‘Pampulha’
integra hoje um seleto grupo reconhecido pela Unesco como ‘Patrimônio da Humanidade’
Igreja de São Francisco, símbolo maior do conjunto projetado por Oscar Niemeyer, encomendado por JK. Foto: FAFICH/UFMG. |
TURQUIA – O Conjunto Moderno da Pampulha ganhou o título de Patrimônio da
Humanidade, na madrugada deste domingo (17), durante a 40ª Sessão do Comitê do
Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e
Cultura (Unesco), em Istambul (Turquia).
A reunião da 40ª
Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial, para discutir a candidatura da
Pampulha, seria realizada nesse sábado, mas, devido à tentativa de golpe de
estado na Turquia, teve que ser suspensa, com todos os representantes dos
países visitantes, inclusive do Brasil, orientados a não sair dos hotéis em que
estavam. De BH, estão em Istambul a diretora do Conjunto Moderno da Pampulha da
Fundação Municipal de Cultura (FMC), arquiteta e urbanista Luciana Feres, e a
superintendente em Minas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (Iphan), Célia Corsino.
Panorama do Conjunto Arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte (MG). Foto: Wikipedia/André B. Lopes/jul. 2016 |
A partir de
agora, a Pampulha integra um seleto grupo reconhecido pela Unesco, do qual
fazem parte as Muralhas da China, as Pirâmides do Egito, o Palácio Taj Mahal,
na Índia e os profetas esculpidos por Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho
(1737-1814), entre mais de mil bens mundo afora. Em Minas, será o quarto
conquistado, embora o primeiro modernista: já estão na lista os centros
históricos de Ouro Preto, na Região Central, e Diamantina, no Vale do
Jequitinhonha, e o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, também
na Região Central.
70 anos do “Conjunto Arquitetônico da Pampulha”
O Museu de Arte da Pampulha (MAP), antigo Cassino. Foto: FAFICH/UFMG. |
Com
Comunicação Social FAFICH/UFMG Reportagem de: Camila Braga, Pedro Hosken e
Raphael Amador
BELO HORIZONTE (MG) – Situada
na região Norte de Belo Horizonte, a Pampulha surge como a representante
legítima da modernidade arquitetônica dos anos 40. O gênio criador de Oscar
Niemeyer marcou profundamente o espaço que se estendia para além dos limites de
uma cidade projetada e circunscrita ao anel da Avenida do Contorno.
O conjunto arquitetônico da Pampulha,
projetado por Niemeyer entre 1942 e 1943, surge de uma encomenda do então
prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, para a construção de uma
série de edifícios em torno do largo artificial da Pampulha.
JK idealizava um bairro
residencial de luxo e previa para a obra, a construção de cinco edifícios: um
cassino, um clube de elite, um salão de danças popular, uma igreja e um hotel,
que não foi realizado. Ao final do projeto, o prefeito acrescentou uma “residência
de fim-de-semana” para ele e sua família.
Para a execução da obra, Niemeyer contou com
a colaboração do engenheiro de estruturas, e também poeta, Joaquim Cardoso e do
paisagista Burle Marx, responsável pelos belos jardins.
A obra foi projetada pelo arquiteto como um
conjunto, mas cada elemento é visto como uma forma independente e autônoma.
Além disso, os edifícios são pensados em estreita relação com o entorno, que
fornece a moldura natural e a inspiração para os desenhos e plantas.
O centro do projeto, de acordo com a
encomenda, deveria ser o cassino. Não é por acaso que ele é o primeiro edifício
a ser construído. O primeiro cassino da cidade passou a atrair jogadores de
todo o Brasil, transformando a vida noturna de Belo Horizonte.
O antigo Cassino da Pampulha e, hoje, Museu - MAP. |
Os tempos de glória do Cassino da Pampulha
duraram pouco. Em 30 de abril de 1946, durante o governo do General Gaspar
Dutra, o jogo foi proibido em todo o Brasil. Onze anos mais tarde, o espaço que
antes dava lugar a jogos, apostas e shows internacionais, passou a funcionar
como museu.
Conhecido hoje, como Museu de Arte da
Pampulha, o mesmo enfoca tendências artísticas variadas em mostras, pesquisa e
conceituação, mantendo em seu acervo, obras da arte contemporânea brasileira.
Desde que os portões do
novo clube foram abertos, a administração estava sob a responsabilidade do
município. No entanto, na tentativa de sanar problemas de abastecimento de água
na capital mineira, a Prefeitura tomou a decisão de vender alguns imóveis,
entre eles o Iate Tênis Clube, para arrecadar dinheiro e financiar as obras.
Se no Cassino e no Iate Clube a curva é
utilizada como contraponto às linhas retas, na Casa de Bailes, a curva impera.
A marquise sinuosa de concreto, cujas linhas se inspiram diretamente no
contorno da ilha, torna-se a partir desse momento, um motivo central da
arquitetura de Niemeyer.
Inaugurada em 1943, acabou desativada em
1948, após o fechamento do Cassino em 1946. A casa de Baile se localiza em uma
ilhota artificial, acessada por uma ponte de onze metros. Foi reaberta em dezembro
de 2002, transformando−se em Centro de Referência de Urbanismo, Arquitetura e
do Design.
A Casa recebe exposições
temporárias e tem a proposta de organizar, documentar e valorizar tanto os
espaços construídos e simbólicos da cidade quanto objetos que se tornaram
referência na vida cotidiana de nossa sociedade.
Finalizada em 1943, a Igreja de São Francisco
de Assis é considerada a obra-prima do conjunto. Foi o último prédio a ser
inaugurado do Conjunto Arquitetônico da Pampulha. Nesse projeto, Niemeyer fez
novos experimentos em concreto armado, criando uma abóboda parabólica feita de
tal material.
A Casa do Baile, reaberta em 2002 para receber exposições |
As linhas curvas da
igreja seduziram artistas e arquitetos, mas escandalizaram o acanhado ambiente
cultural da cidade,de tal forma, que as autoridades eclesiásticas não
permitiram, por muitos anos, a consagração da capela. Além da forma inusitada,
um painel de Portinari onde se vê um cachorro representando um lobo junto à São
Francisco de Assis foi outro ponto que incomodou bastante os membros
eclesiásticos, fazendo com que a igreja permanecesse durante catorze anos
proibida ao culto.
A Igreja da Pampulha é tombada pelo Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), pelo Instituto Estadual
do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais − Iepha/MG (em 1984) e pela
Gerência do Patrimônio Municipal.
Diversas críticas foram feitas ao projeto de
Niemeyer, sobretudo à falta de um plano urbanístico para o novo bairro no qual
as obras têm lugar e à falta de função social da obra. Mas após setenta anos de
sua construção, é inegável que o Conjunto da Pampulha tornou-se um marco da
arquitetura moderna no Brasil e no mundo, capaz de atrair milhares de turistas
que vêem as curvas de Niemeyer como ícones da modernidade.
Em tempo, a prefeitura de Belo
Horizonte tem realizado obras de revitalização de toda a área do Conjunto e
espera obter da Unesco até 2015, o título de Patrimônio da Humanidade,
reivindicado desde 1996.
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