Filha de Rubens Paiva disse
que família se sentiu aliviada com revelação sobre a morte do pai
O deputado federal Rubens Paiva foi morto no DOI-Codi, diz Comissão da Verdade. Foto: Arquivo Globo News. |
Luciano Nascimento/Repórter da Agência Brasil
BRASÍLIA - “O sentimento ontem (4) foi mais uma vez
dar conta do luto interminável de 42 anos. Hoje é uma certa sensação de
alívio,” disse emocionada a psicóloga Vera Paiva durante entrevista coletiva a
respeito da revelação da Comissão Nacional da Verdade (CNV) sobre a morte de
seu pai, o ex-deputado Rubens Paiva. Documentos revelados pela comissão indicam
que Paiva morreu sob custódia do Destacamento de Operações de Informações -
Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) do 1º Exército, no Rio de
Janeiro.
A filha de Rubens Paiva elogiou o trabalho da CNV e
disse que se sentia privilegiada com o fato do caso do seu pai ter sido o
primeiro “elucidado” pela comissão, mas considerou que ainda gostaria de saber
quem de fato o torturou. “A gente imaginava que tinha acontecido, tinha
indícios, mas não tinha prova material. Com esses últimos documentos, um
capitulo se encerrou, mas nós temos outros que é chegar, de fato, a quem
procedeu a tortura e a morte de meu pai.”
Vera disse que a família espera que as pessoas
responsáveis pela morte de Rubens Paiva sejam julgados “com direito a defesa,
diante de uma lei que não seja de exceção.” E acrescentou que não é uma questão
de revanchismo, mas de “justiça democrática”. "Eu gostaria que acontecesse
com elas o que não aconteceu com toda a geração de brasileiros que foi presa,
torturada e assassinada ou desapareceu como no caso do meu pai.”
O coordenador da CNV, Cláudio Fonteles disse que a
comissão está investigando e espera poder chegar em breve aos nomes da equipe
que torturou e executou o ex-deputado, bem como de quem foi a ordem. De acordo
com Fonteles, três pessoas seriam as responsáveis pela morte de Paiva. Uma
delas já teria morrido. “Nós temos provas documentais sobre o caso e estamos
tomando providências para ouvir essas pessoas,” revelou.
Durante a entrevista, Vera se emocionou ao lembrar
do pai e disse que embora a Comissão de Anistia tenha reconhecido a morte de
Rubens Paiva, em 1997, o fato de não ter informações sobre as circunstâncias da
morte do ex-deputado sempre angustiou a família. “Eu resolvi essa questão em
1981 quando tive que dizer pra mim mesma que meu pai estava morto. Minha mãe só
resolveu isso [no espírito dela] em 1997, quando recebeu o atestado de óbito no
governo de Fernando Henrique Cardoso”.
Acompanhada durante a entrevista por amigos que
também participaram da luta pela anistia e pelo ministro da Educação, Aloizio
Mercadante, Vera disse que também espera que outros casos sejam investigados e
esclarecidos pela CNV. “Temos vários casos de mais famílias que a gente precisa
ajudar a investigar,” disse.
A versão oficial da ditadura militar indicava o
ex-deputado como desaparecido. Na versão divulgada pelo 1º Exército, Rubens Paiva
foi resgatado por militantes de esquerda no dia 22 de janeiro de 1971, enquanto
estava sob custódia dos militares. As investigações da Comissão Nacional da
Verdade indicam que o ex-deputado foi assassinado, sob tortura, nas
dependências do DOI-Codi do Rio de Janeiro.
Edição: Fábio Massalli
Rubens Paiva morreu no DOI-Codi, diz coordenador da Comissão da Verdade
O deputado Rubens Paiva desapareceu em
1971
AGÊNCIA BRASIL
O
deputado Rubens Paiva, desaparecido em 1971. Em 2011, a exposição "Não
tens epitáfio pois és bandeira" resgatou a trajetória de vida e a obra do
ex-deputado. (Foto: Renato Araújo/ABr)
|
“Na minha conclusão eu afirmo
categoricamente que ele [Rubens Paiva] foi morto no DOI-Codi [Destacamento de
Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna] pelo 1º
Exército,” disse na noite de segunda-feira (4) o coordenador da Comissão
Nacional da Verdade (CNV), Cláudio Fonteles. “A prova documental é muito forte.
Ela vem do próprio sistema ditatorial militar com a tarja de secreto”.
Em novembro de 2012, a comissão recebeu
uma série de documentos com informações inéditas sobre o desaparecimento do
deputado Rubens Paiva em 1971. Os documentos recebidos pela comissão em
novembro, em Porto Alegre, confirmam que após ser preso por uma equipe do
Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (Cisa), em 20 de janeiro de
1971, em sua casa, no Rio de Janeiro, Paiva foi entregue ao DOI-Codi no dia
seguinte.
Fonteles disse que os documentos
permitiram construir outra linha de investigação sobre o desaparecimento de
Rubens Paiva. “No caso do Molina, nós tínhamos dois documentos que mostram que
membros do Cisa prenderam Rubens Paiva e mais duas senhoras e entregaram essas
pessoas no DOI-Codi do 1º Exército”, disse Fonteles.
