Ângelo
Oswaldo promete ouvir a classe artística e dialogar com todas as regiões de
Minas
Novo secretário de
estado da Cultura projeta reforma no circuito da Praça da Liberdade
Com EM Cultura/ Ailton Magioli – Jornal Estado de
Minas
O novo secretário de Cultura, Ângelo Oswaldo. Foto; ACS/Ibram. |
BH/MG - “A partir de agora, Minas Gerais terá uma política de
consertação na área da cultura. Com ‘s’ e com ‘c’”, afirma Ângelo Oswaldo de
Araújo Santos, o novo secretário de estado da Cultura. De volta à pasta que
ocupou de 1999 a 2002, na gestão de Itamar Franco (1930-2011), o jornalista e
ex-prefeito de Ouro Preto promete administração dinâmica e “pautada pela
qualidade da gestão”. O perfil de seu chefe de gabinete, Evandro Xavier Gomes,
já traduz essa orientação. Assessor de gestão corporativa, ele presidiu a Fundação
Zoo-Botânica de Belo Horizonte e foi superintendente do Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Minas Gerais.
Ângelo Oswaldo anuncia a criação de um grupo de trabalho para rever o projeto
do Circuito Cultural Praça da Liberdade e promete empenho para concluir a
Estação da Cultura Presidente Itamar Franco, em Belo Horizonte.
Veja a seguir a entrevista de Ângelo Oswaldo concedida ao jornalista Ailton Magioli, do jornal Estado de Minas - EM Cultura, em Belo
Horizonte.
EM Cultura - Quais são as metas prioritárias para o setor
cultural em Minas Gerais?
Em
um primeiro momento, diria que a secretaria de Cultura do governo Fernando
Pimentel vai marcar uma grande transformação na vida mineira. Trata-se de um governo que
vem para mudar, para abrir e transformar. E isso vai acontecer, também, de
maneira muito ampla e intensa no campo da cultura. Vamos aprimorar a nossa
escuta com relação às colocações da sociedade mineira, às propostas dos
produtores e agentes da vida cultural, dos fruidores da produção cultural. O
que se quer? O que as pessoas esperam? O que elas desejam? Afinal, durante 12
anos, não houve essa escuta. Aliás, não houve diálogo. O aparelho estatal fez
uma intervenção grande em alguns pontos culturais, como o projeto do circuito
da Praça da Liberdade ou a criação da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais,
mas sem atenção à vida cultural mineira. Houve um esquecimento das regiões do
estado. Minas é um estado plural, do tamanho da França. Nossa diversidade é
riquíssima, temos de saber trabalhar a contribuição de cada região e seus
valores para que possa haver um resultado ainda muito mais dinâmico no conjunto
da produção e da vida cultural dos mineiros.
EM Cultura - A classe artística mineira será convocada para o
debate?
Ela
já foi convocada pela própria eleição do governador Fernando Pimentel. Houve
uma resposta muito positiva em relação a ele. A cultura de Minas fez uma opção
por Fernando Pimentel e a nossa responsabilidade é grande, porque todos os que participaram da escolha de um novo governo querem
também participar de uma nova gestão da cultura em Minas. Quero ser o
coordenador, o articulador dessas vertentes. Não vamos ditar uma política de
cultura, como houve até agora, que nem era ditada pela secretaria, mas pelo
palácio do governo. Vamos, a partir de agora, ter uma política de consertação:
com ‘s’ e com ‘c’. Vamos consertar aquilo que está errado e vamos concertar,
com ‘c’, na soma das contribuições positivas para este novo tempo na vida
mineira.
EM Cultura - Recentemente, foi apresentada para convidados a Sala Minas Gerais, parte da Estação da Cultura
Presidente Itamar Franco, que está em obras. O primeiro concerto para o público
já foi agendado para 5 de março. Além de sede da Orquestra Filarmônica de Minas
Gerais, o complexo vai abrigar a Rede Minas de Televisão e a Rádio
Inconfidência. Quais os planos do novo governo para o complexo?
Dentro
da tradicional cultura política, foi inaugurada uma obra que não está pronta.
Houve umaencenação inaugural,
mas caberá ao governo Fernando Pimentel concluir o projeto. Trata-se de um
projeto megalomaníaco, porque entidades como o Palácio das Artes, por exemplo,
demandam intervenção grande, até para que não venha outra vez sofrer um
incêndio, como o de abril de 1997. Há uma situação precária das estruturas do
Palácio das Artes e, portanto, a Estação Itamar Franco é uma das obras feitas
sem atenção à cultura e à sociedade mineiras. Evidentemente, como estamos com a
obra adiantada, vamos estudar como concluí-la e como manter esses espaços,
porque a única distinção entre filarmônica e sinfônica é que normalmente as
orquestras sinfônicas são estatais, mantidas pelo poder público, e as
filarmônicas são orquestras mantidas pela sociedade civil, por uma Oscip
(organização da sociedade civil de interesse público). Aqui em Belo Horizonte,
a Orquestra Filarmônica consumiu todos os recursos do estado e criou um impasse
com a Orquestra Sinfônica. Não vou reacender essa polêmica.
EM Cultura - O que o senhor vai fazer?
