Ministério
Público ajuíza ação e oferece denúncia contra o prefeito de
Montes Claros e mais 10
assessores e servidores envolvidos em improbidade administrativa
As irregularidades começaram em 2009, na licitação
para fornecimento da merenda escolar
MONTES CLAROS - O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), por
meio de quatro promotores da Promotoria de Defesa do Patrimônio Público da
Comarca e da Coordenadoria das Promotorias de Justiça do Patrimônio Público do
Norte de Minas, ajuizou nesta terça-feira, 21, ação de improbidade e ofereceu
denúncia criminal contra alguns investigados na operação "Laranja com
Pequi", em Montes Claros.
A operação "Laranja com Pequi",
desencadeada em diversos municípios mineiros no dia 26 de junho deste ano,
cumpriu mandados de busca e apreensão e de prisão provisória, com a finalidade
de subsidiar as investigações já em andamento sobre fraudes em licitações
ligadas ao fornecimento de alimentação em presídios e órgãos públicos e de
merenda em escolas.
Fachada principal da Prefeitura de Montes Claros, no centro da cidade. |
Segundo narrado na ação, os atos de improbidade
começaram em 2009, com a simulação de que a Isoengenharia teria sido contratada
e de que ela teria executado serviço de diagnóstico da merenda escolar em
Montes Claros.
Tudo isso forjado para justificar a abertura de
licitação, também em 2009, com direcionamento e superfaturamento indevidos e
com a empresa Stillus declarada vencedora do processo.
A empresa então passou a receber pelo número de
alunos matriculados nas escolas, sem abater o número de alunos faltosos e o
número dos que rejeitavam a merenda, o que, segundo cálculos realizados,
acarretou o pagamento indevido de cerca de R$ 5,2 milhões à empresa Stillus,
por merendas que não foram servidas.
Posteriormente, já se sabendo investigada pelo
Ministério Público devido ao surpreendente aumento de gastos anuais com merenda
escolar (de cerca de R$ 5,5 milhões em 2008 para cerca de R$ 13 milhões em
setembro de 2009), a Prefeitura de Montes Claros viu-se obrigada a reduzir os
gastos com merenda, e a modificar a estratégia de favorecimento à empresa
Stillus.
Assim, em abril de 2011, foi vendido à empresa um
imóvel da municipalidade, por cerca de R$ 1 milhão a menos que o seu valor de
mercado, com dispensa de licitação, antes mesmo de encerrada licitação anterior
aberta para tais fins (da qual a Stillus nem sequer participava) e após o
Município inabilitar indevidamente outra interessada no terreno que havia
oferecido pelo mesmo valor bem maior que o pago pela Stillus.
Por fim, os promotores de Justiça que assinam a
ação destacam que, no final de 2011 e início de 2012, a Prefeitura de Montes
Claros firmou dois aditivos ao contrato da merenda aumentando o valor em cerca
de 60%, sem nova licitação e mesmo contra a expressa recomendação de advogados
do Município, violando o limite máximo (25%) de aditamentos desta natureza
previsto na Lei de Licitações.
Todas as vantagens ilegais concedidas à empresa
Stillus teriam sido recompensadas por propinas ou benefícios entregues pela
empresa aos agentes públicos envolvidos, como repasse mensal de dinheiro a
alguns, conforme indícios em contabilidade pessoal do prefeito, apreendida com
seu assessor especial; passando por oferecimento de emprego a parentes de
agentes públicos coniventes com as fraudes, além de doações a time de vôlei
usado para alavancar a candidatura do filho do prefeito a deputado estadual -
fato já objeto de outra ação de improbidade que resultou no bloqueio de bens de
ambos - e objeto também de ação de investigação judicial em tramitação no TSE.
Denúncia - A
denúncia criminal, apresentada contra o ex-secretário de Serviços Urbanos e o
vereador, embora não tenha relação direta com as fraudes na merenda, baseia-se
em telefonema interceptado durante as investigações.
A denúncia acusa de corrupção passiva o antigo
secretário de Serviços Urbanos de Montes Claros e um dos vereadores do
Município, flagrados em telefonema solicitando dinheiro e doação de combustível
a empresário do ramo imobiliário, a pretexto de terem influenciado na edição de
decreto de isenção tributária em favor da empresa e de participação direta na
alteração na legislação que alterou o zoneamento urbano municipal, beneficiando
a empresa. O ex-secretário também foi denunciado por tráfico de influência.
Durante as investigações, que não tinham relação direta
com as fraudes na merenda escolar, também foram encontrados indícios de que
dirigentes da Funadem estariam desviando recursos, alguns de origem pública,
para custear gastos e empreendimentos particulares, o que será mais bem apurado
por meio de auditorias na Fundação - a qual administrava o time de vôlei que
recebeu doação da Stillus de pelo menos R$ 74 mil.
Finalizando, os promotores de Justiça esclarecem
que as investigações e ações judiciais referentes à merenda escolar em Montes
Claros jamais impediram a Prefeitura de preparar-se adequadamente para garantir
a volta às aulas sem atrasos ou sobressaltos neste segundo semestre.
Se atrasos e sobressaltos ocorreram, foi por falha
única e exclusiva da Prefeitura, pois esta já sabia, desde fevereiro, muito
antes da deflagração (26/06/2012) da operação Laranja com Pequi, que o contrato
então vigente com a empresa Stillus findaria em 30 de junho.
Portanto, a Prefeitura deveria ter se preparado
desde fevereiro para abrir uma nova licitação e contratar a empresa vencedora,
sem direcionamentos ou superfaturamentos, ou preparar-se para reassumir
diretamente a prestação do serviço. Se não o fez, foi por negligência
administrativa ou até premeditada, mas frustrada intenção de prosseguir com
favorecimentos ilegais para a empresa Stillus, conduta com a qual,
naturalmente, o Ministério Público não iria consentir
Fonte: Promotoria de Defesa do Patrimônio Público da Comarca de Montes
Claros e Coordenadoria das Promotorias de Defesa do Patrimônio Público
do Norte de Minas)
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