Mudança no ICMS é nova
frente de batalha do governo federal
Mantega articula reunião com os governadores para
discutir esboço da proposta de unificar alíquota e acabar com guerra fiscal
BRASÍLIA* - Dentro de sua estratégia de aumentar a competitividade
da economia brasileira, a presidente Dilma Rousseff dará um impulso à reforma
tributária ainda este ano. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, articula uma
reunião com todos os governadores na próxima quinta-feira, com o objetivo de
discutir um primeiro esboço de proposta do governo para a reforma do Imposto
sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Depois do corte de tributos no setor
elétrico e das concessões em infraestrutura, essa será a nova frente de batalha
do governo. Os auxiliares de Dilma sabem que essa não será uma discussão fácil.
Um deles classifica o tema como "tabu".
Porém, a presidente conta com uma
vantagem fundamental em relação a seus antecessores que tentaram, sem sucesso,
reformar o sistema tributário nas últimas três décadas. O Supremo Tribunal
Federal (STF) já condenou alguns programas de descontos no ICMS criados pelos
Estados com o objetivo de atrair empresas, na chamada guerra fiscal.
O passo seguinte é editar uma súmula
vinculante, que estenderia a condenação a todos os demais programas de mesma
natureza questionados na Justiça.
Isso exerce sobre os governadores uma
pressão inédita no sentido de buscar um acordo que lhes permita legalizar os
incentivos já concedidos. A reforma geral do ICMS pode ser um caminho para
isso. É principalmente essa a razão pela qual Mantega acha que há uma chance
real de avançar com a discussão.
Novo contexto
Há, além disso, uma mudança no contexto
do debate. Dilma já deu um primeiro passo concreto para mudar o ICMS. No dia 1.º
de janeiro começam a funcionar as novas regras que vão pôr fim à chamada
"guerra dos portos", formada com incentivos fiscais do ICMS à
importação. A reforma geral do ICMS nada mais é do que a expansão dessas normas
para os demais produtos.
O fim da guerra dos portos veio com a
aprovação da Resolução 13 do Senado, em abril deste ano. Por ela, as
mercadorias importadas que chegarem no País por um Estado e forem consumidas em
outro recolherão 4% de ICMS na passagem. Hoje essa tributação é de 12% ou 7%,
dependendo do local.
A proposta do governo para a reforma
tributária é, basicamente, estender a redução a 4% a outras mercadorias. A
redução seria gradual, de até 1 ponto porcentual ao ano, para evitar quedas
bruscas na arrecadação dos Estados. E a perda de receitas seria reposta pela
União.
O primeiro desafio político de Mantega em
suas conversas com os governadores será superar uma clara divisão regional. Os
Estados do Sul e Sudeste concordam com a alíquota de 4%, como quer o governo.
No entanto, os do Norte, Nordeste e Centro-Oeste querem manter o sistema atual
de duas alíquotas diferentes, no caso 2% e 7%.
"Eles não abrem mão disso",
informou o coordenador do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz),
Cláudio Trinchão, que é secretário de Fazenda do Maranhão.
Temor
Além disso, as unidades com menor
dinamismo econômico temem perder empresas após a aprovação da reforma do ICMS e
o consequente fim da guerra fiscal. Eles consideram que a simples reposição das
quedas de receita não seria suficiente. "Precisamos de maciços
investimentos em infraestrutura, taxas de juros diferenciadas e benefícios com
tributos federais", defendeu Trinchão.
Só com esses instrumentos seria possível
dar às regiões mais remotas do País condições de competir com o Sul e Sudeste
na atração de investimentos privados, defende o secretário de Fazenda do
Maranhão.
Segundo informou Trinchão, os Estados do
Sul e Sudeste estão pressionando os demais a aceitar os 4%. Em troca,
concordariam em legalizar parte dos incentivos fiscais condenados pelo STF. A
convalidação da guerra fiscal é uma discussão que se arrasta há mais de um ano
no Confaz, sem alcançar o consenso.
Outra discussão que promete ser
complicada é a determinação da perda de arrecadação sofrida pelos Estados. O
governo federal estima que, teoricamente, ela pode ser de até R$ 14 bilhões. Na
prática, porém, o prejuízo é menor porque hoje os Estados não cobram o ICMS
integralmente, por causa da guerra fiscal.
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