Dilma Rousseff se solidariza com as famílias vítimas da tragédia da chuva no RJ. Divulgação Presidência/ jan. 2011. |
RIO DE JANEIRO - Em visita ao Rio, a presidenta Dilma Rousseff prometeu ajuda do governo federal "no momento de resgate e de reconstrução" das cidades atingidas pelas chuvas na região serrana. "Vimos regiões onde as montanhas se dissolveram, sem presença do homem, sem nenhuma ocupação irregular. Mas vimos também regiões onde a ocupação irregular do solo provoca danos à vida e à saúde das pessoas", afirmou em entrevista coletiva, ao lado do governador do Estado, Sérgio Cabral (PMDB). " A reconstrução vai ser também um momento de prevenção", ressaltou. "A moradia em área de risco no Brasil é a regra, não a exceção."
Presidenta Dilma sobrevoou cidades no Rio dizimadas pelas fortes chuvas. Divulgação/Roberto S Filho |
A presidenta chegou ao Rio no fim da manhã junto com Cabral, que estava no exterior, e seis ministros. Ela sobrevoou as cidades atingidas pelas chuvas e desceu no campo de futebol do Friburguense, em Nova Friburgo. De galochas, foi à Rua Luis Spinelli e conversou com moradores. Foi nessa rua que um carro do Corpo de Bombeiros foi soterrado na manhã de ontem.
"É de fato um momento muito dramático. As cenas são muito fortes, é visível o sofrimento das pessoas. O risco é muito grande", afirmou Dilma. Ela destacou a "grande capacidade" de organização do governo estadual. Disse que o governo federal vai contribuir com "ações do Ministério da Integração e da Defesa, presença das Forças Armadas e do Ministério da Justiça."
"Temos de resgatar as pessoas e reestruturar as condições de vida nas regiões atingidas, permitindo que elas tenham acesso à remédios e tratamento", acrescentou a presidente, que prometeu ainda liberar recursos da forma "menos burocrática possível."
Tragédia da Chuva no RJ: mortos podem chegar acima de 500. Divulgação jan. 2011. |
A presidenta também destacou que não dá para se minimizar a força da natureza neste momento, mas lembrou que é preciso agir para evitar o pior. "Não está certo que a gente diminua o efeito das chuvas, mas só não pode deixar morrer gente. Esta é a nossa missão", afirmou.
GOVERNO FEDERAL LIBERA R$ 1,770 BI PARA AJUDA AO RIO DE JANEIRO
Solidariedade ao Rio: toneladas de medicamentos enviadas pelo Governo Federal. Divulgação /jan. 2011. |
A maior parte do dinheiro a ser recebido pelo Rio de Janeiro é do Ministério das Cidades. Na primeira etapa do PAC, encerrada em 2010, foram selecionados projetos no valor de R$ 1,032 bilhão no estado. Deste total, R$ 975 milhões já estão contratados para execução. Já no PAC 2, que vai de 2011 a 2014, houve a seleção de propostas (drenagem e contenção de encostas) que somam R$ 642 milhões.
O estado do Rio tem R$ 137 milhões previstos para contenção de encostas no PAC 2. As cidades de Teresópolis, Nova Friburgo e Petrópolis vão receber, respectivamente, R$ 13,2 milhões, R$ 8,8 milhões e R$ 1,1 milhão.
O montante de R$ 1,770 bilhão para o Rio de Janeiro representa cerca de 18% do volume destinado para ações de drenagem e contenção de encostas em todo o Brasil. A primeira etapa do PAC Drenagem definiu R$ 5,475 bilhões em projetos, sendo R$ 4,474 bilhões já contratados. O Ministério das Cidades selecionou propostas que atingem R$ 4,09 bilhões para o PAC 2.
A parcela menor de recursos é do Ministério da Integração Nacional, que direcionou R$ 97,5 milhões para obras de drenagem no Rio de Janeiro. Este valor equivale a 19,8% do dinheiro aplicado em drenagem, em todo o país, pela pasta. Entre 2009 e 2010, o estado recebeu R$ 67,9 milhões (89% destes recursos foram liquidados). A partir de 2011, existe a previsão de investimento de mais R$ 29,6 milhões.
No Rio, Dilma ‘salva’ sua biografia da fúria das águas
Por Josias de Souza*
A reação dos governantes às tragédias pode arruinar uma biografia. Assediada por um flagelo no alvorecer de sua gestão, Dilma Rousseff não deu chance ao azar.
Menos de 24 horas depois do início da contagem dos corpos da região serrana do Rio, Dilma sobrevoou a área. Sujou os sapatos na lama de uma das cidades castigadas pelas águas.
Depois, deu uma entrevista improvisada. Soou inespecífica quanto às providências práticas. Enfiou na tragédia elogios inadequados a Lula. Porém...
Porém, teve a delicadeza de encerrar a conversa com uma manifestação de solidariedade às famílias dos mortos.
Ao levar o rosto ao cenário do drama, Dilma diferenciou-se de Lula, que não teve a mesma agilidade em crises análogas.
Portou-se, de resto, como uma espécie de anti-Bush. No dia 29 de agosto de 2005, uma segunda-feira útil, o furacão Katrina devastou a cidade de Nova Orleans.
No instante em que feneciam dezenas de vítimas, George Bush, então presidente dos EUA, encontrava-se no Arizona, num compromisso inútil.
Posava para fotógrafos segurando um bolo de aniversário. Os mortos avolumavam-se nas manchetes. E Bush festejava os 69 anos de vida de um senador republicano.
Nas semanas seguintes, Bush lidou com a tragédia com a agilidade de uma tartaruga manca. Com isso, plantou em sua biografia uma nódoa definitiva.
Um pedaço da opinião pública americana atribuiu a lerdeza de Bush a um não-declarado preconceito racial.
Líderes religiosos, políticos e artistas levaram ao noticiário a tese de que Bush demorou a prover socorro aos desabrigados porque a maioria era negra.
No mês passado, em entrevista à apresentadora Oprah Winfrey, Bush foi instado revolver o passado omisso. Refutou a acusação de racismo.
Mais de cinco anos depois do ocorrido, Bush revelou-se refém de sua própria omissão. Ao voar de Brasília para o Rio, Dilma fugiu desse figurino.
Sua visita não devolveu as vidas ceifadas. Tampouco atenuou a aflição dos desabrigados. Mas salvou a biografia da presidente da pecha da omissão.
Pouco? Talvez. Mas já é alguma coisa. Uma presidência também é feita de gestos. Eles são preferíveis à inação.
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