O plano obscuro
A Pair of Shoes. Pintura: Vincent van Gogh |
Por Janio de Freitas* |
Mas quem poderia fazer uma investigação isenta? A
Polícia Federal investigando a Polícia Federal, a Procuradoria Geral da República
investigando procuradores da Lava Jato por ela designados?
É certo que não esteve distante uma reação da Aeronáutica,
se os legionários da Lava Jato não contivessem seu ímpeto. Que ordens de Moro
levavam? Um cameramen teve a boa
ideia, depois do que viu e de algo que ouviu, de fotografar um jato
estacionado, porta aberta, com um carro da PF ao lado, ambos bem próximos da
sala de embarque VIP transformada em seção de interrogatório.
É compreensível, portanto, a proliferação das versões
de que o Plano Moro era levar Lula preso para Curitiba. O que foi evitado, ou
pela Aeronáutica, à falta de um mandado de prisão e contrária ao uso de dependências
suas para tal operação; ou foi sustado por uma ordem curitibana de recuo, à
vista dos tumultos de protesto logo iniciados em Congonhas mesmo, em São
Bernardo, em São Paulo, no Rio, em Salvador. As versões variam, mas a convicção
e os indícios do propósito frustrado não se alteram.
O grau de confiabilidade das informações prestadas a respeito da Operação Bandeirantes, perdão, operação 24 da Lava Jato, pôde ser constatado já no decorrer das ações. Nesse mesmo tempo, uma entrevista coletiva reunia, alegadamente para explicar os fatos, o procurador Carlos Eduardo dos Santos Lima e o delegado Igor de Paula, além de outros. (Operação Bandeirantes, ora veja, de onde me veio esta lembrança extemporânea da ditadura?).
Uma pergunta era inevitável. Quando os policiais
chegaram à casa de Lula às 6h, repórteres já os esperavam. Quando chegaram com
Lula ao aeroporto, repórteres os antecederam. "Houve vazamento?" O
procurador, sempre prestativo para dizer qualquer coisa, fez uma confirmação
enfática: "Vamos investigar esse vazamento agora!". Acreditamos, sim.
E até colaboramos: só a cúpula da Lava Jato sabia dos dois destinos, logo, como
sabe também o procurador, foi dali que saiu a informação –pela qual os
jornalistas agradecem. Saiu dali como todas as outras, para exibição posterior
do show de humilhações. E por isso, como os outros, mais esse vazamento não será
apurado, porque é feito com origem conhecida e finalidade desejada pela Lava Jato.
A informação de que Lula dava um depoimento,
naquela mesma hora, Fo intercalada por uma contribuição, veloz e não pedida, do
delegado Igor Romário de Paula: "Espontâneo!". Não era verdade e o
delegado sabia. Mas não resistiu. Figura inabalável, este expoente policial da
Lava Jato. Difundiu insultos a Lula e a Dilma pelas redes de internet, durante a
campanha eleitoral. Nada aconteceu. Dedicou-se a exaltar Aécio, também pela
rede. Nada lhe aconteceu.
Foi um dos envolvidos quando Alberto Youssef, já
prisioneiro da Lava Jato, descobriu um gravador clandestino em sua cela na
Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Nada aconteceu, embora todos
os policiais ali lotados devessem ser afastados de lá. E os envolvidos,
afastados da própria
PF.
Se descobrir por que a inoportuna lembrança do nome
Operação Bandeirantes, e for útil, digo mais tarde.
*JANIO DE FREITAS: Colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa as questões políticas e econômicas. Escreve na Folha de S. Pauloaos domingos e quintas-feiras.
*JANIO DE FREITAS: Colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa as questões políticas e econômicas. Escreve na Folha de S. Pauloaos domingos e quintas-feiras.
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