A confirmação do assassinato, de acordo
com o coordenador da CNV, veio com dois documentos encontrado no Arquivo
Nacional. O Informe nº 70, de 25 de janeiro de 1971, redigido pela agência do
Rio de Janeiro do Serviço Nacional de Inteligência (SNI). O documento, de
caráter confidencial, informa o que aconteceu com Rubens Paiva do dia 20,
quando foi preso, até o dia 25 de janeiro.
Para Fonteles, os documentos revelados
desmontam a versão oficial da ditadura militar de que o ex-deputado teria sido
resgatado por “terroristas” no dia 22 de janeiro, enquanto estava sob custódia
do Exército e indicam que o ex-deputado foi assassinado, sob tortura, nas
dependências do DOI-Codi do Rio de Janeiro. “Mentiu. Mentiu sim a versão
oficial do Estado ditatorial militar que dizia que ele fugiu e que estaria
foragido até hoje.”
Em dezembro, a Câmara do Deputados fez
uma sessão solene para devolver simbolicamente os mandatos dos deputados
perseguidos e cassados pelo regime militar, entre eles, Rubens Paiva.
Fonteles acredita que o desaparecimento
de Rubens Paiva está esclarecido e que é possível, caso os parentes desejem,
entrar com pedido para que a Justiça oficialize a sua certidão de óbito. “Para
mim está esclarecido. Só falta pontuar quem foi que matou. Quem matou, você não
tenha a menor dúvida, foi o Estado ditatorial militar. Agora, alguém deu um
tiro, alguém deu socos. Só falta saber o nome.”
O próximo passo será ouvir os militares
envolvidas com o desaparecimento. “Há uma outra equipe que a partir daqui vai
ouvir pessoas envolvidas na questão e apontar as responsabilidades, disse.”
Desde novembro, a CNV vem divulgando na
internet vários textos sobre esses e outros assuntos. Além do caso Rubens
Paiva, a comissão também divulgou na segunda-feira documentos sobre o
desaparecimento no Brasil do jornalista Edmur Camargo, o Gauchão, e retomou a discussão
sobre o Estado ditatorial militar. "Os textos são uma primeira devolução
da comissão à sociedade sobre o período da ditadura," disse Fonteles, que
fica na coordenação até o dia 15 de fevereiro, quando será substituído por
Paulo Sérgio Pinheiro, que também é integrante da CNV.
Atestado de óbito de Vladimir Herzog dirá que ele morreu por maus-tratos
Retificação foi pedida pela Comissão Nacional da Verdade
O jornalista Vladimir Herzog na redação da BBC, em Londres, em 1965. (Foto: Instituto Vladimir Herzog) |
AGÊNCIA
BRASIL
O juiz Márcio Martins Bonilha Filho, da
2ª Vara de Registros Públicos do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP),
determinou na noite de segunda-feira (24) a retificação do atestado de óbito do
jornalista Vladimir Herzog, que morreu em 1975 na capital paulista. O atestado,
emitido no período da ditadura, indicava que sua morte foi consequência de
suicídio. Porém, por ordem da Justiça o atestado de óbito informará que a morte
dele foi causada por maus-tratos.
O juiz determinou que, a partir de agora,
passe a constar no documento a seguinte informação: “A morte [de Herzog]
decorreu de lesões e maus-tratos sofridos em dependência do 2º Exército – SP
(DOI-Codi)”. O DOI-Codi era a sigla conhecida do Destacamento de Operações de Informações
- Centro de Operações de Defesa Interna subordinado ao Exército, que atuava
como órgão de inteligência e repressão do governo.
A retificação foi um pedido da Comissão
Nacional da Verdade, representada pelo coordenador, ministro Gilson Dipp. A
solicitação foi encaminhada a pedido da viúva Clarice Herzog. Na decisão, o
juiz Bonillha Filho elogiou a atuação da comissão.
“[A comissão] conta com respaldo legal
para exercer diversos poderes administrativos e praticar atos compatíveis com
suas atribuições legais, entre as quais recomendações de ‘adoção de medidas
destinadas à efetiva reconciliação nacional, promovendo a reconstrução da
história’”, disse o magistrado na sua decisão.
Nascido na Croácia, Vlado Herzog passou a
assinar Vladimir por considerar seu nome exótico. Naturalizado brasileiro, ele
se tornou um dos destaques do movimento pela restauração da democracia no
Brasil, depois do golpe militar de 1964. Era militante do Partido Comunista e
sofreu torturas em São Paulo.
Em 25 de outubro, Vladimir foi encontrado
morto. Segundo informações fornecidas na época, o jornalista foi localizado
enforcado com o cinto que usava. Porém, a família e os amigos jamais aceitaram
essa versão sobre a morte dele. Nas fotos divulgadas, o jornalista estava com
as pernas dobradas e no pescoço havia duas marcas de enforcamento, indicando
estrangulamento. No período da ditadura, eram comuns as versões de morte
associadas a suicídio.
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