Assistência técnica do Plano
Brasil Sem Miséria leva esperança a quilombolas
Pequenos agricultores familiares esperam orientação de técnicos para
melhorar o manejo e o rendimento das lavouras. Reforço das ações voltadas para
essas comunidades marcaram comemorações do Dia Nacional de Zumbi e da
Consciência Negra
Valdivino e sua esposa acreditam que assistência técnica pode melhorar a vida deles. Foto: Ana Nascimento/MDS 22 nov. 2012. |
Cavalcante (GO)* – No meio do
Cerrado goiano, entre buritis e flores nativas da Chapada dos Veadeiros, um
pequeno casebre rodeado de animais domésticos indica que há gente por ali.
Nesse canto do vilarejo de Maquiné, na comunidade de Engenho II, município de
Cavalcante, vive o pequeno agricultor familiar Valdivino Santos Rosa. Aos 49
anos, ele mantém as tradições quilombolas herdadas da família. Valdivino espera
estar entre os 4,5 mil beneficiados pela segunda chamada de Assistência Técnica
e Extensão Rural (Ater) Quilombola, por meio do Plano Brasil Sem Miséria.
O agricultor faz parte do contingente de
quilombolas que precisa orientação para melhorar o manejo e o rendimento das
lavouras. Em comemoração ao 20 de novembro, Dia Nacional de Zumbi e da
Consciência Negra, o governo federal anunciou, esta semana, ações para reforçar
o Programa Brasil Quilombola. Entre elas, o acordo de cooperação para aprimorar
a segunda chamada de Ater, que envolve os ministérios do Desenvolvimento Social
e Combate à Fome (MDS) e do Desenvolvimento Agrário (MDA), a Secretaria de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e a Fundação Cultural
Palmares.
Na propriedade onde vive com a mulher e três filhos
(um de 16 anos, outro de 20 e o mais velho de 22), Valdivino planta alface,
arroz, banana, café, feijão, milho, pimenta e salsa, entre outras culturas. A
família sobrevive com a venda dos produtos agrícolas in natura por meio
do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), coordenado pelo MDS, e mais R$ 90
do Programa Bolsa Família. O agricultor reforça o orçamento com o comércio de
cachaça artesanal, queijo e rapadura para turistas que visitam a Chapada dos
Veadeiros.
Praga no milharal – Desde o começo deste ano, o quilombola enfrenta uma adversidade na
lavoura: uma praga começou a atacar a lavoura de milho. “É uma larva pequena
que come toda a raiz do milho e não deixa a planta crescer. Nunca tinha visto
essa praga aqui e não sei o que fazer”, diz Valdivino, que precisa percorrer
quase 40 quilômetros em um carro de boi construído pela família para ir à
cidade. O trajeto demora quase um dia.
O quilombola tem esperança que a assistência
técnica possa ajudá-lo a eliminar a praga do milharal. “A gente não tem
conhecimento dessas coisas. Sem a orientação de uma pessoa capacitada, fica
difícil manter a plantação.” Ele sabe como é ruim viver sem poder contar com a
ajuda de outras pessoas para trocar experiência sobre técnicas de plantio.
Afinal, o vizinho mais próximo mora a seis quilômetros de sua propriedade.
Para Áurea e Geraldo, apoio técnico vai ajudar a vender para o PAA |
A exemplo de Valdivino, a família da quilombola
Áurea Paulino, 28 anos, também sente falta de assistência técnica rural. Há
seis meses, ela e o marido, Geraldo Francisco Maia,
assinaram contrato com o PAA local com o compromisso de entregar seis tipos de
verduras diferentes por quinzena. Há mais de dois meses, a mulher não consegue
cumprir o contrato e, por isso, não tem recebido o dinheiro.
“Meus pés de chuchu não estão mais
produzindo”, lamenta a quilombola. “Os colegas disseram que minhas sementes
eram muito verdes e não estavam boas para o plantio. Gastei todo o dinheiro que
tinha guardado comprando sementes melhores, mas a muda não se desenvolve e o
chuchu não nasce. Não sei o que acontece.”
Terra arenosa – Geraldo atribui os problemas no cultivo à qualidade
do solo. “A terra aqui é muito arenosa. É muito difícil plantar. Nosso
abacateiro floresce e seca antes de produzir as frutas. Onde a terra é boa, a
gente planta e não consegue colher porque os fazendeiros tomam da gente”,
queixa-se Geraldo.
Hoje, a comunidade conta com a ajuda de
pequenas associações e entidades locais e com a parceria com a Universidade
Federal de Goiás (UFG), que dá assistência veterinária às criações dos
quilombolas.
“Eles têm uma quantidade de demandas e
carências muito grandes. Ao longo dos anos, o governo federal avançou muito,
com a inclusão dessas famílias no Cadastro Único e em programas como o PAA e o
Bolsa Família,” avalia a professora de direito da UFG e coordenadora do
programa de assistência jurídica nas comunidades Kalungas, Maria Cristina
Vidotte.
Com a implantação do Programa Brasil
Quilombola, em articulação com o Plano Brasil Sem Miséria, várias áreas
ocupadas por quilombolas serão declaradas de interesse social para fins de
desapropriação. Além disso, o governo está ampliando o incentivo às atividades
agrícolas, à oferta de água e à assistência rural a essas comunidades.
Todos os núcleos de quilombolas de Goiás integram a lista de contemplados
e deverão receber as ações até o final de 2014.
Saiba mais
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Patrimônio cultural
O Brasil tem hoje 1,17 milhão de quilombolas em
24 estados. São cerca de 214 mil famílias e um total de 1.834 comunidades
certificadas pela Fundação Cultural Palmares. As comunidades quilombolas
representam um patrimônio cultural e um símbolo da sociedade brasileira.
Essas comunidades, definidas como grupos étnico-raciais, são majoritariamente
rurais e vêm se mantendo unidas a partir de relações históricas com o
território, a ancestralidade, as tradições e práticas culturais e religiosas
que, em muitos casos, subsistem ao longo dos séculos.
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*Fernanda Lattarulo - Ascom/MDS/www.mds.gov.br/saladeimprensa
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