terça-feira, 23 de outubro de 2012

Entrevista na Eleição Municipal 2012 em MoC: Paulo Guedes X Ruy Muniz

Em Montes Claros, disputa pela prefeitura tem duelo de azarões

Paulo Guedes (PT) e Ruy Muniz (PRB) duelam segundo turno da eleição municipal para prefeito em Montes Claros.
Luiz Ribeiro*
MONTES CLAROS (MG) – A disputa do segundo turno em Montes Claros (sexto maior colégio eleitoral do estado, com 246,7 mil eleitores) está sendo travada por dois candidatos que podem ser considerados os grandes azarões da eleição, já que no início da campanha não figuravam entre os primeiros colocados nas pesquisas. Foram as estratégias eficientes que acabaram levando o deputado estadual Paulo Guedes (PT) e o ex-deputado estadual Ruy Muniz (PRB) ao duelo que será encerrado nas urnas no próximo domingo.

Ruy Muniz vinha em campanha desde que perdeu a eleição para a Câmara dos Deputados, em 2010. Mas enfrentava dificuldades por ser de um partido pequeno. Em junho, o prefeito Luiz Tadeu Leite, com uma série de problemas administrativos, anunciou a desistência de concorrer à reeleição e que deixaria para o seu partido, o PMDB, decidir que rumo tomar na eleição. Outros candidatos, temerosos de ser atingidos pelo desgaste do atual prefeito, nem quiseram conversa. No entanto, de forma surpreendente, Muniz, que até então era oposição ao atual governo municipal, preferiu o entendimento. Ele diz que se aliou aos peemedebistas para ter aquilo que vale ouro numa campanha política: tempo na televisão. Os adversários o acusaram de ser o candidato apoiado por Tadeu Leite, mas ele arrumou um jeitinho para que o atual prefeito não aparecesse em sua propaganda. Também apresentou uma série de promessas para “fazer de Montes Claros uma cidade boa de viver”.

Antes mesmo do início oficial da campanha, o petista Paulo Guedes já mostrava que sua ambição era bem maior que ficar numa posição intermediária na disputa – mesmo sabendo que poucos acreditavam no crescimento do seu eleitorado. Ainda em maio, Guedes buscou e conseguiu o apoio do PT nacional, que, entre outras coisas, assegurou recursos para seus programas de rádio e TV. O petista também passou a usar com intensidade em sua campanha os depoimentos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e imagens da presidente Dilma Rousseff. Com o conhecimento de que Montes Claros tem um grande número (23 mil) de beneficiários do programa Bolsa-Família, ele reforçou sua campanha nos bairros da periferia e nas comunidades rurais. Adotou o discurso da renovação, batendo diretamente nos outros candidatos, que saíram na frente nas pesquisas.

Faltando poucos dias para a eleição de segundo turno, o jornal Estado de Minas entrevistou os dois candidatos à Prefeitura de Montes Claros para saber deles como será esta reta final de campanha e os seus projetos para melhorar a vida da população. Ao final de cada entrevista, cada candidato respondeu à pergunta feita pelo adversário.

