Votações da semana são canceladas após divergência sobre
decreto dos conselhos populares
O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves (PMDB), criticou a obstrução da oposição no Legislativo. Foto: JBatista/Câmara dos Deputados - jun. 2014. |
BRASÍLIA (DF) – PSDB, DEM, PPS, SD e PSD
declararam obstrução a todas as votações até que seja analisado o projeto (PDC 1491/14)
que anula os efeitos do decreto presidencial (8.243/14) sobre a Política
Nacional de Participação Social. A manobra inviabilizou as votações do Plenário
da Câmara dos Deputados durante a semana. Nesta quarta-feira (11), às 14 horas,
será realizada sessão apenas para debates.
A oposição e o PSD criticam o decreto
sobre política social que, na avaliação dos partidos, invade competências do
Congresso Nacional. O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, e os
líderes da base do governo tentaram, sem sucesso, mudar a opinião dos
oposicionistas.
Alves ressaltou que está negociando a
transformação do decreto em um projeto de lei, a ser enviado pelo Executivo à
Câmara dos Deputados. Ele deu um prazo até esta quarta-feira para o avanço das
negociações. “O meu estilo é, antes da radicalização, tentar uma negociação
política republicana”, disse.
O presidente da Câmara criticou a obstrução que, segundo ele, vai passar a impressão
de que a Câmara não trabalha. “Com a obstrução, não vamos trabalhar hoje
[terça-feira] nem amanhã, e já há desgaste demais nesta Casa”, afirmou.
Direito de resposta
O Plenário votaria nesta terça-feira o
projeto que regulamenta o direito de resposta nos meios de comunicação (PL 6446/13),
mas as manobras da oposição derrubaram a votação.
A aprovação do projeto seria a resposta
legislativa à reportagem divulgada no último domingo pelo programa Fantástico,
da Rede Globo, baseada em livro do juiz Marlon Reis que narra práticas de um
deputado corrupto fictício. A reportagem afirma que parlamentares desviam
dinheiro das emendas parlamentares para custear as campanhas políticas.
O líder do PMDB, deputado Eduardo Cunha
(RJ), lamentou a obstrução. “Não podemos paralisar esta Casa e impedir a
votação de uma matéria que não tem oposição”, criticou.
Conselhos populares
O decreto presidencial que cria a
Política Nacional de Participação Social institui conselhos populares para
assessorar a formulação de políticas públicas pelo governo. Os integrantes dos
conselhos serão indicados pelo governo federal.
Para Mendonça Filho, o decreto contraria
a Constituição e as prerrogativas do Congresso. Segundo ele, os conselhos
populares são um “eufemismo para o aparelhamento ideológico, por meio de
movimentos sociais, filiados ao PT e sindicalistas ligados ao governo”.
O líder do DEM também disse que a oposição
já tinha anunciado a pretensão de paralisar a Casa até a derrubada do decreto,
pela presidente da República ou pelo Congresso. Ele declarou ainda que a
posição política marcada pela obstrução faz parte do trabalho do Parlamento.
"Esta Casa não trabalha só quando
vota, mas quando se posiciona politicamente, colocando de forma clara que houve
invasão do nosso espaço institucional. Anunciamos na semana passada que, se não
houvesse recuo, iríamos estabelecer obstrução. Não foi surpresa para ninguém”,
explicou.
O deputado Nilson Leitão (PSDB-MT) chegou
a dizer que a falta de votações é menos constrangedora do que o fato de o
Executivo invadir uma competência dos parlamentares. “Não é este momento que
vai desmoralizar esta Casa; o que deixa esta Casa desmoralizada são atitudes
como essa da presidente Dilma. Esse decreto é um tapa na cara do Congresso”,
criticou.
Debate eleitoral
Líderes governistas lamentaram a
obstrução e acusaram a oposição de se aproveitar do decreto para antecipar o
debate eleitoral. O líder do governo, deputado Henrique Fontana (PT-RS), disse
que a regulamentação da participação social, como determina o decreto,
fortalece as estruturas de representação da sociedade e vai melhorar o processo
de formulação e implementação de políticas de governo.
“Toda ampliação possível da democracia
representativa é louvável. Essa obstrução é inexplicável, nós queremos votar
aqui um projeto que dá direito de resposta a quem não tem voz”, disse Fontana.
Já o líder do PT, deputado Vicentinho
(SP), rebateu os argumentos de que o decreto é inconstitucional, já que a
Constituição permite que a presidente edite decretos que tratem da organização
da administração pública.
Para o líder do PT, as críticas da
oposição fazem parte de uma estratégia eleitoral. “Desafio os deputados a
debater essa questão de maneira sincera. Não é contra um decreto, é a velha e
politiqueira selvageria eleitoral”, afirmou Vicentinho.
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