História e educação
É sintomático que universidades sejam um dos principais alvos de Bolsonaro
É sintomático que universidades sejam um dos principais alvos de Bolsonaro
Por
Fernando Haddad*
CORTES NA
EDUCAÇÃO: estudantes e professores se unem em ato contra medidas do governo
Bolsonaro na área da educação. Foto: Rodolfo Buhrer – 10 maio de 2019/Reuters.
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Há muita
polêmica na literatura sobre por que as nações se diferenciam tanto em seu
desenvolvimento econômico. As causas apontadas são as mais variadas: geografia,
religião, instituições, colonialismo etc.
O
subdesenvolvimento brasileiro, por exemplo, é associado ao nosso peculiar
processo de colonização que nos legou a escravidão, o patrimonialismo e a
inquisição, dos quais a abolição, a independência e a república não nos
permitiram livrar-nos inteiramente.
Existem
alguns fatores, entretanto, que parte dos estudiosos considera pressupostos
comuns a muitas das experiências nacionais bem-sucedidas de superação do
atraso.
Democratização
do acesso à terra, ao crédito e à educação são alguns exemplos comumente
citados, e não é difícil perceber que, ao longo da nossa história, esses
fatores têm sido restringidos a uma ínfima parcela da sociedade.
A rigor, a
revolução democrática deveria ter sido feita por ocasião da libertação dos
negros, mas nem terra nem crédito nem educação lhes foram assegurados.
Tratou-se de soltura, não de libertação.
Poucas
décadas atrás, os negros chegavam aos bancos escolares. Poucos anos atrás, aos
bancos universitários. É sintomático que as universidades sejam um dos
principais alvos de Bolsonaro neste início de “governo”.
O século 20
foi o século da educação em todo canto, menos aqui. Nenhum governo, neste
período, seja progressista seja conservador, priorizou a educação. O tema não
era sequer importante para os economistas, de qualquer matiz.
No início
deste século 21, graças a um sem-diploma, tivemos a fortuna de, pela primeira
vez, superarmos a média da OCDE de investimento público em educação como
proporção do PIB.
Os que se
calaram por cem anos, agora, exigem uma resposta imediata do sistema
educacional, como se não tivéssemos acumulado uma dívida descomunal. Como se
não estivéssemos, neste momento, educando os filhos de uma geração de
semianalfabetos.
Querem, à
vista, o que a inteligência, sabiamente, comprou a prazo longo e seguro.
Desconsideram o tempo perdido transcorrido e se fixam no patamar de
investimento só agora atingido.
Corte de recursos
e guerra ideológica. Essa é a agenda do governo. O problema da educação
brasileira não foi o subinvestimento crônico, mas o pensamento crítico. Não é a
extrema desigualdade econômica, mas a doutrinação. Não é a indigência
intelectual das classes dirigentes, mas Paulo Freire.
A comunidade
educacional não ficará indiferente ao desmonte de estruturas que finalmente lhe
garantem as oportunidades historicamente sonegadas a tantos de nós.
*Fernando Haddad é professor
universitário, ex-ministro da Educação (governos Lula e Dilma) e ex-prefeito de
São Paulo.
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