Quero dirimir os conflitos e buscar a melhor forma de
resolvê-los. Quero significar, simplesmente, que nós estamos recebendo uma
herança bastante polêmica e com dificuldades enormes. Não foi inaugurada uma
Estação Itamar Franco. Os próprios edifícios da rádio e da televisão não existem
ainda. A administração da Rede Minas é complexa, porque tem uma fundação e tem
a ADTV (Associação de Desenvolvimento da Radiodifusão de Minas Gerais), que é
uma Oscip. O Ministério Público até entrou na questão. Então, só estamos
encontrando problemas graves na cultura por uma intervenção desastrada e
desastrosa do palácio do governo na área, muitas vezes à revelia da própria
secretaria.
EM Cultura - O governo anterior anunciou novos equipamentos no
Circuito Cultural Praça da Liberdade. O senhor pretende levar esse projeto
adiante?
O governo anterior estava, inclusive, tentando trazer a Bia
Lessa para inventar mais um museu sem conteúdo na Praça da Liberdade. Não é
isso que nós queremos. Vamos criar um grupo de trabalho para rever o projeto do
circuito. Esse foi um dos assuntos do meu entendimento com o governador
Fernando Pimentel, hoje pela manhã (quarta-feira). Vamos criar um grupo de
trabalho para rever o projeto do Circuito Cultural Praça da Liberdade. O
governador tem muitas ideias sobre isso, desde os tempos dele de prefeito de
Belo Horizonte. Aliás, desde criança, porque ele viveu na Rua Timbiras, na
esquina com a Avenida João Pinheiro. Fernando Pimentel praticamente nasceu no
Circuito Cultural Praça da Liberdade. Ele conhece muito bem aquela área. O que desejamos
é aperfeiçoar esse projeto, que começou de uma maneira um pouco atrabiliária.
EM Cultura - Por quê?
Começaram a ocupar prédios, alguns que já estavam até
ocupados culturalmente, como o da antiga Secretaria de Estado da Educação, que
tinha o Centro de Referência do Professor, que funcionava magnificamente bem.
Já a Biblioteca Estadual Luiz de Bessa não foi atendida pelo circuito, assim
como o Museu Mineiro. O Iepha (Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e
Artístico) foi desalojado da região, enquanto o Centro de Referência do
Professor foi banido. Havia coisas importantes ali que foram menosprezadas por
projetos importados, montados por curadores do Rio e de São Paulo, que, muitas
vezes, desconheciam a realidade não só de Minas Gerais, mas de Belo Horizonte.
EM Cultura - Qual é o orçamento da Secretaria de Estado da
Cultura?
Não tenho todos os dados ainda. Estamos levantando, mas sei
que o orçamento de 2015 da Lei Estadual de Incentivo à Cultura já está
comprometido no primeiro semestre. Vai ser um momento de dificuldade, mas, ao
mesmo tempo, o entusiasmo próprio do renascimento, da reconstrução e da
recriação será muito importante. Nós estamos em um momento de resgate. Vamos
contar com a participação efetiva dos produtores culturais, dos protagonistas
da vida cultural mineira, daquelas pessoas que criam bens culturais e que sabem
que nós atravessamos um período muito difícil. Se todos nós atravessamos 12
anos de dificuldade e de marginalização, agora, neste momento de participação,
com certeza haverá uma grande contribuição ao novo direcionamento da política
cultural, da reconstrução da política cultural em Minas Gerais nos termos de
uma política pública. Creio que neste primeiro ano pelo menos já vamos ter uma
grande colaboração de todos para que possamos sair desse impasse.
EM Cultura - Consta que o orçamento para a cultura em âmbito
estadual seria três vezes menor que o da Prefeitura de Belo Horizonte destinado
à área. Quais as perspectivas para o setor?
Nós sabemos disso, é uma preocupação do governador e da nossa
pasta. Nós vamos buscar recursos. Isso não vai acontecer por milagre, de uma
hora para a outra, mas estaremos empenhados em buscar recursos junto ao
Ministério da Cultura, a outras fontes do governo federal. O governador
Pimentel terá todo o apoio da presidenta Dilma Rousseff. Vamos buscar esses
recursos junto ao ministro Juca Ferreira e ao governo federal como um todo.
Vamos buscar mais patrocínios para iniciativas em Minas Gerais, vamos tentar recompor
o orçamento e vamos rever a Lei Estadual de Incentivo à Cultura de maneira a
ampliar o acesso aos produtores em geral, sobretudo nas outras regiões do
estado, porque muitas vezes ela é centralizada na capital. Aqui, por exemplo, o
próprio estado sequestrou, no último ano, todos os recursos da lei estadual.
EM Cultura - Minas detém pelo menos 60% do patrimônio
artístico e histórico nacional. O que o setor pode esperar da secretaria?
Esse é um desafio permanente de Minas Gerais, uma das
questões mais essenciais e estruturantes de uma política de cultura no estado.
Não conseguiremos fazer tudo, mas é claro que, se houver mais participação e
maior articulação, muitas coisas poderão encontrar o devido encaminhamento. Se
nós conseguirmos ampliar os recursos para a cultura e incentivar a iniciativa
privada e a sensibilidade dos gestores públicos, estaremos no caminho certo.
Vivemos a era da economia criativa e a própria cultura indica que ela é um
campo em que pode haver investimentos com resultados altamente positivos em
termos de retorno financeiro no campo da cultura, da gastronomia, da moda, do
design, do cinema, do audiovisual, das artes cênicas, da música, do setor
editorial, da literatura. A música em Minas é muito forte em todos os sentidos.
Queremos agir coletivamente. Estamos abrindo a secretaria para o diálogo e a
participação. Quero estar em sintonia com todos, na capital e no interior.
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