Gestão da Informação e Inteligência Governamental |
Com os recentes vazamentos de informações sigilosas e oficiais da maioria dos governos mundiais, causados pelo Wikileaks – site de vazamento de documentos secretos, a gestão da informação, realizada pelos ‘órgãos de inteligência governamental’, vem sendo colocada em xeque em relação ao pleno controle sobre as informações estratégicas de cada país.
A constatação desse problema faz com que lideranças políticas e governantes no Brasil subestimem o teor da divulgação das informações acerca da inteligência, das fontes e riqueza de recursos de uma determinada região, cidades, estados e nações no Planeta Terra. Esta é a avaliação do pesquisador Vladimir Brito, que integra o Centro de Estudos Estratégicos e de Inteligência Governamental (Ceeig), Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Recentemente o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou já saber ou considerar irrelevante tudo que havia lido no Wikileaks. Na opinião do pesquisador da UFMG, houve uma tentativa de pôr panos quentes no assunto. “Não é tão irrelevante assim, tanto que os Estados Unidos estão traçando estratégias para minimizar essas ações”, comenta Brito. Ele afirma que, embora o ministro pudesse realmente ter conhecimento de parte do conteúdo divulgado, o mérito do site foi ter tirado algumas questões das entrelinhas diplomáticas. “Uma coisa é saber, outra evidenciar”, reflete o pesquisador.
Para Brito, o Wikileaks vem se mostrando progressivamente bom para o Brasil, por revelar como funciona o processo de formulação de políticas públicas nos Estados Unidos e como aquele país se relaciona com o nosso. “Para nações emergentes, que não têm um sistema de inteligência bem estruturado, a iniciativa é interessante porque atinge o principal ator global, que tem uma política intervencionista forte no resto do mundo”, analisa.
Segundo o pesquisador, o principal benefício do site seria trazer à tona questões até então mitificadas, como a espionagem internacional. “Tem gente que acha que isso é mito. Então para nosso país isso é bom, para entender que esses atores são extremamente ofensivos”, afirma. Outro aspecto, diz ele, é a possibilidade que se abre para a compreensão sobre como os Estados Unidos pensam o mundo. “Estamos tendo um panorama de qual é a visão desse Estado em vários aspectos”, completa o especialista em informação e inteligência governamental da UFMG.
Mestrando em Ciência da Informação, pela UFMG, Brito pesquisa como os Estados Unidos, por meio de seus serviços de inteligência ou serviços secretos, configuram o estado informacional mais sofisticado do planeta, tornando essa superioridade no terreno das informações o alicerce de sua atual hegemonia global.
Até agora, argumenta o especialista em informação e inteligência, ‘os efeitos sobre o Brasil foram pequenos, pois o que vazou sobre o país foi bastante pontual’. Brito aponta, inclusive, que o nível de informação do Wikileaks como um todo é superficial, pois os documentos não entram no âmago do poderio estadunidense, restringindo-se à discussão das embaixadas. Mas o pesquisador alerta que há um anúncio de três mil novos documentos a serem divulgados sobre o Brasil. “Não sabemos o que vem por aí”, diz.
O principal problema do sistema de inteligência brasileiro, na visão do pesquisador, é a falta de presença externa. “Nossa capacidade de coletar informações sobre os outros se restringe à vida diplomática”, constata. Tal fato, que o pesquisador considera como herança da Guerra Fria, traz outro problema: a incapacidade de detectar espionagem sobre o país. “Nesse sentido, o Wikileaks é positivo para dar uma sacudida, mostrar que essas coisas existem e estão aí”, afirma Brito.
No Brasil, como principal órgão de inteligência governamental e gestão da informação na Administração Pública brasileira, a ABIN – Agência Brasileira de Inteligência, que tem como missão ‘coordenar as ações do Sistema Brasileiro de Inteligência; produzir e salvaguardar conhecimentos sensíveis’. Além disso, A ABIN define em seu objetivo estratégico: “desenvolver atividades de Inteligência voltadas para a defesa do Estado Democrático de Direito, da sociedade, da eficácia do poder público e da soberania nacional”.
Quem é a Wikileaks?
WikiLeaks é uma organização transnacional sem fins lucrativos, sediada na Suécia, que publica, em seu site, posts de fontes anônimas, documentos, fotos e informações confidenciais, vazadas de governos ou empresas, sobre assuntos sensíveis.
O site, administrado por The Sunshine Press, foi lançado em dezembro de 2006 e, em meados de novembro de 2007, já continha 1,2 milhões de documentos. No site, a organização informa ter sido fundada por dissidentes chineses, jornalistas, matemáticos e tecnólogos dos Estados Unidos, Taiwan, Europa, Austrália e África do Sul. Seu diretor é o australiano Julian Assange, jornalista e ciberativista.
FN Café News e Portal de Notícias UFMG/ Fernanda Cristo
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