Paulo Guedes
Qual é o maior problema de Montes Claros hoje? E como resolvê-lo?
São vários os problemas. Um dos mais graves é a questão da saúde. Para resolvê-lo, é preciso fazer com que o PSF (Programa de Saúde da Família) consiga chegar em todas as partes do município, inclusive nas comunidades rurais. Vou criar o núcleo de apoio ao PSF, com nutricionistas, psicólogos e assistentes sociais. Também temos que melhorar o sistema de urgência e emergência e ter especialistas nos postos de saúde. Outro problema é a corrupção que tomou conta da prefeitura. Temos que colocar uma equipe técnica na prefeitura, valorizar o servidor público, melhorar as condições dos servidores municipais, para que eles possam ajudar a administrar a cidade. A cidade está largada. É lixo para todo lado, buraco para todo canto, obras e mais obras inacabadas. Tudo isso por desleixo da administração, que foi sucateada ao longo do tempo, principalmente na gestão atual. Então, é um prefeito que tenha a visão de fazer a máquina andar. Para isso, é preciso fazer com que os funcionários tenham entusiasmo em trabalhar na prefeitura, na saúde, na educação, na limpeza urbana e em todos os setores.
Seus adversários argumentam que o senhor é um candidato desconhecido em Montes Claros. Como reage a isso?
O resultado das eleições (no primeiro turno) mostrou o contrário. Se eu sou desconhecido, como cheguei em primeiro lugar? Os conhecidos, que estavam aí há 30 anos, perderam a eleição. Então, não sou desconhecido. As pessoas ouviram minhas propostas, acreditaram nelas e me levaram para o segundo turno em primeiro lugar. Então, não sou mais uma pessoa desconhecida. Sou uma pessoa muito próxima da população e daquilo que a população deseja neste momento.
Outro fato comentado por seus adversários é que trabalham em sua campanha muitas pessoas de fora. Se o senhor for eleito, quem vai trabalhar na sua administração?
Isso é uma informação mentirosa, caluniosa. Todas as pessoas que estão em minha campanha são de Montes Claros. Não preciso trazer ninguém de fora, até porque fiz (elegi) 40 prefeitos na região. Inclusive na minha cidade, Manga, elegi o prefeito, que é meu irmão. Então, não preciso ninguém de fora para cá. Eu sendo eleito, quem vai administrar é o prefeito, com uma equipe de técnicos. Vamos escolher um secretariado com perfil técnico para cada área. Vamos ter um grupo de engenheiros. Vamos dar um rumo novo para a cidade.
Uma das propostas apresentadas em sua campanha é que, sendo eleito, o senhor vai comprar toda merenda escolar da agricultura familiar. É possível isso na prática?
Um exemplo disso é que quando o Alonso Reis (PT) foi eleito prefeito em Porteirinha (Norte de Minas), ele passou a comprar praticamente toda a merenda da agricultura familiar – e alguma pouca coisa, óleo de cozinha, que não era dos agricultores familiares. Noventa por cento das coisas podem ser compradas da agricultura familiar. São frutas, verduras, frangos, ovos, leite, rapadura, farinha e biscoito.

Pergunta formulada pelo candidato Ruy Muniz
Porque você não quis ser prefeito de Manga ou de outra cidade do Vale do São Francisco para ter alguma experiência e depois tentar ser prefeito de Montes Claros? Gostaria de saber o que já fez pela cidade.
Eu fui vereador na cidade de Manga e estou no meu segundo mandato como deputado estadual. Tive grande experiência administrativa como diretor do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) em Montes Claros. Consegui recuperar o Dnocs, que estava tão falido e tão quebrado como a Prefeitura de Montes Claros está hoje. Com apenas 28 funcionários, consegui reerguer o Dnocs e fazer obras importantes na região. Construí barragens e levei água para 50 mil famílias em dois anos e oito meses. Projetei a maior obra de Montes Claros: a Barragem de Congonhas, que vai garantir água para a cidade nos próximos 100 anos. Como deputado, trouxe muitos recursos para Montes Claros. Garanti recursos para a reforma do mercado municipal e a prefeitura não teve competência para executar. Liberamos os recursos para a Avenida Sidney Chaves e a prefeitura está devolvendo. Também coloquei recursos de emendas para construir o centro para recebimento com câncer do Projeto Presente. Também consegui liberar recursos para a sede do Grupo de Apoio e Proteção aos Portadores da AIDS/HIV (Grappa).

