Desmatamento na Amazônia, má gestão da pandemia no Brasil e agravamento da crise de covid-19 devido à escassez nos hospitais são destaques no noticiário alemão
Die Süddeutsche Zeitung - "Uma combinação
perigosa de inação e irregularidades" (15/04)
O
Brasil tem cerca de 3% da população mundial, mas registra 12% de todas as
mortes por covid-19. As razões para isso são complexas, conforme analisou a
equipe da pesquisadora Márcia Castro, da Escola de Saúde Pública da
Universidade de Harvard. Isso inclui o fato de que o Sars-Cov-2 inicialmente
circulou despercebido no Brasil por mais de um mês. Grandes desigualdades
sociais e econômicas no país também afetam o setor da saúde, contribuindo para
o fato de algumas regiões terem sido particularmente atingidas. Além disso, a
gestão de crises é insuficiente. As cidades impuseram poucas medidas uniformes.
O uso da máscara foi em parte politizado. "Uma combinação perigosa de
inação e irregularidades", escrevem os autores do estudo. Não houve muita
melhora até agora, afirmam os pesquisadores. E a campanha de vacinação
caminha devagar.
Pierre
Van Heddegem, gerente de operações da organização Médicos sem Fronteiras para a
ajuda da covid-19 no Brasil, diz: "A devastação que nossas equipes viram
inicialmente na Amazônia agora se tornou realidade na maior parte do
Brasil." Ele também aponta para a falta de planejamento e coordenação por
parte das autoridades competentes: "Os pacientes morrem sem acesso a ajuda
médica, os profissionais de saúde estão exaustos e sofrem de graves tensões
psicológicas e emocionais."
Westdeutsche
Allgemeine Zeitung - Pacientes de covid intubados ainda conscientes (18/04)
Sobretudo
devido à mutação [P1 do coronavírus], o Brasil registra o maior número de
vítimas no mundo depois dos EUA, com mais de 365 mil mortes por covid-19. Dias
com até 4 mil vítimas não são mais incomuns. Em 8 de abril, o número de mortes
diárias atingiu o pico de 4.249, o maior de todos os tempos. Desde o início da
pandemia, o número de casos de infecção é superior a 13,75 milhões.
Médicos
e governos regionais estão lutando contra a escassez em todo o país. Em meados
de março, 18 dos 26 estados relataram que os anestésicos para as intubações
estavam no fim e que o suprimento de oxigênio estava acabando em mais de 100
cidades. A Frente Nacional de Prefeitos, associação de mandatários de mais de
400 cidades, apelou ao governo federal para que abastecesse as clínicas com
sedativos e oxigênio – caso contrário, os fornecimentos se esgotariam em 14
dias e os doentes ameaçavam sufocar.
O
canal de TV Globo noticiou casos de um hospital do Rio de Janeiro em que
pacientes foram amarrados ao leito por necessidade de intubação sem
sedativo.
Frankfurter
Allgemeine Zeitung: Regateando a Floresta Amazônica (20/04)
Agora
o preço da Floresta Amazônica brasileira foi colocado sobre a mesa: se os
países estrangeiros nos derem um bilhão de dólares, disse em uma entrevista
recente o ministro do Meio Ambiente do Brasil, Ricardo Salles, ele reduzirá o
desmatamento em 40% em um ano. Um terço do dinheiro será usado para financiar o
combate direto ao desmatamento, enquanto o restante será direcionado para o
desenvolvimento econômico a fim de criar alternativas para a população. É com
esse pedido que o Brasil participará nesta semana da cúpula do clima, para a
qual o presidente americano, Joe Biden, convidou 40 chefes de Estado. O governo
dos EUA considera a cúpula um "marco" nos preparativos para a
conferência do clima em novembro.
O
Brasil desempenha um papel importante [no tema] por possuir um dos mais
importantes sistemas de captura de carbono com a Floresta Amazônica. Antes uma
das forças motrizes do debate global sobre o clima, o país se tornou
"vilão". Mineração ilegal, desmatamento e grilagem de terras
aumentaram sob o presidente Jair Bolsonaro. Ao mesmo tempo, os órgãos
ambientais e de controle foram enfraquecidos. O desmatamento anual, que é
registrado entre agosto e julho do ano seguinte, aumentou segundo dados de
satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe): em 34,4% entre
2018 e 2019 e mais 9,5% entre 2019 e 2020, quando englobava mais de 11 mil
quilômetros quadrados, o mais alto nível desde 2008. Quase um quinto disso tudo
ocorreu em áreas protegidas e reservas indígenas. Apesar de uma operação
militar que durou vários meses na Amazônia, não há sinais de reversão de
tendência.
Ativistas e acadêmicos alertam para um possível acordo entre Washington e Brasília, ressaltando que o Brasil deve primeiro mostrar resultados antes de ser compensado. Alguns governos na Europa também assumem essa posição. Além disso, os pagamentos do exterior não devem ser disponibilizados apenas ao governo, mas sim aos governos regionais dos estados. Cerca de 200 organizações iniciaram uma campanha na qual abordam Biden diretamente e alertam sobre um acordo com Bolsonaro sob o slogan "Ou a Amazônia ou Bolsonaro". Se Washington concordar com um acordo que não inclua o diálogo com as autoridades locais e os povos indígenas, isso vai favorecer a "agenda antiambiental" de Bolsonaro, criticam as organizações. Algumas celebridades, como o ator americano Leonardo DiCaprio, aderiram ao movimento.'
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