Decisão
que cassou habeas corpus de advogado ligado à empresa Stillus reconheceu
legitimidade do MPMG para realizar a investigação criminal “Laranja com Pequi”
‘Laranja com Pequi': o epicentro da corrupção foi durante a gestão do ex-prefeito Luiz Tadeu Leite, em Montes Claros (MG). Foto: arquivo Revista Tempo. |
FN Café NEWS - Um advogado ligado à empresa Stillus Alimentação
Ltda. e suposto mentor da quadrilha especializada na prática de fraudes em
licitações para aquisição de alimentos para presídios e de merenda para escolas
públicas de Minas Gerais teve ordem de habeas corpus cassada pelo Superior
Tribunal de Justiça (STJ), atendendo, assim, a recurso especial interposto pelo
Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). O ponto que chama mais atenção é o
fato de, em sua decisão, o STJ ter reconhecido a legitimidade do MPMG para
realizar a investigação criminal que culminou na operação conhecida como
Laranja com Pequi, deflagrada em junho de 2012.
Assim, na prática, o posicionamento do STJ
representa a revalidação e a reabertura do procedimento investigativo criminal,
que apura os supostos ilícitos cometidos no estado.
A decisão cassada, proferida pelo Tribunal de
Justiça de Minas Gerais (TJMG), havia anulado as investigações por considerar
ilegal a atuação do MPMG na apuração criminal dos fatos. Ao recorrer, o MPMG
contestou o argumento, ressaltando que os poderes investigatórios da
instituição podem ser utilizados não apenas na esfera cível, mas em todas as
suas áreas de atuação, inclusive na criminal, conforme amplamente defendido
durante as manifestações contra a PEC 37.
Ao acatar o recurso, o STJ ratificou jurisprudência
no sentido de que o Ministério Público possui a prerrogativa de instaurar
processo administrativo de investigação e de conduzir diligências investigatórias.
O relator do recurso, ministro Marco Aurélio
Bellizze, defendeu a atuação conjunta dos órgãos estatais na apuração de
crimes. “A atuação do Ministério Público, no contexto da investigação penal,
longe de comprometer ou de reduzir as atribuições de índole funcional das
autoridades policiais, representa, na realidade, o exercício concreto de uma
atividade típica de cooperação, que promove a convergência de dois importantes
órgãos estatais incumbidos, ambos, da persecução penal e da apuração da verdade
real.”
'Laranja com Pequi': o epicentro da corrupção foi em Montes
Claros
Com três mil páginas, investigações apontam improbidade do ex-prefeito Tadeu Leite e seus assessores e secretários. Foto André Lana/MPPG-ACS. |
Em Montes Claros, o epicentro da corrupção, as
investigações, abertas em dezembro de 2009, com mais de 3.000 páginas,
apontaram atos de improbidade, enriquecimento ilícito e dano ao erário, com a
participação de 11 pessoas, entre as quais o então prefeito Luiz Tadeu Leite
(PMDB), um dos seus assessores especiais, a então secretária de Educação, a
ex-secretária adjunta de Educação, dois servidores do setor de compras da
prefeitura (um ex-pregoeiro e um assessor jurídico), além de sócios e
funcionários das empresas Stillus e
Isoengenharia.
A operação Laranja com Pequi, desencadeada em
diversos municípios mineiros em junho de 2012, cumpriu mandados de busca e
apreensão e de prisão provisória com a finalidade de subsidiar as investigações
sobre fraudes em licitações ligadas ao fornecimento de alimentação em presídios
e órgãos públicos e de merenda para escolas.
Segundo apurado, a Administração Pública estadual
desembolsou aproximadamente R$ 166 milhões, que deveriam ter sido destinados ao
pagamento de refeições para presídios e casas de detenção. Calcula-se que pelo
menos um terço desses valores foi desviado e apropriado pela organização
criminosa.
Além disso, as investigações apontaram que a
prefeitura de Montes Claros gastava R$ 2 milhões por ano no fornecimento de
alimentação para as escolas municipais e, após a terceirização desse serviço,
passou a gastar, anualmente, cerca de R$ 12 milhões.
A empresa contratada, pivô do esquema fraudulento,
é acusada de receber por aluno matriculado nas escolas e não por aluno
efetivamente alimentado, agindo contrariamente ao que determinam as normas do
Fundo Nacional de Desenvolvimento Educacional (FNDE).
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