domingo, 14 de março de 2010

Jornalismo de Luto




A morte trágica do cartunista Glauco Vilas Boas, 53, juntamente com seu filho Raoni, 25,  deixou um vazio no  jornalismo brasileiro. Eles foram brutal e covardemente assassinados, na manhã de sexta-feira (12/03),  em Osasco (SP), pelo estudante Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, 24, conhecido como Cadu, que  disparou cerca de 10 tiros de revólver  que mataram o cartunista Glauco e o filho dele. O jovem autor dos disparos, segundo a polícia, tinha  envolvimento com drogas e um histórico de problemas psicológicos com perturbação mental.
A Polícia Civil de São Paulo divulgou para a imprensa, na noite deste sábado (13), que teria localizado e apreendido o Gol cinza usado na fuga de Cadu, suspeito de ter matado o cartunista Glauco e seu filho Raoni, 25.
Nascido em Jandaia do Sul, interior do Paraná, Glauco começou a publicar suas tirinhas no "Diário da Manhã", de Ribeirão Preto, no começo dos anos 70.
Em 1976, foi premiado no Salão de Humor de Piracicaba e, no ano seguinte, começou a publicar seus trabalhos na Folha de maneira esporádica. A partir de 1984, Glauco passou a publicar suas tiras regularmente no jornal.
Entre seus personagens estão Geraldão, Cacique Jaraguá, Nojinsk, Dona Marta, Zé do Apocalipse, Doy Jorge, Ficadinha, Netão e Edmar Bregman, entre outros.
Em 2006, ele lançou o livro "Política Zero", reunião de 64 charges políticas sobre o Governo Lula publicadas na página 2 da Folha.
Glauco também era líder da igreja Céu de Maria, ligada ao Santo Daime e que usa a bebida feita de cipó para fins religiosos.

Glauco publicou em UOL Humor dois de seus personagens: Netão e Ficadinha. Às terças e quintas era a vez do Netão e, aos sábados, da Ficadinha. No jornal Folha de S.Paulo, Glauco tinha seus outros personagens publicados diariamente na Folha Quadrinhos e, três vezes por semana, ocupava a Página 2, de editoriais, com Charges Políticas. Glauco também colaborava mensalmente com quadrinhos do Geraldinho para a Folhinha, o suplemento infantil da Folha de S. Paulo.

Além disso, Glauco já publicou três livros. "Minorias do Glauco" foi o primeiro, independente, lançando em 1981. Pela Circo Editora, o cartunista publicou "Geraldão" e "Abobrinhas da Brasilônia". Também pela Circo Editora, Glauco lançou entre os anos 80 e 90 cerca de 40 revistas do "Geraldão".




Glauco ao repórter: ‘Desenho torto por linhas certas’

  Rafael Falavigna/Folha de S. Paulo
Fã de Glauco, o signatário do blog Nos Bastidores do Poder, Josias de Souza, tinha a mania de reproduzir-lhe as charges em seu recanto da web.

Num certo dia de 2007, Glauco tocou o telefone para o repórter. Queria agradecer. Ouviu agradecimentos.

Foi um telefonema raro. O primeiro. Em verdade, o único. A certa altura, o repórter perguntou a Glauco de onde lhe vinha tanta inspiração.

E ele, entre risos: “Deus escreve certo por linhas tortas. Eu faço o contrário: desenho torto por linhas certas”.

Pois bem, Glauco morreu. Foi assassinado. Coisa bárbara, ainda pendente de explicação. A polícia caça o responsável. O enterro será neste sábado.

Não se sabe o que há no céu. Mas é certo que, se não tiver lápis e papel, Deus vai mandar buscar. Não vê a hora de tomar lições com Glauco.

O Todo-poderoso está doidinho para aprender a rabiscar torto por linhas certas.


Repercussão sobre a morte trágica de Glauco

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a morte do cartunista da Folha Glauco, 53, por meio de uma nota oficial, divulgada no início da tarde de hoje.


Angeli, Cartunista e Chargista
Visivelmente emocionado, o cartunista Angeli, parceiro de trabalho de Glauco, falou sobre a obra do amigo em sua passagem pelo velório, realizado na igreja Céu de Maria --da qual Glauco foi fundador--, em Osasco (Grande SP). "Dentro de suas limitações, Glauco criou uma coisa genial. Não era o maior desenhista do mundo, mas seu desenho falava tudo o que ele queria."

Ziraldo, cartunista e escritor
"A notícia me pegou na estrada, é uma coisa que deixa você meio chapado. É como perder um sobrinho. Vi esses quatro meninos --Glauco, Angeli, Laerte e Adão-- começarem a vida. Sempre os tratei como filhos e tenho um carinho muito grande por todos eles. O Glauco, em específico, sempre foi a alegria da festa, a alegria dos salões. Tinha uma agilidade mental muito grande, era muito crítico, debochado --debochado num bom sentido, como uma qualidade, quase como uma ironia. (...) É uma perda brutal para todos nós, e fico com raiva e vergonha dessa violência. Demorará para passar. Há muito tempo não sentia uma dor tão grande." 

Caco Galhardo, quadrinista
"O Glauco é a grande referência de todos nós, de todos os cartunistas. É uma perda tão grande. Ele está ali diariamente com a gente, é aquela coisa do Geraldão, que todo mundo conhece, que está ali, a gente não tem mais a companhia do Glauco. Ele foi uma grande referência a vida inteira. (...) Ele é o último maluco beleza. Sem esse cara, a vida perde a graça. É uma referência constante." 

CHICO CARUSO, cartunista
Conheci o Glauco no Salão de Humor de Piracicaba. Tinha um espírito anárquico, suas charges eram muito engraçadas e jovens. Era surpreendente que fosse tão iconoclasta e ao mesmo tempo bispo de uma igreja. 

LAN, cartunista
Estou consternado. É uma perda muito grande para a nossa área. Glauco, Laerte e Angeli formam um trio maravilhoso. São estilos diferentes, personalidades próprias, mas é impossível falar do Glauco sem falar dos outros dois. A violência de Rio e São Paulo me indigna. 

Fonte: Folha de S. Paulo e Homenagem a Glauco, do Blog França Neto Café News

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