Em lugar
do verde, a Prefeitura de Manga pode transformar o Parque Uirapuru em edificações de concreto para prática de ‘Skate’
Reserva ambiental do Parque Uirapuru, em pleno centro de Manga (MG), pode virar concreto de edificações para práticas poliesportivas. Foto: Site Prefeitura de Manga jun. 2014. |
MANGA (MG) - O que prometia ser uma
montanha de boas ideias da administração do petista Anastácio Guedes em Manga,
está prestes a parir um rato. A Prefeitura de Manga realiza, por esses dias,
uma enquete com os jovens [por
que só eles?] para saber qual será a melhor forma para uso do
Parque Uirapuru, espaço situado em área nobre da cidade, ideal para se instalar
uma área verde, que tanta falta faz à população local.
O surto democrático [e porque não dizer, demagógico]
do prefeito parte de uma premissa errada, pois todas as alternativas sugeridas
implicam em cobrir de concreto o terreno do Parque, com as opções em análise de
construção de quadra poliesportiva, espaço cultural e as tais pistas de Cooper,
ciclismo e skate, além de uma academia ao ar livre. Uma pena. O Parque Uirapuru
foi pensado pelo então prefeito Humberto Salles, durante seu primeiro mandato
(1989/1992) e tem, desde sempre, vocação para ser invejável espaço para o
verde, em saudável contraste com a aridez do sertão e a concretude de cimento e
asfalto que tomou conta do seu entorno.
Por questão de justiça e apreço
histórico, mister destacar que Humberto Salles foi o único mandatário a pensar
a cidade em plano estratégico ao longo dos últimos 40 anos. Durante aquele
primeiro mandato, ele criou as bases para obras importantes para a pequena
urbe, casos do estádio municipal, a rodoviária e o Parque Uirapuru – esses dois
últimos não concluídos pelo então prefeito que, se soube pensar a cidade para o
futuro, não levou em conta que isso exigiria recursos dos quais o município não
dispunha. O fato de ter sido cassado nas duas vezes em que conseguiu chegar ao
cargo não tira o mérito que ele indubitavelmente teve de pensar a cidade um
degrau acima da mediocridade de sempre.
O tempo passou e o Parque Uirapuru virou
esse elefante branco que todos conhecemos e para o qual o prefeito Anastácio,
mais de 20 anos depois, avalia ter a solução. Infelizmente meia-boca, a julgar
o que se propõe. Como assim, pode perguntar o leitor mais atento. Para início
de conversa, o atual prefeito chegou a anunciar uma grande obra para
urbanização do parque e agora vem com essa conversa mole de pista disso e pista
daquilo.
Prestes a chegar ao seu primeiro
centenário, Manga estar a merecer um pouco mais de criatividade e visão de
futuro dos seus governantes. Há quase três anos, durante a gestão do
ex-prefeito Quinquinha Oliveira (PTdoB), a lagoa do Parque Uirapuru passou por
etapa de limpeza até então inédita, quando foram retiradas de lixo do seu
leito. Anastácio também fez a sua limpeza no local, mas parece faltar a ambos
projeto que desse melhor destino ao local.
Cartão-postal
O Parque Uirapuru é uma grande
possibilidade para a cidade criar um belo cartão-postal e, ao mesmo tempo, uma
espécie de ’pulmão’ verde em local estratégico que, respeitadas as devidas
proporções, seria algo nos moldes do Central Park (Nova Iorque), do Parque
Ibirapuera (São Paulo), Parque da Cidade (aqui em Brasília), além dos parques
dos Buritis e Vaca Brava (Goiânia), só para ficar em alguns de tantos outros
exemplos possíveis. É óbvio que, em um segundo momento, esse hipotético parque
vai demandar a óbvia da construção da pista de Cooper ou outro equipamento
público na mesma linha. Mas isso seria depois. Antes disso, é necessário
definir como será esse futuro Parque Uirapuru, de feliz escolha até mesmo no
nome do pássaro.
A boa notícia é que a urbanização do
Parque exigiria investimento relativamente baixo. Em um primeiro momento, seria
necessário reinstalar o alambrado que atualmente faz do local espaço desejado
para pastagens de animais. No mais, o projeto de arborização que vai definir as
espécies vegetais que melhor resultado acrescentaria ao lago natural que será,
se um dia sair do papel, o ponto alto do futuro Parque.
No mundo das coisas reais, a Prefeitura
de Manga trata a urbanização do Parque Uirapuru com certa dose de improviso,
característica que ameaça ser a marca registrada do seu governo. Sugeri, há
algum tempo, em texto publicado aqui neste espaço, que projeto da envergadura
do Parque Uirapuru seria digno de concurso voltado aos especialistas em
urbanismo para mostrar qual o melhor caminho para fazer daquele espaço algo de
que os manguenses possam se orgulhar pelo próximo século. Pelo menos.
Penso que Anastácio não pode repetir o
fiasco que foi a frustrada tentativa de urbanização do Parque Uirapuru levada
adiante durante o primeiro mandato do ex-prefeito e seu aliado Humberto Salles,
há 23 anos. Muito dinheiro público foi jogado fora naquela ocasião, em
investimentos que ficaram no meio do caminho. Salles, no entanto, foi feliz ao
pensar no parque para embelezar o entorno da lagoa.
Uma das propostas de Anastácio para
preencher o espaço do parque seria a construção de uma praça. Não é uma boa
ideia. Muito embora Manga só conte com três praças em quase 100 anos de
existência, o Parque Uirapuru fica praticamente ao lado de duas delas. A cidade
precisa de muitas, muitas praças, mas não exatamente no centro.
O
que há de concreto [sem
trocadilhos], é que, sob verniz democrático, o prefeito Anastácio
se prepara para fazer mau uso do melhor espaço disponível em Manga, pronto para
que qualquer prefeito que enxergue mais longe deixe obra de peso e marca
pessoal da sua passagem pelo cargo. Coisa que não se resolve com enquetes via
internet, ainda mais direcionada para parte da população em detrimento do todo.
Nunca é demais lembrar que o Parque Uirapuru já cedeu espaço para um clube e
quadra poliesportiva, que se transformaram em sucatas urbanas de pouca ou nenhuma
lembrança. Para infortúnio dos pequenos municípios, não são só recursos que
faltam para tornar a vida das pessoas melhores. Tudo indica que também faltem
boas ideias.
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