Mais Médicos amplia abismo salarial em 10 capitais brasileiras
Com informações de Adriana
Ferraz/ O Estado de S.Paulo*
Ao mesmo
tempo em que aumenta a capacidade de atendimento no País, o Mais Médicos amplia o abismo salarial entre profissionais
contratados para desempenhar igual função. A bolsa mensal de R$ 10 mil paga
pelo governo federal a brasileiros e estrangeiros que participam do programa
chega a ser mais do que o dobro dos rendimentos custeados por parte dos
municípios atendidos - sem contar os benefícios prometidos para auxílio com
despesas de alimentação e moradia. Os primeiros médicos estrangeiros do programa
começam a atuar hoje no País
Em Campo
Grande, por exemplo, a prefeitura paga salário inicial de R$ 4,7 mil a médicos
que trabalham 40 horas semanais com ações do Programa de Saúde da Família
(PSF). Há duas semanas, porém, brasileiros selecionados pelo Ministério da
Saúde atuam na cidade com contrato que garante R$ 10 mil no fim do mês.
Pelo
menos outras nove capitais brasileiras oferecem remunerações inferiores à
estipulada pelo Ministério da Saúde, segundo levantamento do Estado. Em muitas
delas, o rendimento dos médicos só passa de R$ 7,5 mil porque é complementado
com gratificações mensais ou bônus anuais, pagos em forma de prêmio por
desempenho. É o caso de Vitória, onde o salário-base para 40 horas semanais é
de R$ 5,4 mil, mas com os extras pode chegar a R$ 9,5 mil.
"O
prêmio anual vale até R$ 24 mil, divididos em duas parcelas. A maioria dos
nosso médicos atinge as metas e recebe esse valor todos os anos. Mas, mesmo com
os benefícios, temos dificuldades de contratar. O déficit atual é de cerca de
70 profissionais", diz a secretária de Administração Municipal de Vitória,
Sueli Mattos de Souza.
A mesma
distorção acontece em Goiânia, onde o salário-base para 40 horas de trabalho é
de R$ 2,4 mil. O valor, no entanto, é acrescido de gratificações já
incorporadas à folha, que elevam para R$ 7,9 mil a remuneração mensal, segundo
a Secretaria de Saúde. Situações semelhantes são registradas em Aracaju, Natal,
Cuiabá e Palmas.
Ameaça.
As diferenças, na avaliação do presidente da Associação Médica Brasileira
(AMB), Florentino Cardoso, podem provocar efeito indesejado no escopo do Mais
Médicos: a transferência de profissionais do quadro municipal para o federal.
"Por
que alguém vai aceitar desempenhar a mesma função, no mesmo local, com salário
inferior? Isso leva a insatisfação profissional, além de ser prejudicial para a
rotina de trabalho", diz Cardoso. Outro problema, segundo ele, cairá no
colo dos gestores locais. "A pressão será grande. Os servidores vão querer
aumento, é claro."
*Estadão/Colaborou
Fernanda Bassette
Mais Médicos é passo mais corajoso já dado, diz Padilha
Ricardo Brito - Agência Estado
O
ministro da Saúde, Alexandre Padilha, saiu novamente em defesa do programa Mais
Médicos, que tem entre suas linhas de ação a recepção de profissionais formados
em outros países pelo Brasil. "Nós sabemos que o Mais Médicos não é só um
primeiro passo para a melhoria da saúde pública, mas é o passo mais corajoso
que um presidente já deu", destacou ele nesta quinta-feira, 19, em
audiência que debate no Senado o financiamento da saúde no País.
Em um
pronunciamento recheado de números, Padilha disse que o programa se justifica
"por si" diante do que considera como baixa quantidade de médicos por
habitante no País: 1,8 médico por habitante. Ele destacou que, além do baixo
número de profissionais, boa parte dos médicos está se "aposentando".
Por essa razão, defendeu a ampliação no número de vagas dos cursos de medicina.
Primeiro
orador, o ministro se esquivou de falar diretamente sobre as propostas que
fixam porcentuais mínimos de recursos públicos federais para a saúde, principal
tema do debate. Ele chegou a comentar que, caso se fixe que 50% dos recursos das
emendas impositivas sejam destinadas exclusivamente para a saúde - uma das
propostas em discussão no Congresso -, seria possível triplicar o volume de
recursos para atendimentos de média e alta complexidade em hospitais
filantrópicos.
