sábado, 8 de junho de 2024

A INTENTONA BOLSONARISTA: SEUS CRIMES DE TENTATIVA DE GOLPE DE ESTADO, FUGA E O PAPEL DA GRANDE MÍDIA NO BRASIL

A INTENTONA BOLSONARISTA, SEUS CRIMES DE TENTATIVA DE GOLPE DE ESTADO, FUGA E O PAPEL DA GRANDE MÍDIA NO BRASIL

Por França Neto, J*, 08jun.2024  

Foto: Em 08jan.2023, Bolsonaristas radicais criminosos invadem o STF, Congresso Nacional e o Palácio do Planalto, depredando o Patrimônio Público dos palácios dos 3 Poderes, em Brasília (DF). Reprodução/Wallace Martins/Futura Press/Estadão Conteúdo.

O portal Uol exibiu neste sábado (08jun.2024) um vídeo, entrevista de quatro minutos, com dois bandidos, condenados e foragidos da Justiça brasileira, Luiz Fernandes Venâncio, 50, e Marco Antônio Iglesias Simal, 31, que praticaram, em 08jan.2023, juntamente com centenas de bolsonaristas radicais e criminosos, atos antidemocráticos e destruíram o patrimônio público (palácios dos 3 Poderes, em Brasília/DF), o qual custou na sua reedificação ao menos R$ 16 milhões aos cofres públicos [quem paga é o POVO].

A Polícia Federal (PF) prendeu, na recaptura, até a última sexta-feira (7/8), 50 bolsonaristas foragidos, que, após ganharem a liberdade condicional, quebraram tornozeleiras eletrônicas e fugiram de ônibus para a Argentina e outras partes do Brasil.

Em nenhum momento, os repórteres do Uol, Grupo Folha, perguntaram aos criminosos bolsonaristas: se eles estavam arrependidos dos crimes cometidos e ‘por que perpetraram os atos antidemocráticos, em 8 de janeiro de 2023, que culminaram com a destruição dos palácios dos 3 Poderes, em Brasília, custando aproximadamente R$ 16 milhões ao erário no Brasil’?

Ao invés da reportagem do Uol ir a um dos pontos centrais nessa questão, inquirindo, por exemplo, sobre seus crimes e destruições do patrimônio público, resolveu, como se diz no jornalismo clássico, “levantar bola para o entrevistado”, em uma frase atribuída ao então jornalista Paulo Francis nos anos de 1980.

Ao ‘dar bola’ para um criminoso bolsonarista, condenado pelo ‘8/1’ e foragido da Justiça brasileira, um deles se sentiu o ‘Todo Poderoso’ no início da entrevista, dizendo: 'Viva la libertad, carajo!' [‘viva a liberdade’]", diz o vendedor bolsonarista criminoso Venâncio, 50, em uma referência à campanha, em 2023, do atual líder de extrema direita e ultraneoliberal Javier Milei, presidente da República na Argentina.

No seu itinerário de fuga criminosa, o réu bolsonarista Venâncio fez no início do mês de março/24 o seu percurso de ônibus de São Paulo ao Rio Grande do Sul, depois Uruguai, até ele chegar em 16 de março/24 na Argentina.

Ainda na entrevista, uma repórter pergunta se eles [bolsonaristas criminosos no Brasil] estão felizes e o que mais gostam na Argentina? Venâncio responde: “um vinho...”. E feliz? “Demais, da conta!...”, argumentou ele que disse ainda que vai empreender na Argentina com uma meta diária de 100 mil pesos (moeda argentina). Já o réu foragido bolsonarista Simal, de 31 anos, falou que é cristão e, atualmente, está em alojamento na Capital da Argentina, Buenos Aires. Ele disse que lê a Bíblia, fala ‘todos os dias com Deus’, além de ‘guardar um dinheirinho a mais’, e sempre faz uma caminhada pela Capital portenha.

A elaboração da reportagem do Uol faz parte e segue o roteiro do ‘Agenda Setting’, ou seja, a teoria do agendamento pela mídia na construção da notícia, concebida por Donald Shaw (faleceu em 2021 nos EUA, aos 85 anos) e Maxwell McCombs (EUA, 86 anos), que defenderam, por exemplo, que o público [ouvintes de Rádio, espectadores de TV e, hoje, seguidores de mídia, por meio das redes sociais] tende ‘a dar mais importância aos assuntos que tem maior exposição nos meios de comunicação de massa’ [hoje, mídia], sugerindo, ainda, ‘que é a mídia quem diz sobre o que iremos falar’.

Nesse roteiro de agendamento da reportagem do Uol, percebe-se claramente que há uma intenção na linguagem midiática: explorar cada vez mais o que é descomunal, ‘bizarro’, e ignorar o que de fato ocorreu em 08 de janeiro de 2023, na Praça dos Três Poderes, em Brasília (DF), onde centenas de radicais na ‘intentona bolsonarista de tomar o Poder’ cometeram, segundo o Supremo Tribunal Federal (STF), os crimes de “abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado” e contra o governo recém-eleito democraticamente de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), após vencer o seu principal opositor Jair Bolsonaro (PL), em 30 de outubro de 2022; além disso, “associação criminosa armada, dano qualificado e deterioração do patrimônio público tombado”.

No making of da ‘intentona bolsonarista’, a mídia, no eixo Rio-São Paulo, não demonstrou na sua pauta de notícia que bolsonaristas, já condenados e presos pela participação nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, voltaram a cometer crimes: fugiram em meados de maio/24 do país depois de romperem o lacre de suas tornozeleiras eletrônicas. Ainda, não revelou em sua reportagem que: dos 116 sentenciados até agora pelo STF por ataques à democracia e ao Estado Democrático de Direito, 71 deles foram recapturados e pelo menos 45 estão foragidos da Justiça brasileira.

Enfim, há, portanto, uma distância imensa entre o que a mídia, a serviço do grande capital no eixo SP-RJ, quer realmente pautar no seu agendamento de notícias [o apagamento factual] e o que de fato ocorreu, trazendo luz à história, trajetória, às decisões, aos números e valores gastos na reedificação do Patrimônio Público, da dignidade de um País e, sobretudo, do exercício pleno da democracia, a qual deveria ser, além de representativa, substancial, direta e participativa na sociedade brasileira.

*FRANÇA NETO (FN), 57, editor do blog FN Café NEWS, mineiro e atleticano, é professor no ensino superior e na educação básica. Jornalista desde 1985, período em que trabalhou na imprensa em Belo Horizonte, Montes Claros e Norte de MG; Em 2000, defendeu, na faculdade de Comunicação Social, a pesquisa acadêmica intitulada "O MST sob as lentes do Jornal Nacional/TV Globo" [O noticiário do telejornal e sua relação com os movimentos sociais], na qual refletiu criticamente sobre o papel histórico na constituição dos Meios de Comunicação Massa na América Latina (mídia tradicional: TV, rádio e jornal impresso), e, em específico, o seu caráter de ‘despolitização’ ao construir certas categorias de notícia no telejornalismo brasileiro, abordando teóricos como Shaw e McCombs, Theodor W. Adorno, Max Horkheimer e Jürgen Habermas (Escola de Frankfurt), Pierre Bourdieu, Roland Barthes . Doutor em Educação pela Universidade de Brasília (UnB/ PPGE-FE), na linha de Pesquisa em Políticas Públicas e Gestão da Educação - Eixo de interesse Políticas Públicas de Educação a Distância (EaD) no Brasil.

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