domingo, 13 de outubro de 2013

DIOÉGENES SEM LANTERNAS

Os órfãos da nova ordem que não virá tão cedo
Diógenes de Sínope, conhecido também por “Diógenes – o cínico”, foi um filósofo grego que nasceu numa colônia jônica (Sínope) situada na costa do Mar Negro, hoje território da Turquia. Diógenes perambulava pelas ruas de Atenas conduzindo uma lanterna acesa em plena luz do dia. Indagado por populares sobre a lanterna, respondeu: “Procuro um homem honesto!” Imagem de  JHW Tischbein/Fonte  Wikipedia 2013.
(*) Por Luís Cláudio Guedes

Há uma turma órfã nas redes sociais e na política brasileira: aquela que desejava ver o ministro-presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, candidato a presidente da República. Essa turma se confunde em alguns momentos com aquela outra que apostou suas fichas em Marina Silva (PSB) como a musa dos protestos de junho passado.

A guinada da ex-senadora de porta-voz da horizontalidade na política rumo aos olhos azuis do governador Eduardo Campos não será bem digerida pelos ‘sonháticos’, que desejavam estabelecer nova ordem pátria, quiçá mundial. Do sonho, restaram essa esquisitice da estação, representada pelos black blocs e sua sanha contra as vidraças fumê do capitalismo e a pouca eficácia para mobilizar quem anda de saco cheio com tudo isso que está aí, mas que ainda conserva boa reserva de bom-senso e juízo para se deixar levar na direção do anarquismo sem objetivo.

O vácuo deixado pela opção preferencial de Marina por uma aliança com Campos tem impacto maior na desilusão dos novos órfãos da política nacional, exatamente por deixar no limbo da espera sem fim os que esperavam requalificar a política e ainda trazer para a ordem do dia o discurso atual da sustentabilidade.

No caso do ministro Barbosa, a tese, de per si, era muito bem-vinda para a autoestima da democracia brasileira, que volta e meia adquire contornos de simulacro – não obstante o longo período em que a sua normalidade se fez instituir. O ministro do STF seria a coroação desse período contínuo em que elegemos o primeiro operário e a primeira mulher para o cargo na história do país. Seria honroso ter Joaquim Barbosa na Presidência, ademais pelo fato de que nada ficaríamos a dever a outra grande democracia do Ocidente.

Mas o balão de ensaio não passou mesmo disso. E Barbosa talvez não reunisse as condições que o habilitaria para a empreitada. No comando do STF, sobraram demonstrações suas de certa intransigência para o convívio pacífico com os que pensam de modo adverso – condição sine qua non para o sucesso na seara da política, popularmente traduzida como a arte de engolir sapos.

Uma pena, Barbosa é belo exemplo de brasileiro que venceu pelo esforço e talento e o Brasil bem mesmo que merecia ter um negro no comando – como reconhecimento da nossa eclética formação.

Da forma como se desenrola até aqui, a sucessão presidencial será promessa vã de mais do mesmo, a despeito da ‘cara nova’ que Eduardo Campos pode emprestar ao cenário montado como instrumento marketing político. Os órfãos da nova ordem vão seguir adiante, lanterna nas mãos, na busca por homens e mulheres honestos e essencialmente honrados, pouco apegados aos confortos materiais, a exemplo do que buscava o filósofo grego Diógenes de Sínope, o Cínico.

Como tem sido da praxe brasileira desde sempre, na hora 'H' a mudança não vem, porque a elite de plantão sempre arruma o velho jeitinho para arrefecer o potencial das insatisfações acumuladas e mudar a agenda do debate. Será necessário voltar as ruas e por lá perambular por algumas gerações até que a mudança ocorra.

De preferência sem destruir o que muito custou ao suor de todos como querem os black blocs - mesmo que cobertos de razão e decepcionados com a opção que os políticos oferecem na cardápio da velha política: as velhas alianças pragmáticas e programáticas que dominam o cenário desde a redemocratização - vide a Nova República de Tancredo Neves, Ulisses Guimarães e José Sarney até os muitos conchavos patrocinados por Lula e quejandos. É a sina que cumprimos desde que seu Cabral chegou aportou por aqui e sempre destinadas a deixar o povo na margem.

(*) Luís Cláudio é jornalista e editor do blog EM TEMPO REAL, artigo publicado em 13/10/2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sinta-se à vontade para postar seu comentário.
Espaço aberto à participação [opinião] e sujeito à moderação em eventuais comentários despretensiosos de um espírito de civilidade e de democracia.
Obrigado pela sua participação.
FN Café NEWS

FATOS DA SEMANA

Mapa Geopolítico do Rio São Francisco

Mapa Geopolítico do Rio São Francisco
Caracterização do Velho Chico

Vocé é favorável à Transposição do Rio São Francisco?

FN Café NEWS: retrospectiva