20 anos do impeachment de Collor: onde andará ‘o poder
da alegria’?
Por França Neto*
Passeata do "Fora Collor", na 'Praça Sete' em Belo Horizonte (MG). Fotos: Ricardo Medeiros 29 set. 1992. |
Com
‘25 anos de sonho e de sangue’, eu me lembro, nos idos de 1990, do dia em que
retornei a Belo Horizonte (BH) para estudar o ensino superior. Como ‘rapaz
latino-americano: sem dinheiro no Banco, sem parentes importantes, vindo do
interior’ (Belchior), meus dilemas pessoais, nesse prospecto subjetivo, eram
cada vez mais intensos e imensos, ao mesmo tempo. Desafios eram postos a todo
instante: estudos, desemprego, atropelamento no trânsito e intervenções médico-cirúrgicas
[CTI...].
Na
Capital mineira, descobri, naquele momento, que, ao vivenciar a ‘dor’, era
possível a alegria. Não uma alegria qualquer, tola. E descobri não só a alegria
de viver, mas ‘o poder da alegria’. Descobri então ‘o poder da alegria em
jovens’, como eu, que sonhavam e queriam, com toda a verve da indignação na
alma, mudar o Mundo, mudar o País.
Em
BH, mesmo com saúde debilitada, desloquei-me, no dia 29 de setembro de 1992, terça-feira, da minha
residência até à Praça Sete (‘do Pirulito’), coração e centro nervoso da
Capital. Ali, quase 100 mil pessoas, entre estudantes, jovens, aposentados, servidores públicos e trabalhadores, de maneira em geral, faziam passeatas marchando pelas avenidas e ruas
envolta da Praça,
com faixas, cartazes, e apitos, gritando, com mãos para o alto, de maneira
sonhadora e alegre: ‘Fora
Collor! Impeachment já!’.
No
‘poder da alegria’, juntei-me as essas manifestações pelas quais se pedia o
impedimento ou a
destituição de Fernando
Affonso Collor de Mello (ex-PRN) do cargo de presidente da República do Brasil [motivo: esquema de
corrupção que envolvia o ex-tesoureiro da campanha Paulo César Farias – corrupção ativa e passiva e tráfico de influências nos órgãos da
Administração Pública federal].
Ao
ser impulsionado pela maciça presença do povo nas ruas e praças das capitais e
principais cidades brasileiras, a Câmara dos Deputados votou, por 441 a 38
votos, pelo impeachment
do
presidente, através de sessão no plenário, em Brasília-DF, na qual se julgava a
cassação do mandato de Collor de Mello. Essa sessão foi transmitida ao vivo
pela TV brasileira, inclusive com telões montados na Praça Sete.
Éramos
então contagiados nos quatro cantos do País pelo ‘poder da alegria’. Ou melhor,
saímos com o sentimento, naquele período, de que ‘a nossa indignação não era
uma mosca sem asas’ e que, com mobilização, ‘ela (indignação) ultrapassa as
janelas de nossas casas’, contra-parafraseando a letra do Skank.
Hoje, sábado (29/9), ao se completar os 20 anos do
impeachment de Collor de Mello, indaga-se, por meio da transversalidade desses aspectos
políticos nos dias atuais: cadê ‘o poder da alegria’ capaz de suscitar a indignação
diante dos atuais esquemas de corrupção passiva e ativa na Administração
Pública brasileira? Será que nossa indignação se cristalizou na profecia do Skank? Ou mesmo, será que perdemos a nossa capacidade de
indignação, ou, de mobilização e participação social contra os escândalos e
abusos do sistema político representativo vigente? Enfim, onde andará ‘o poder da alegria’?
*Editor do FN Café NEWS - Publicação: 29/09/2012. Professor e Jornalista.
*Editor do FN Café NEWS - Publicação: 29/09/2012. Professor e Jornalista.
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