Audiência
no Senado destaca novos desafios com transposição do São Francisco, como a
necessidade de revitalização do rio
BRASÍLIA (DF)* - Senadores manifestaram preocupação com as ações
de revitalização do Rio São Francisco e a disponibilidade de água para a
transposição do rio que irá beneficiar 400 municípios em quatro estados —
Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. As obras de
transposição, com conclusão prevista para o final de 2015, foram tema de debate
em audiência pública na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA).
A conclusão das obras de transposição das águas do Rio São
Francisco, prevista para o final de 2015, colocará em evidência novos desafios,
como a necessidade de revitalização do rio, capacitação de gestores locais para
operar o sistema e racionalização do uso da água que chegará a 400 municípios.
Os próximos passos a serem enfrentados
pelo poder público foram destacados em audiência nesta quinta-feira (6) na
Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA). Com o debate, a comissão dá
prosseguimento às atividades de acompanhamento da política de recursos hídricos
para o semiárido nordestino.
Senadores
que participaram do debate, como Acir Gurgacz (PDT-RO), Ana Amélia (PP-RS) e
Kaká Andrade (PDT-SE), manifestaram preocupação como a redução da vazão
do rio São Francisco e a seca em suas nascentes. Em
resposta, o secretário executivo do Ministério da Integração Nacional, Irani
Braga Ramos, informou que foram gastos R$ 4 bilhões com obras de revitalização
do rio, com ênfase na proteção de nascentes e manutenção de matas ciliares.
Para
o secretário Irani Ramos, “existe grande preocupação do governo federal, mas é
um esforço permanente. Cada vez que cuidamos de uma nascente ou melhoramos a
margem em um pedaço do rio, percebemos que precisamos fazer mais em outra
nascente ou em outro trecho maior de margem”, disse o secretário.
Desafios após a conclusão das obras também
foram apontados por Carlos Motta Nunes, da Agência Nacional de Águas (ANA).
Para ele, a transposição fará com que a água deixe de ser um fator limitante ao
desenvolvimento da região, mas exigirá dos gestores locais capacitação para atuar
dentro da nova realidade.
Na visão da ANA, “com a transposição, a
água será entregue nos açudes e poderá deixar de ser fator limitante. Haverá
necessidade de adaptação do gestor, que poderá liberar água para outros fins,
sem risco de deixar a população à deriva — disse o executivo da ANA, Carlos Nunes,
ao observar os efeitos da transposição sobre as atividades produtivas.
Já José Silvério da Silva, do Ministério
da Agricultura, citou preocupação com a limitação dos recursos hídricos e a
necessidade de que sejam utilizados com eficiência e racionalidade. Nesse
sentido, argumento Silva: “a disponibilidade de água hoje é a mesma de 2 mil
anos atrás. No entanto, 2 mil anos atrás a população era equivalente a 3% da
população atual. Nos últimos 30 anos, o consumo de água cresceu duas vezes mais
que o crescimento populacional, ou seja, a demanda está sendo muito grande,
sendo necessário racionalizar seu uso”, frisou o representante do Ministério da
Agricultura.
Irrigação
Preocupação com uso da água para irrigação foi manifestada por
Ana Amélia e Fleury (DEM-GO). Em resposta, o secretário executivo do Ministério
da Integração Nacional explicou que o projeto foi concebido para abastecimento
humano em áreas urbanas, abrangendo 400 cidades do Ceará, Rio Grande do Norte,
Paraíba e Pernambuco.
No entanto, observou Irani Ramos, quando o
abastecimento urbano estiver garantido, açudes e outros reservatórios até então
destinados a esse fim poderão ser usados para irrigação e outras atividades
produtivas.
Nessa situação, será essencial o uso de tecnologias que aumentem
a eficiência da irrigação, conforme afirmou o representante do Ministério da
Agricultura, José Silvério. A média brasileira,
disse, é de 14 mil metros cúbicos de água por hectare por ano, acima da média
mundial, que é de 10 mil metros cúbicos de água por hectare por ano. Silvério disse
ainda que “estamos com eficiência de 45%. Se dobrarmos essa eficiência, podemos
reduzir para sete mil metros cúbicos por hectare/ano, ou seja, vai sobrar muita
água para outros usos”, argumentou o representante.
A demanda por água para irrigação tende a
ser crescente, uma vez que o aumento de produção de alimentos deverá estar
majoritariamente apoiado em cultivos irrigados, conforme dados apresentados por
pelo representante do Ministério da Agricultura. Para reduzir a pressão por
água no Nordeste, ele sugere a ampliação do uso de plantas nativas, que são
mais resistentes à seca.
Ao comentar novas demandas por água que
podem surgir com a transposição, o senador Kaká Andrade se disse preocupado com
a manutenção das atividades já existentes ao longo do rio. O senador diz
apreensivo que “poderemos sofrer colapso nos projetos de irrigação, por conta
de um rio São Francisco agonizante” lamentou o parlamentar do Senado, ao citar
problemas como
o assoreamento do rio, a queda de sua navegabilidade e a grande redução da
atividade pesqueira.
O presidente da CRA, senador Benedito de
Lira (PP-AL), manifestou intenção de promover uma visita de parlamentares às
obras de transposição do São Francisco, sendo apoiado por Acir Gurgacz e outros
senadores. Ao saudar o avanço do projeto, Benedito observou que as obras estão
sendo concluídas sem registros de graves acidentes com operários, à exceção de
um caso isolado em Alagoas.
*Com FN Café NEWS e Agência Senado
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