Padilha
afirmou que a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF),
extinta em 2007, foi a única "fonte estável" de financiamento da
saúde nos 25 anos do Sistema Único de Saúde (SUS). A contribuição representou,
segundo ele, praticamente um terço dos recursos do ministério. Mas o ministro
elogiou o fato de o Congresso ter aprovado em 2011 a regulamentação da Emenda
29, que define porcentuais mínimos para aplicação na saúde pelas esferas de
governo federal, estadual e municipal.
Cidades
do PT têm mais chance de receber médicos
Entre grandes legendas, partido da presidente Dilma é o mais beneficiado
proporcionalmente pelo programa federal
O PT lidera o ranking dos grandes partidos que, proporcionalmente, mais
receberam profissionais do programa Mais Médicos, do Ministério da Saúde, nas
prefeituras que comandam. A chance de uma cidade governada pelo partido ganhar
um profissional é quase 50% maior do que a de outra governada pelo PSDB ou o
dobro da de cidades comandadas pelo DEM.
O dado faz parte de levantamento feito
pelo Estadão Dados com base nas planilhas do programa federal que quer levar
mais profissionais para o interior brasileiro. Os números mostram que os
prefeitos petistas são os mais engajados na hora de se inscrever no programa,
mas que também recebem proporcionalmente mais médicos do que cidades governadas
por qualquer outro dos principais partidos.
O gráfico que ilustra esta página mostra
que as prefeituras do PT representam 11,4% dos municípios brasileiros no total,
mas correspondem a 12,8% das que pediram médicos e 15,1% das que receberam. Por
outro lado, partidos como DEM, PSDB e PMDB receberam proporcionalmente menos
médicos em relação aos municípios que governam.
Assim, uma em cada cinco cidades
governadas pelo PT foi selecionada para receber médico pelo programa. Essa
proporção é o dobro da do DEM, por exemplo, e maior do que a maioria dos outros
partidos - só perde para siglas que governam muito menos prefeituras, como o
PHS ou o PSOL, que ganhou médico em uma das duas cidades que comanda no Brasil.
Política. O Ministério da Saúde afirma que não
seguiu nenhuma orientação político-partidária como critério de alocação dos
profissionais. Esse processo ocorreu da seguinte maneira: cada médico,
brasileiro ou estrangeiro, elencou seis opções de municípios em que desejava
atuar. Era o órgão federal que dava a palavra final para onde ele iria -
segundo a pasta, a primeira opção foi respeitada em 74% das vezes e a segunda,
em 13%.
Os únicos que não se encaixaram nessas
regras foram os cubanos, cujo destino final foi totalmente decidido pelo
ministério. Os critérios usados para definir as alocações, de acordo com o
órgão, foram o nível de desenvolvimento humano das cidades e a falta de
interesse dos outros médicos em ir para lá. Após o questionamento da
reportagem, o próprio governo fez um levantamento que mostra que as prefeituras
do PSDB foram as que mais receberam profissionais da ilha caribenha (42% do
total).
Para reforçar seu argumento de que não
houve orientação política na distribuição dos médicos, o Ministério da Saúde
também apresentou outros recortes relacionados ao total de médicos que
participam do programa e os partidos das prefeituras para as quais foram
mandados. Um deles, por exemplo, mostra que o PTC foi o partido que mais chegou
perto do número de profissionais que havia requisitado. PT e PSDB estariam
próximos nesse ranking, em 10.º e 12.º lugar, respectivamente.
Regiões. O mapa da distribuição dos médicos pelo
Brasil mostra que o Nordeste, região mais pobre do País, foi a que mais recebeu
profissionais pelo programa: 39% do total. Em segundo lugar está o Sudeste
(21%), seguido do Norte (16%). Se considerado o tamanho da população, porém, a
região Norte lidera com folga. Foram 2,4 médicos para cada cem mil habitantes,
taxa quatro vezes maior que a do Sudeste, por exemplo.
Entre os Estados, os que mais ganharam
médicos foram Bahia, Minas Gerais, Ceará e Pernambuco, nessa ordem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sinta-se à vontade para postar seu comentário.
Espaço aberto à participação [opinião] e sujeito à moderação em eventuais comentários despretensiosos de um espírito de civilidade e de democracia.
Obrigado pela sua participação.
FN Café NEWS