20 das 27 unidades federativas superaram 90% do
limite fixado na LRF para desembolsos com a folha de pagamento de pessoal
Receitas e despesas com o funcionalismo público. Arte final: Tesouro Nacional 21 ago. 2013. |
Mauro
Zanatta /O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - No
momento em que Estados e municípios tentam acelerar investimentos, melhorar
serviços públicos - demandas que ganharam mais peso após a onda de
manifestações pelo País em junho - e reduzir gastos para manter suas
estruturas, a forte ampliação nas despesas com pessoal nos últimos quatro anos
tem restringido e até neutralizado esses esforços. O alerta abrange 20 das 27
unidades federativas do País e ajuda a elevar as pressões por mudanças na
legislação fiscal.
Levantamento
feito pelo Estado a partir dos relatórios de gestão fiscal enviados ao
Tesouro Nacional mostra que essa despesa permanente cresceu acima da inflação
desde 2009. Vinte unidades federativas já superaram 90% do chamado limite
prudencial destinado a gastos com folha salarial (46,55% da receita). Esse é o
segundo dos três tetos previstos para os Poderes Executivos na Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF).
A
situação deve piorar. Balanço dos primeiros quatro meses de 2013 revela que, na
média, o gasto com servidores aproxima-se de 92% do permitido pela LRF. Até
abril, R$ 1,77 bilhão foram adicionados às folhas salariais, segundo os
Estados.
Governadores
e prefeitos têm elevado de forma substancial a proporção dessas despesas nos
orçamentos, por vários motivos. De uma lado, tem havido perda expressiva na
arrecadação de ICMS - principal fonte de receita dos Estados - em razão do
ritmo fraco na economia brasileira, e as desonerações federais, como isenções
de IPI, reduzem a verba dos Fundos de Participação de Estados (FPE) e
Municípios (FPM). De outro, há um aumento vegetativo na folha de pagamento, a
redução nas transferências, o engessamento do orçamento com despesas
“carimbadas” e a indexação da dívida por índices “caros”.
“Há uma
armadilha, uma compulsão, porque temos crescimento inercial de 2% a 3% anual
com prêmios, promoções. Mesmo sem aumento real, esse gasto cresce”, diz o
secretário de Fazenda do Paraná, Luiz Carlos Hauly. “Se não resolvermos, vamos
para um precipício.” O Paraná, que elevou em R$ 4,8 bilhões o gasto com pessoal
desde 2009, está próximo de superar o limite de comprometimento máximo previsto
na LRF (49% da receita).
Outro
fator que eleva os gastos com pessoal é o aparelhamento político de Estados e
municípios. “Houve aumento dos cargos em comissão nas secretarias em virtude de
acordos políticos, além de aumento dos investimentos em direitos sociais, como
saúde e educação”, diz o advogado e professor do Ibmec-RJ Jerson Carneiro.
Superávit. Neste ano, o governo federal
conta com uma boa contribuição da economia de Estados e municípios para fechar
sua conta de superávit. Se depender das despesas com pessoal, a estratégia
corre riscos. “O relaxamento fiscal federal virou mau exemplo. Os Estados
fizeram ajustes, mas estão mais endividados porque usaram recursos próprios de
investimentos para pagar pessoal”, afirma o especialista em finanças públicas
do Ibre/FGV José Roberto Afonso.
Em 2012,
os 26 Estados e o Distrito Federal desembolsavam, em média, 43,8% de suas
receitas com pessoal. Em 2009, o índice médio era de 42,65%. Com isso, novos
gastos com funcionários estaduais não poderão passar de R$ 18,8 bilhões.
“Esse
aumento acaba com o ‘custeio bom’, que é compra de remédios, material de
educação, segurança. Estão mudando a lei fiscal por dentro, o pior que podia
ocorrer”, avalia Oberi Rodrigues, secretário de Planejamento e Finanças do Rio
Grande do Norte, Estado que também está perto de superar o limite máximo com
pessoal.
Nos
últimos quatro anos, esse “G-27” elevou sua folha de pagamento em R$ 55,7
bilhões em valores nominais, sem descontar a inflação - um crescimento de 44,2%
no período. De 2009 a 2012, o IPCA somou 24,52%. A despesa per capita anual por
funcionário foi de R$ 60.225 em 2012 - o País tinha 3.111.944 servidores
públicos no ano passado, segundo o IBGE.
Em São
Paulo, o dispêndio com servidores atingiu 91% do limite prudencial. O Estado
registrou o maior aumento nominal entre todas as unidades: R$ 13,15 bilhões em
quatro anos. A Secretaria da Fazenda informa que o principal motivo foi a
revisão salarial e planos de carreira para as áreas de saúde, educação e
segurança, abrangendo 87% dos servidores ativos.
Pressão. É consenso entre Estados e
municípios de que há poucas saídas e muita pressão por mais gastos, como a
criação de pisos nacionais para categorias. No Congresso, uma enxurrada de
projetos pode piorar as finanças, como a PEC 300, que eleva salários de
policiais.
Na
contramão, o lobby de governadores e prefeitos busca aprovar a renegociação das
dívidas, tentando “descolar” esse debate da reforma do ICMS, onde não há
consenso. Um projeto do líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), tem apoio de
Estados. Não resolve, mas dá refresco nas contas públicas, segundo os
secretários de Fazenda. O texto prevê reduzir o juro da dívida para 4% e mudar
o indexador, de IGP-DI para IPCA, com teto na taxa básica da economia (Selic),
mas não alivia o comprometimento da receita, pois não estabelece teto para
pagamento de juros e da dívida, previsto na Resolução 43 do Senado.
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