15 músicas do cantor Pedro Boi foram plagiadas por músico paulista, diz reportagem do Estadão
Deu, sábado
(9/2), no jornal O Estado de S. Paulo matéria intitulada 'Balada número 171' na
qual noticia o plágio de 15 músicas do álbum Passarim, do cantor e compositor Pedro Boi,
que mora em Montes Claros-MG. As obras foram plagiadas na sua essência musical
- o conteúdo - pelo músico paulista Nelson Moralle Junior, radicado em São
Roque, interior do Estado de São Paulo.
De acordo com o compositor Marcelo Ribeiro, amigo de Pedro Boi, “Nelsinho Moralle é um plagiador. Em nada difere de um ladrão de obras de arte", diz Ribeiro.
Reportagem de Julio
Maria - O Estado de S.Paulo
Veja também:
Pedro
Boi nasceu num 29 de junho. Pedro Raimundo dos Reis, o Pedro Boi é da cidade de
Ibiracatu e veio para Montes Claros com sete anos de idade. Ele conta que seu
primeiro instrumento foi a sanfona que ganhou de presente do pai. O primeiro
cachê já recebeu com 11 anos de idade, quando tocou em uma festa de quadrilha.
LP (Longplay) Passarim, de Pedro Boi, foi plagiado. |
De acordo com o compositor Marcelo Ribeiro, amigo de Pedro Boi, “Nelsinho Moralle é um plagiador. Em nada difere de um ladrão de obras de arte", diz Ribeiro.
A seguir,
confira a íntegra da matéria publicada no site do ESTADÃO, jornal como é mais conhecido no meio
jornalístico e na Internet.
Balada número 171
Por que as músicas de Pedro Boi foram parar no disco de um homem chamado Nelson Moralle? A resposta lembra uma sinistra obra de ficção
Nelson Moralle acusado de fraudar letras e músicas do compositor montesclarense [por adoção] Pedro Boi. Foto: JF Diorio/AE |
Nelson Moralle Junior existe. É um homem
moreno, cabelos grisalhos, estatura média, acabou de comprar um violão e mora
com a mãe em uma casa simples numa das principais ruas de São Roque, no
interior de São Paulo. Sua fala é baixa, seu olhar não vacila e, não fosse uma
incontinência verbal que o faz repetir a frase "cê tá me entendendo?"
quando aparenta nervosismo, seria um mestre da persuasão. Nelson Moralle
existe, mas o mundo que habita pode ser uma assustadora obra de ficção.
TV Estadão: Assista trecho da entrevista com Nelson Moralle
Nelson
Moralle: Muito a explicar sobre cada detalhe que aparece em seu disco
A faísca que virou fogueira nas redes
sociais chama-se Naturalmente
Brasileiro, um CD lançado por ele em 2010. A capa tem o rosto e o
nome de Nelson Moralle e o encarte traz uma lista de 15 músicas, todas creditadas
a ele como compositor. O nome de Almir Sater aparece como "produtor e
arranjador" do álbum, além de parceiro de Moralle na música Vida de Violeiro. Os logos
das empresas Caixa Econômica Federal e Petrobrás estão na contracapa, como se
fossem patrocinadoras do projeto. Além do CD, o material traz um DVD com um
documentário chamado Quilombolas.
Foi com esse material que Moralle se apresentou em casas de show, programas de
TV, deu entrevistas a rádios e rendeu matérias em jornais. Ele afirma que fechou
2012 com 102 apresentações, cobrando cachês que vão de R$ 1,5 mil a R$ 6 mil.
Em 2011, Moralle foi entrevistado por
Antonio Abujamra no programa Provocações,
da TV Cultura, como líder de uma comunidade quilombola de São Roque. Chegou a
ser apresentado por Abujamra como exemplo de superação, um homem que aprendeu a
ler e a escrever aos 35 anos. Em outro programa, do Canal Rural, é descrito
pela apresentadora como "um músico com 30 anos de carreira que já
trabalhou com Clara Nunes, João Bosco e Alceu Valença". Uma trajetória
perfeita, se o mundo não fosse um pouco menor do que Moralle imaginou.
A 832 quilômetros de São Roque, em Montes
Claros, Minas Gerais, o cantor e compositor Pedro Boi atendia clientes em seu
bar quando um amigo chegou intrigado: "Acho que ouvi alguém cantando uma
música sua lá no Recife". Um tempo depois e Pedro, 59 anos e 35 de
carreira, recebeu de outros amigos de São Paulo o CD com o nome de Nelson
Moralle na capa. Ao ouvi-lo, seu coração foi à boca e seus instintos primitivos
afloraram. "Eu só queria matar aquele moço", diz. As 15 músicas do
disco Naturalmente Brasileiro eram
exatamente as mesmas gravações que estavam em seu álbum, Passarim, lançado dois anos
antes. Mais do que plágio, as canções que apareciam no CD de Moralle, diz Pedro,
haviam sido "transferidas" para o disco de Nelson. Ou seja, Nelson
estaria dublando sobre a voz do mineiro e assumindo as autorias de suas
canções, mudando apenas o título de cada uma delas no encarte do disco. Romance de Colibri, assinada
por Pedro e seu parceiro Braúna, virava Colibri
Apaixonado; Su
aparecia como Sereia de Água
Doce; Meu Cavalo se
Chama Disco Voador, também de Pedro e Braúna, ganhava o nome de Histórias de Pescador.
