Programas contra plágio identificam similaridades entre teses e começam a ser usados na graduação em universidades
Universidades adotam maior rigor contra o plágio nos trabalhos acadêmicos de graduação e pós-graduação, Foto: Portal R7. |
Paulo Saldaña - O Estado
de S.Paulo
A universidade
brasileira tem aumentado a preocupação em identificar plágios em trabalhos
acadêmicos, com a adoção de softwares que apontam possíveis cópias. Um desses
programas já está sendo usado em 35 universidades do País, com o objetivo de
analisar pesquisas de pós-graduação e também trabalhos da graduação.
Segundo professores e especialistas em
ensino superior, problemas de plágio, como reprodução indevida de trechos e
mesmo de ideias, sempre existiu. Mas a internet fez com que a cópia se tornasse
mais comum - tanto pelo acesso a um volume gigantesco de informações quanto
pela facilidade do Crtl C, Crtl V (atalho do corte e cola).
Com o aumento do
problema, surgiram os softwares antiplágio, que funcionam como um grande
buscador. Em linhas gerais, eles cruzam o texto entregue com artigos da
internet, com um banco próprio de textos acadêmicos e com trabalho dos próprios
colegas, no caso de uso do programa na graduação.
"A licença
funciona de acordo com o tamanho da universidade e leva em conta o número de
alunos, por exemplo", diz a inglesa Alice Lupton, Gerente de
Desenvolvimento da América Latina do Turnitin, o mais popular software
antiplágio, que já fechou contrato com 35 universidades brasileiras.
A Universidade
Estadual Paulista (Unesp), por exemplo, paga uma licença anual de US$ 18 mil
para que a ferramenta esteja disponível para todos os professores. A
instituição já usa o dispositivo há três anos. De acordo com o presidente da
Comissão Permanente de Avaliação da Unesp, Carlos Roberto Grandini, o uso por
parte dos docentes depende de treinamento, que tem sido feito com regularidade.
Mas fica a critério de cada profissional decidir se vai usar. "É um grande
facilitador em teses, porque não é possível ter o domínio de todo o conteúdo
que existe", diz ele, que adota o software também em aulas de graduação e
usava quando foi editor de uma revista científica.
Grandini conta
que já recusou dois artigos na revista depois que o software apontou níveis
muito altos de similaridade. "Mas o software não diz se há plágio de fato,
o professor precisa analisar as indicações de similaridade e avaliar se há um
problema", diz. Segundo ele, ainda não houve casos graves em pesquisas, só
ocasiões em que os autores não haviam feito uma citação corretamente. "Esse
descuido é comum nos trabalhos de graduação, quando os alunos ainda não sabem
como pesquisar, como creditar." O ITA é outra instituição pública que
também adota o software.
Percurso. No início de maio, Alice Lupton percorreu
vários Estados brasileiros para apresentar o programa. Segundo ela, o interesse
das instituições de ensino e editoras de publicações acadêmicas cresceu com
notícias de casos de cópias em pesquisas.
O escândalo mais
recente foi com a ministra da Educação da Alemanha, Annette Schavan, que no ano
passado deixou o cargo após perder seu título de doutorado por acusações de
plágio. "É uma preocupação que ocorre no mundo todo, as instituições estão
preocupadas com a reputação", diz Alice. Só o Turnitin tem contratos com
universidades e editoras em mais de cem países. Na Inglaterra, por exemplo, a
taxa de uso entre universidades é de mais de 95%.
O Grupo Positivo
já usava há alguns anos o programa Farejador de Plágio e adotou em 2013 o
Turnitin, inicialmente em um programa de pós-graduação. "Nosso objetivo é
garantir a originalidade dos trabalhos. Instruímos o aluno sobre o que é plágio
e como evitar, porém, nem sempre isso acontece", diz o professor Maurício
Dziedzic, que coordena o Programa de pós em Gestão Ambiental da Universidade
Positivo (PR). Na medida em que os professores vão conhecendo o programa, o uso
aumenta.
Introdução. A adoção do caçador de plágios na
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) também tem sido
paulatina. O uso do software começou em 2013, também na pós-graduação, e o
plano é que os professores da graduação comecem neste ano.
"O próximo
passo é incluir a graduação. Hoje, acontece apenas em situações em que já foi
identificado o problema, de forma reativa", diz o professor César Augusto
De Rose, assessor de Tecnologia da pró-reitoria de pesquisa da PUC-RS.
De Rose afirma,
entretanto, que identificar um plágio não é tão simples. "Existe
dificuldade de não tipificar o plágio em um número, por isso o software não
pode ser definitivo. Temos de saber qual nível tolerável de similaridade",
diz.
A coordenadora
institucional do curso de Direito da Fundação Getúlio Vargas (Direito-GV),
Adriana Ancona de Faria, lembra que o software não é inteligente. "A
tecnologia não faz mágica. Ela só detecta o trecho reproduzido. O professor tem
de mapear as cópias."
Especialista
em análise de produção científica, o professor Rogerio Meneghini vê com bons
olhos o uso mais frequente dos softwares, mas faz uma ressalva em relação à
impressão de que vivemos em uma época com mais fraudes. "Não temos
informações sobre a extensão desse problema. Talvez o número de casos esteja
aumentando na medida em que os softwares têm sido utilizados."
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sinta-se à vontade para postar seu comentário.
Espaço aberto à participação [opinião] e sujeito à moderação em eventuais comentários despretensiosos de um espírito de civilidade e de democracia.
Obrigado pela sua participação.
FN Café NEWS