Os
órfãos da nova ordem que não virá tão cedo
(*) Por Luís Cláudio Guedes
Há uma turma órfã nas
redes sociais e na política brasileira: aquela que desejava ver o
ministro-presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, candidato a
presidente da República. Essa turma se confunde em alguns momentos com aquela
outra que apostou suas fichas em Marina Silva (PSB) como a musa dos protestos
de junho passado.
A guinada da ex-senadora
de porta-voz da horizontalidade na política rumo aos olhos azuis do governador
Eduardo Campos não será bem digerida pelos ‘sonháticos’, que desejavam
estabelecer nova ordem pátria, quiçá mundial. Do sonho, restaram essa
esquisitice da estação, representada pelos
black blocs e sua sanha contra as vidraças fumê do capitalismo e a
pouca eficácia para mobilizar quem anda de saco cheio com tudo isso que está
aí, mas que ainda conserva boa reserva de bom-senso e juízo para se deixar
levar na direção do anarquismo sem objetivo.
O vácuo deixado pela
opção preferencial de Marina por uma aliança com Campos tem impacto maior na
desilusão dos novos órfãos da política nacional, exatamente por deixar no limbo
da espera sem fim os que esperavam requalificar a política e ainda trazer para
a ordem do dia o discurso atual da sustentabilidade.
No caso do ministro
Barbosa, a tese, de per si, era muito bem-vinda para a autoestima da democracia
brasileira, que volta e meia adquire contornos de simulacro – não obstante o
longo período em que a sua normalidade se fez instituir. O ministro do STF
seria a coroação desse período contínuo em que elegemos o primeiro operário e a
primeira mulher para o cargo na história do país. Seria honroso ter Joaquim
Barbosa na Presidência, ademais pelo fato de que nada ficaríamos a dever a
outra grande democracia do Ocidente.
Mas o balão de ensaio
não passou mesmo disso. E Barbosa talvez não reunisse as condições que o
habilitaria para a empreitada. No comando do STF, sobraram demonstrações suas
de certa intransigência para o convívio pacífico com os que pensam de modo
adverso – condição sine qua non
para o sucesso na seara da política, popularmente traduzida como a arte de
engolir sapos.
Uma pena, Barbosa é belo
exemplo de brasileiro que venceu pelo esforço e talento e o Brasil bem mesmo
que merecia ter um negro no comando – como reconhecimento da nossa eclética
formação.
Da forma como se
desenrola até aqui, a sucessão presidencial será promessa vã de mais do mesmo,
a despeito da ‘cara nova’ que Eduardo Campos pode emprestar ao cenário montado
como instrumento marketing político. Os órfãos da nova ordem vão seguir
adiante, lanterna nas mãos, na busca por homens e mulheres honestos e
essencialmente honrados, pouco apegados aos confortos materiais, a exemplo do
que buscava o filósofo grego Diógenes de Sínope, o Cínico.
Como tem sido da praxe
brasileira desde sempre, na hora 'H' a mudança não vem, porque a elite de
plantão sempre arruma o velho jeitinho para arrefecer o potencial das
insatisfações acumuladas e mudar a agenda do debate. Será necessário voltar as
ruas e por lá perambular por algumas gerações até que a mudança ocorra.
De preferência sem
destruir o que muito custou ao suor de todos como querem os black blocs - mesmo que
cobertos de razão e decepcionados com a opção que os políticos oferecem na
cardápio da velha política: as velhas alianças pragmáticas e programáticas que
dominam o cenário desde a redemocratização - vide a Nova República de Tancredo
Neves, Ulisses Guimarães e José Sarney até os muitos conchavos patrocinados por
Lula e quejandos. É a sina que cumprimos desde que seu Cabral chegou aportou
por aqui e sempre destinadas a deixar o povo na margem.
(*) Luís
Cláudio é jornalista e editor do blog EM TEMPO REAL, artigo publicado em
13/10/2013
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