A saga de como as músicas do disco de
Pedro chegaram às mãos de Nelson é contada pelo mineiro, que diz ter hoje
dificuldades para ouvir o próprio disco. "Não consigo. Logo me vem à mente
o rosto dele e eu fico louco de raiva." Pedro narra que, depois de
conhecer suas canções em um show em Porto Seguro, na Bahia, Nelson ligou para
sua casa pedindo uma cópia de seu disco. Apresentou-se como um funcionário do
Sesc que gostaria de agendar shows para o músico em São Paulo. Nelson teria
ainda ligado outras vezes, pedindo o número do protocolo dos Correios para
localizar o disco. Pedro passou os dados e esperou pela data de show. "Ele
nunca mais atendeu aos meus telefonemas", diz Pedro.
A reportagem foi primeiro atrás dos nomes
e das empresas citadas no encarte do disco de Nelson Moralle. Almir Sater seria
mesmo o produtor e arranjador do CD, além de parceiro de Moralle em uma das
canções? "Eu? Nunca ouvi falar o nome desse rapaz", diz o violeiro. A
Petrobrás seria mesmo uma das empresas patrocinadoras do projeto, conforme
indica a contracapa do disco? "Não encontramos em nossos arquivos registro
de patrocínio ao projeto mencionado." E foi além: "Estamos analisando
eventuais medidas cabíveis, diante do uso indevido da logomarca",
informou, por meio de sua assessoria de imprensa. Segundo a empresa, o logo
usado no material não condiz com a marca impressa em projetos patrocinados no
Brasil. A Caixa Econômica Federal também não encontrou nenhum registro de
patrocínio, nem no nome do artista nem da empresa que seria a proponente,
segundo Nelson Moralle: a JMSMusic. José Martins, responsável pela JMS Music,
diz que não é proponente nem responsável por captação de recursos. "A
única coisa que fiz aqui foi imprimir as cópias do disco, que já chegou
gravado."
O Ecad, escritório central que cuida dos
direitos autorais no Brasil, registra várias das músicas que estão no disco de
Nelson Moralle em nome de Pedro Boi: Francisco,
Jequitaí, Mariana, Meu Cavalo se Chama Disco Voador,
Meu São João, Passarim Cantadô, Passarinho Canoro, Romance de Colibri, Saudade da Vila, Su, Tem Dó, Ventania e Zumbi. Não há nenhum registro
no nome de Nelson Moralle Junior. Na esteira de Pedro Boi, outras autorias
assumidas por Nelson começaram a ser contestadas. "Nelsinho Moralle é um
plagiador. Em nada difere de um ladrão de obras de arte", diz o compositor
Marcelo Ribeiro, amigo de Pedro Boi. A cantora baiana Ju Motta chegou a gravar Romance de Colibri,
"cedida" por Nelson Moralle, em um disco que não chegou a lançar.
"Eu não sabia que a música era do Pedro Boi e do Braúna, fui uma
vítima", diz. "Ele me fez assinar um contrato para 23 shows na
Europa, mas os patrocínios nunca saíram", conta outra cantora, France da
Matta, que chegou a namorar Moralle.
A delegacia de São Roque registra uma
prisão preventiva de Moralle, em 2006, por falsificação de documento e
estelionato. Uma outra condenação saiu em 2008, em Sorocaba, por parcelamento
irregular do solo. "Fui preso por uma armação política", diz Moralle.
A reportagem encontrou com ele em um café de São Roque. Moralle levou o violão,
rebateu as acusações e se disse vítima de uma perseguição. Quando a reportagem
pediu que ele tocasse as músicas que estão em seu disco, ele disse que não
sabia.
TRAJETÓRIA DE PEDRO BOI
Violonista,
compositor, cantor e pesquisador de fatos verídicos de sua região, no norte das
Minas Gerais, relacionado à luta pela terra, a guerra entre grileiros e
posseiros, Pedro Boi transforma tudo isso em música, além das letras
românticas, caipiras, o jeito simples de ser e dizer o que pensa. Esse mineiro
é um dos artistas brasileiros que luta pela música da terra.
