aqueles que se
declaram brancos, pardous ou negros, mas se consideram índios
O Censo encontrou 78,9 mil indígenas não
declarados, mas que se somam aos 817,9 mil encontrados na pesquisa de raça,
segundo dados divulgados nesta sexta-feira, 10. Em metodologia diferente dos
demais Censos, o IBGE levou em conta não apenas a população que se declarou
indígena ao responder o quesito sobre cor ou raça, mas contou também aqueles
que se consideram indígenas, mesmo que tenham se declarado brancos, negros,
pardos ou amarelos.
A soma dos indígenas declarados e não
declarados inicia uma nova série histórica dos Censo. Em 2000, foram
contabilizados apenas os que declararam raça indígena. Eram 734,1 mil. A
população de raça indígena cresceu na década 11,4%, proporção menor do que o
total da população brasileira, que aumentou 12,2% entre 2000 e 2010.
"Para muitos indígenas, cor ou raça
é uma classificação dos brancos. Eles podem responder que são pardos, por
exemplo, mas se considerarem indígenas. Você pode perguntar qual é raça e ele
responder ‘xavante’ e não indígena ou amarelo ou branco", diz a
pesquisadora do IBGE Nilza Pereira. Esses quase 80 mil que se consideram mas
não se declaram índios responderam ser pardos, na maioria (67,5%). Pouco mais
de 22% se disseram brancos.
Não-índios. As terras indígenas somam 567,5 mil
habitantes, mas 30,6 mil (5,4%) deles não se declaram nem se consideram índios.
Segundo técnicos do IBGE, essa ocupação nem sempre é conflituosa. Em muitos
casos, os habitantes não-indígenas são pessoas que se casaram com índios e
passaram a morar nas áreas demarcadas ou pesquisadores, agentes de saúde, de
assistência social, das Forças Armadas e outros profissionais que vivem nas
terras indígenas sozinhos ou com suas famílias. Há casos que chamam atenção,
como da terra indígena Fulni-Ô, em Pernambuco (município de Águas Belas, no
sertão), em que 18,6 mil dos 23,8 mil habitantes são não-indígenas. A
localidade, no entanto, luta pela preservação de sua cultura e é uma das
raríssimas etnias nordestinas que manteve a língua original.
40% dos índios vivem fora
das terras indígenas
Brasil tem 896,9 mil índios divididos em 305 etnias
e que falam 274 línguas diferentes, segundo dados do Censo 2010
RIO - Quatro em cada dez índios brasileiros vivem
fora das terras indígenas reconhecidas pelo governo, apontam dados do Censo
2010 divulgados nesta sexta-feira. O País tem 896,9 mil índios (0,47% da população
brasileira) divididos em 305 etnias e que falam 274 línguas diferentes. O
resultado surpreendeu os técnicos do IBGE, que partiram de informações
preliminares da existência de 220 a 225 etnias e 180 línguas.
Pela primeira vez, o IBGE fez o raio x do
território indígena. Quase 380 mil índios (42,3% do total) vivem fora de terras
próprias e 517,3 mil (57,7%) ocupam as 505 terras demarcadas, equivalentes a
12,5% do território brasileiro. Foram pesquisadas as terras regularizadas até
dezembro de 2010.
Maior etnia. Também é
inédito o mapeamento das etnias e das línguas indígenas. A etnia Tikuna, que se
concentra no Amazonas, especialmente na área do Alto Solimões, com presença
também na periferia de Manaus, é a mais numerosa do País, com 46 mil
habitantes, a grande maioria (85,4%) moradora de terras indígenas. Em segundo
lugar estão os Guarani Kaiowá, de Mato Grosso do Sul, com 43,4 mil habitantes,
sendo 81,2% instalados em terras próprias. Os técnicos do IBGE encontraram 250
etnias diferentes entre os indígenas que vivem em terras próprias e 300 entre
os que estão fora.
A análise das 505 terras indígenas regularizadas
mostra que seis delas têm população de mais de 10 mil índios. A terra mais
populosa é a Yanomami, localizada nos Estados de Amazonas e Roraima, e que
reúne 25,7 mil indígenas. Em segundo vem Raposa Serra do Sol, em Roraima, com
17 mil índios
O Censo 2010 mostra que apenas 37,4% da população
indígena fala alguma língua nativa. Entre os que vivem dentro das terras
indígenas, a proporção sobe para 57,3%, mas na população que vive fora desses
territórios apenas 12,7% dominam uma língua indígena. Existem ainda 16,3% de
indígenas que não falam português. Nas terras indígenas, 27,9% dos moradores
não falam português e fora das terras, apenas 2%. Pacheco estranhou o baixo
porcentual de indígenas que falam línguas nativas.
*Publicação de O Estado de S.Paulo – 10 de agosto
de 2012 | 10h 00
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