Ruy Muniz
Qual é o maior problema de Montes Claros e como resolvê-lo?
O verdadeiro problema de Montes Claros é a falta de gestão eficiente. Agora, para o leigo, os maiores problemas são a falta de atendimento à saúde e a violência. Para resolver isso, é preciso uma gestão competente. Temos que nos organizar, fazendo um planejamento e um orçamento factível; trabalhar para aumentar as receitas do município, cobrar eficiência da equipe da prefeitura. Dessa forma, vamos conseguir oferecer melhor saúde – que dinheiro para a saúde tem, equipamentos de saúde existem. É preciso organizar esse sistema para ele funcionar bem. Outra questão é a violência, que as pessoas percebem como o (problema) mais grave, por causa dos homicídios relacionados com o tráfico de drogas. Temos que organizar um gabinete que reúna todas as forças da segurança, junto com a sociedade civil, o Poder Judiciário e o Ministério Público, para traçar uma meta para o combate ao tráfico de drogas.
Em seu programa de governo, o senhor fala em desenvolvimento sustentável do município. Na prática, o que seria isso?
Significa um desenvolvimento equilibrado e duradouro, que possibilita que as pessoas tenham trabalho de qualidade, melhor remuneração e respeito ao meio ambiente.
Um dos problemas da prefeitura é o excesso de funcionários. O senhor tem o apoio do PMDB, partido do atual prefeito. Se eleito, como vai equacionar a questão da folha de pagamento da prefeitura?
O comprometimento da folha de pagamento da Prefeitura de Montes Claros, hoje, aproxima-se de 40% das receitas correntes – e poderia ser de até 49,6%. De fato, não existe esse comprometimento que as pessoas falam. Pode ser até pela baixa remuneração do funcionalismo. Por exemplo: se tivesse esse excesso de funcionários, a cidade teria 120 ou 150 equipes do Programa de Saúde da Família (PSF) e tem 76. Não sou conhecido como um “facão”, um cara que demite. Sou conhecido como quem contrata, que gera empregos. Se na prefeitura tiver empreguismo – gente que trabalha só por causa de apoio político e não tem missão e não tem horário, essas pessoas vão sair fora. Vou implantar o ponto eletrônico em todas as áreas. Todo mundo vai ter que bater ponto, todo mundo vai ter que cumprir horário. Todo mundo vai ter metas, será avaliado e será remunerado dignamente. O problema não é demitir pessoas, mas aumentar receitas e melhorar a aplicação do dinheiro público.
Os seus adversários argumentam que o senhor representa o continuísmo. O que tem a dizer sobre isso?
As pessoas sabem que sou independente. Sou uma pessoa crítica e sei que Montes Claros está sendo mal administrada. A cidade está cheia de problemas. Então, não vou concordar com a administração que está aí. Não sou continuísmo. Sou inovador e, sendo eleito, vou administrar do meu jeito para recuperar a cidade, de maneira eficiente.

Pergunta formulada pelo candidato Paulo Guedes
Qual o milagre que você faz em relação ao seu patrimônio? Você declarou um patrimônio de R$ 400 mil e tem 9 mil funcionários em diversas empresas. Em nomes de quais pessoas está o seu patrimônio?
O meu patrimônio é este mesmo. Sou uma pessoa de classe média, que tem um patrimônio – fazendo uma avaliação completa – em torno de R$ 1 milhão. Na minha declaração do Imposto de Renda – se você olhou – constam R$ 400 mil, mas é valor histórico, que a contabilidade exige o valor histórico. Por exemplo: se comprei um carro por R$ 50 mil, tenho que colocar R$ 50 mil. Se comprei uma casa por R$ 100 mil, tem R$ 100 mil. Não vai mudar nunca isso. Mas aquela casa que comprei por R$ 100 mil, hoje pode valer R$ 300 mil ou R$ 400 mil. O meu patrimônio atualizado é R$ 1 milhão. Ricas são as empresas que ajudei a fundar e ajudo a administrar. Em grande maioria, elas são sociedades sem fins lucrativos. E essas entidades não têm dono, tem gestores. Todo o patrimônio imobiliário nosso – os prédios – está em nome das escolas. Dinheiro quem tem são as escolas e todo o dinheiro é reinvestido nas escolas, por isso elas crescem. Mas, não tenho nenhum problema fiscal ou jurídico em relação a isso. Não tenho e não uso laranjas.

*Jornal Estado de Minas – BH/Luiz Ribeiro – Publicação: 22/10/2012 07:58, com adaptações de texto e imagem do FN Café NEWS.

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