Câmara
dos Deputados analisa propostas de combate à corrupção na Administração Pública
BRASÍLIA
(DF)* – Há 141 proposições atualmente em discussão na Câmara dos Deputados que
tratam de corrupção. São projetos de lei, propostas de emenda à Constituição
(PECs), propostas de fiscalização e controle e requerimentos. O projeto mais
antigo é de 1990 e trata dos crimes de responsabilidade cometidos por
autoridades (PL 6125/90). Pelo menos 20 projetos tramitam na Casa há mais de
dez anos.
O coordenador da Frente Parlamentar de Combate à Corrupção, deputado
Francisco Praciano (PT-AM), lamenta que tantas propostas com impacto positivo
no combate à corrupção estejam paradas nas comissões do Congresso. E faz um
desabafo. "É um tema pouco tratado nesta Casa. Seis anos exatamente nessa
luta da frente parlamentar, conversando com o presidente do Senado, conversando
com o presidente da Câmara, fomos em todos os presidentes de comissão que
tinham projetos nas gavetas, pedimos para acelerar. Sabe quantos projetos
conseguimos colocar no Plenário da Câmara? Nenhum. O Congresso não trata dessa
pauta, só eventualmente, acidentalmente, quando acontece ‘a rua’. A rua veio
aí, veio criticando, veio atropelando o Congresso."
Em seguida às manifestações de junho de
2013, Praciano lembra que os deputados sugeriram a votação da proposta que
transforma a corrupção em crime hediondo. Essa foi uma das principais
reivindicações populares que ganharam resposta do Congresso. Oito propostas (PL
3760/04 e apensados) sobre o tema tramitam na
Câmara e estão prontas para votação no Plenário. Passado um ano, as matérias
ainda não foram votadas.
Financiamento de campanhas
Outra tema considerado crucial por
especialistas é o financiamento de campanhas políticas. O caixa dois dos
partidos, alvo de investigação em comissões parlamentares de inquérito, com
destaque para as dos Correios e do Mensalão, ainda traz dificuldades para a
Justiça Eleitoral.
O juiz eleitoral Marlon Reis, idealizador
do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, afirma que seu momento de maior
frustração é o da análise das contas de campanha. "Como juiz eleitoral e
como cidadão, eu me deparo com uma tarefa impossível e, perdoe a expressão,
quase ridícula de analisar documentos que foram aqueles que a seu bel prazer os
candidatos decidiram que deveriam ser apresentados à Justiça Eleitoral. Não há
um só mecanismo que demonstre com qualquer nível de idoneidade que aquela
prestação de contas se refere à integralidade das movimentações de campanha. A
legislação eleitoral é nesse ponto de uma fraqueza impressionante",
ressalta.
O diretor de Investigação de Combate ao
Crime Organizado da Polícia Federal, Oslain Campos Santana, fez um apelo para
que o Congresso aprove o financiamento público de campanhas e outros projetos
de lei que reduzam gastos nas eleições. Ele disse que, na operação Monte Carlo,
por exemplo, foram identificados criminosos, contraventores e contrabandistas
financiando campanhas em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Segundo o delegado, o modelo se repete
nas demais investigações de corrupção. "Na prática, 50% dessas
investigações têm como pano de fundo financiamento de campanha. É o combustível
do crime de corrupção. Então, se faz necessária uma diminuição dos gastos de
campanhas eleitorais. Algumas coisas que vislumbramos, em propostas que já
estão em andamento nesta Casa, que poderiam auxiliar nessa diminuição de
gastos: a proibição de contratação de cabos eleitorais e da colocação de faixas
e cartazes; definição de limites de gastos para candidatos em determinados
cargos; conta bancária única para pagamento de despesas nas campanhas,
facilitando a investigação; entre outros."
Reforma Política
Uma proposta de emenda à Constituição em
discussão na Câmara (PEC 352/13), apresentada pelo Grupo de Trabalho de Reforma
Política, trata do financiamento de campanhas, entre outros temas.
Pelo texto, caberá aos partidos políticos
decidirem por campanhas financiadas exclusivamente com recursos públicos,
exclusivamente com recursos privados ou por uma combinação das duas fontes. Uma
lei deverá determinar o limite máximo das doações e os valores arrecadados, bem
como os nomes dos doadores serão amplamente divulgados ao longo da campanha.
O deputado Marcus Pestana (PSDB-MG), que
participou do grupo de trabalho que elaborou a proposta, acredita que o
financiamento público exclusivo de campanhas teria muita resistência da
população e certamente não seria aprovado em um plebiscito. Já o modelo
proposto, segundo o parlamentar, pode representar um avanço.
"É preciso atuar do lado da receita
e da despesa. Do lado da receita, o sistema hoje é o pior possível. O
pernicioso é a relação individual do parlamentar com o financiador. Se você
institucionalizar com boas regras, com regras de equalização de oportunidades,
o partido tendo que ter um orçamento, sem concentração excessiva, mas captando,
é muito melhor que esse sistema que é humilhante para quem é honesto e a porta
da corrupção para quem é desonesto, porque é na campanha que se gera essa
relação incestuosa, perniciosa e antirrepublicana", diz Pestana.
Cargos comissionados
Natália Paiva, da ONG Transparência
Brasil, sugere ainda mudanças na política de distribuição de cargos públicos de
livre nomeação. "A principal causa de corrupção hoje nas diferentes
esferas de governo – e não tem a ver com partido, mas tem a ver como a regra do
jogo se dá hoje – é a livre nomeação de cargos comissionados, com a consequente
desmoralização das instituições públicas, que são o foco de monitoramento da
Transparência Brasil, inclusive as Casas Legislativas, porque as barganhas
políticas se dão na distribuição de cargos, e uma mudança nesse sentido seria
fundamental para mudar o status das coisas."
Duas propostas de emenda à Constituição
que aguardam votação na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da
Câmara dos Deputados (PECs 271/08 e 126/11, apensada) estabelecem que os cargos
em comissão do Poder Executivo serão ocupados exclusivamente por servidores de
carreira, ressalvados apenas os cargos de assessoramento direto ao presidente
da República, aos governadores dos estados e do Distrito Federal e aos
prefeitos.
A Estratégia Nacional de Combate à
Corrupção e à Lavagem de Dinheiro acompanha propostas que tramitam no Congresso
Nacional sobre temas como lobby, conflito de interesses e responsabilização de
empresas por corrupção. Criada em 2003, por iniciativa do Ministério da
Justiça, ela faz a articulação entre órgãos dos três Poderes, Ministério
Público e entidades da sociedade civil. Hoje, conta com cerca de 60 órgãos e
entidades participantes.
No portal do e-Democracia, da Câmara dos Deputados, foi criada uma comunidade virtual para abrigar as discussões sobre as boas práticas em contratações públicas que priorizem a prevenção da corrupção.
No portal do e-Democracia, da Câmara dos Deputados, foi criada uma comunidade virtual para abrigar as discussões sobre as boas práticas em contratações públicas que priorizem a prevenção da corrupção.
* Com Agência Câmara Notícias
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sinta-se à vontade para postar seu comentário.
Espaço aberto à participação [opinião] e sujeito à moderação em eventuais comentários despretensiosos de um espírito de civilidade e de democracia.
Obrigado pela sua participação.
FN Café NEWS