Pedro Boi e seu inseparável violão. |
Na
maior cidade da região teria mais oportunidade. Começou tocando sanfona nos
grêmios infantis ou onde houvesse uma festinha: fossem os quintais ou as salas
da Vila Brasília. Dali veio a inspiração e o contato com seu primeiro parceiro,
Ildeu Braúna.
Começou
fazendo músicas para "tentar conquistar as menininhas". E como as
conquistas apareceram: foram muitas as namoradas. As canções, às vezes, eram as
mesmas. Mudava-se apenas os nomes das garotas.
A
partir deste início, a parceria foi crescendo e novos interesses pairavam sobre
sua cabeça: os problemas sociais, os conflitos, a ditadura vivida na pele. Tudo
se refletia nas músicas que já apareciam, aqui e acolá, em festivais. Alguns
modestos, como os da Escola Normal. Outros, mais arrojados, como o Festival
Universitário (Fucap) e Festival Rímula.
Figura
mais carismática, atraiu outros parceiros e interesses, surgindo assim o Grupo
Agreste, banda de música montes-clarense. E bastaram algumas apresentações nas
cidades do Norte de Minas para se consolidar a parceria dos rapazes. O cantador
Téo Azevedo, então um veterano produtor em São Paulo, ouviu o grupo, gostou e
viabilizou uma gravação.
Era o
começo da década e 80 quando saiu o primeiro disco, pelo selo Cristal, que
estorou como uma bomba, não só na região, mas em todo o Brasil. Carente deste
tipo de música - a regional inteligente - foram parar na novela da TV
Bandeirantes, "Rosa Baiana". As músicas eram Zumbi e Jaíba, parceria
de Pedro Boi com o poeta Ildeu Braúna.
O
segundo disco do Grupo Agreste foi lançado em 1982 e seguia o lado de obra
prima do primeiro. Os sucessos, como a "Lenda do Arco Íris" e
"Quebra Milho" (gravada depois pela dupla Pena Branca &
Xavantinho, com participação de Renato Teixeira) ainda hoje repercutem nas
reuniões informais e também nas formais, quando alguém sempre apanha um violão
e se põe a cantar. O Grupo Agreste passou, como passou a Banda de Chico
Buarque.
Pedro
Boi continuou músico, compositor dos bons e, como o violão em punho, seguiu seu
caminho compondo, agora não só com Braúna, mas também com Manoelito (José
Manoel), Guita, Charles Boavista (ex-Grupo Raízes) e Téo Azevedo entre
outros, mostrando a arte norte-mineira, no que ela tem de maior valor.
As
parcerias renderam três discos, sendo dois em vinil e um CD.O primeiro disco,
"Coração Estradeiro", chegou no fim da década de 80. Nele, uma mostra
do caminho andado, dos amores passados, da vida vivida. Um retorno ao seu
estado mais puro. Muita pesquisa, muita saudade. E o futuro para ser construído
a partir dali.
Os
shows foram se sucedendo, outras melodias foram sendo criadas, o segundo disco
solo, em 1993.
"Passarim",
ainda em vinil, mostrava não uma retomada, mas um alerta. Não sobre ecologia,
já em suas veias desde o início da caminhada ainda na distante Ibiracatu, hoje
transformada em cidade progressista. Um disco sério, com um conteúdo para
intrigar e instigar quem ouve.
E
deste trabalho sério surgiram os olhos dos cantores nacionais. Como Sérgio
Reis, que gravou "Passarim Cantadô". O mesmo aconteceu com Saulo
Laranjeira.
Mas o
progresso vem e vai. O vinil passou. Agora, sozinho, mais seguro de si, mais
vivido, mais compositor e músico, com todas as experiências passadas. E o novo
disco, em CD, traz "Passarim" com acréscimos e ainda contou com
participações especiais de Saulo Laranjeira, Grupo Vocal "Nós &
Voz" e Mariana
Morena.
E que bons acréscimos, tão esperados. São músicas novas e regravações dos discos
anteriores.
Para
marcar este início, pois Pedro Boi reinicia sempre, reinventa o inventado. E
cria. Agora, é parar e ouvir "Passarim", seguindo o sábio conselho do
velho mestre Zé Coco do Riachão: "Quem qué aprendê vai e vai, que a
temusia e a ceguêra de hum home, quando qué uma coisa, as vêz, é bem maió que
ele."
Após
fazer show por praticamente todas as cidades norte-mineiras, Boi partiu para a
capital mineira, onde o trabalho de divulgação foi seu principal objetivo. Ali
cantou em diversos eventos e formou a Banda do Boi Bonito, que é especialista
em apresentações de forró. "Mas o forró legítimo, aquele de pé de
serra", diz ele, influenciado por Luiz Gonzaga e Dominguinhos.
Fonte: Portal R7/ http://www.r7.com/
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