Mais
de 2 mil políticos eleitos em 2012 são flagrados recebendo Bolsa Família
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– Portal iG Brasília
BRASÍLIA (DF) – Um total de 2.168 políticos eleitos
no ano passado e que assumiram cargos de prefeito e vereador no início do ano
foram flagrados pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) como
beneficiários do programa Bolsa Família, do governo federal, no primeiro
semestre deste ano. Após detectar esses casos, o governo bloqueou o benefício
de todos eles.
Cartão Bolsa Família. Foto: Agência Estado 2013. |
Pela primeira vez, o ministério fez o cruzamento da
folha de pagamentos do programa de transferência de renda com a base de dados
de uma eleição municipal do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Essa verificação
durou aproximadamente um semestre. Segundo a pasta, a iniciativa visava evitar
que “políticos eleitos empossados estivessem na condição de beneficiários do
Bolsa Família”.
Apesar de tentar vetar a prática, o governo
reconhece que houve pagamentos a políticos com cargo eletivo no início do ano.
Todos os 2,1 mil políticos flagrados pelo Ministério do Desenvolvimento Social
foram obrigados a ressarcir os cofres públicos, conforme informações do
ministério.
De acordo com o artigo 25 do decreto 5.209/04, que
regulamenta o Bolsa Família, o beneficiário do programa perde o direito ao
recebimento quando ocorre “posse em cargo eletivo remunerado, de qualquer uma
das três esferas de governo”. O Ministério do Desenvolvimento Social não
divulgou informações detalhadas sobre o cancelamento de benefícios por cidade
ou estado.
No início do ano, surgiram vários casos de
denúncias de vereadores eleitos recebendo o Bolsa Família. Entre eles, estava o
do vereador piauiense Sebastião Passos de Sousa (PSB), conhecido como Cabelo
Duro, da cidade de Luís Corrêa, distante 365 quilômetros de Teresina. A família
dele foi incluída no programa desde junho de 2001, alegando ter renda per
capita de R$ 30. Ele recebia, junto com a esposa e mais quatro filhos, o valor
de R$ 198 ao mês do programa. Entretanto, a renda familiar de Cabelo Duro era
de aproximadamente R$ 3,1 mil. Ele responde a um processo de cassação na Câmara
de Vereadores de Luís Corrêa por improbidade administrativa.
No Maranhão, também foram detectados casos em
cidades como Coroatá, distante 247 quilômetros da capital e em Fortaleza dos
Nogueiras, a 661 quilômetros de São Luís. Em Coroatá, a denúncia foi contra o
vereador Juscelino do Carmo Araújo (PT) que recebia o benefício mesmo tendo um
patrimônio declarado de R$ 320 mil à Justiça Eleitoral. Em Fortaleza dos
Nogueiras, a denúncia foi contra o vereador Edimar Dias (PSD).
Apesar dos indícios de irregularidade, o ministério
informou que não foram expedidas notificações ao Ministério Público Federal
(MPF) que ensejassem ações de improbidade administrativa ou procedimentos criminais
nestes casos flagrados no início do ano. O político flagrado utilizando
indevidamente o Bolsa Família pode ser alvo de uma investigação criminal pelo
MPF e responder por improbidade administrativa ou peculato.
Este ano, o MPF impetrou algumas ações contra
políticos que recebiam Bolsa Família mas de flagrantes de recebimento ilegal
ocorrido em anos anteriores. O caso mais notório ocorreu no Ceará. O vereador
de Fortaleza, Leonel Alencar (PTdoB) responde a uma ação no MPF por causa da
sua esposa, Adriana Lúcia Bezerra de Alencar, que teria recebido indevidamente
o benefício durante o ano de 2009. Foram oito saques quando a renda familiar do
casal já ultrapassava R$ 10 mil, somando-se a remuneração do vereador. A defesa
de Leonel Alencar afirmou ao iG que os depósitos ocorreram sem a
anuência do casal já que eles tinham uma conta de energia baixa e, por conta
disso, haveria o depósito automático do benefício do Bolsa Família na conta do
casal.
Mulher de vereador de
Fortaleza recebia dinheiro do Bolsa Família
Ao justificar o erro, Leonelzinho, que tenta a
reeleição, revelou que Adriana Lúcia se inscreveu no programa para se
beneficiar de tarifa reduzida de energia para famílias de baixa renda
Daniel Aderaldo - iG Ceará
Leonelzinho admitiu erro por mulher receber Bolsa
Família e pediu desculpas
A mulher do vereador de Fortaleza e candidato à
reeleição Leonelzinho Alencar (PTdoB) foi beneficiária Bolsa Família por 14
meses. De outubro de 2009 a dezembro de 2010, Adriana Lúcia Bezerra de Alencar
sacou, ao todo, R$ 176 do programa do governo federal.
O Portal da Transparência apresenta o registro de
oito saques no valor de R$ 22 cada nos meses de outubro, novembro e dezembro de
2009 e janeiro, fevereiro, março, abril e agosto de 2010.
A Secretaria Municipal de Assistência Social
(Semas), responsável pela gestão do banco de dados do Cadastro Único para
programas sociais, informou que a inscrição da esposa do vereador foi feita em
8 de junho de 2007. Na época, foi declarado que a família da mulher do vereador
possuía renda per capita de R$ 139.
Leonelzinho admitiu a irregularidade, pediu
desculpas e chegou a chorar durante pronunciamento na tribuna da Câmara
Municipal de Fortaleza na manhã desta quarta-feira (22).
Mas ao tentar justificar o ato, acabou revelando
outro erro. Segundo ele, a mulher se inscreveu no Cadastro Único para ter
direito a uma tarifa social da Companhia Energética do Ceará (Coelce) exclusiva
a famílias de baixa renda com pequeno consumo mensal de energia elétrica.
Leia mais: Ausência de
Dilma em Fortaleza decepciona Cid Gomes
“Jamais autorizei ou mesmo compactuei com a
inserção do nome”, disse o vereador, eximindo-se de culpa. “Qualquer pessoa de
bom senso sabe que minha família não precisa de nenhum tipo de beneficio social
para sobreviver”, declarou ainda.
Leonelzinho informou que irá devolver os valores
sacados do programa Bolsa Família “com correção monetária” e que a mulher vai
responder à Justiça pelos erros. O Ministério Público está apurando o caso e já
notificou a mulher do vereador. Ela tem dez dias para formalizar sua defesa.
Úrsula Lélis - Montes Claros (MG), via Facebook: "Brincadeira, não é?"
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