Empresa é
punida judicialmente por fazer desvio de curso do rio Rio São Francisco
Justiça mineira condena empresa a pagar
indenização por mudança feita há 37 anos no curso do São Francisco em Luz, na
Região Centro-Oeste do estado. Companhia promete recorrer ao STJ
Rio São Francisco: patrimônio ambiental e sociocultural para o povo barranqueiro-sanfraciscano. FN Café NEWS dez. 2012 |
Policial, ao lado de pescador, constatou em 2003
que um afluente do Velho Chico foi aterrado em Luz para plantio de
cana-de-açúcar: em outro trecho, houve desvio do rio. Foto: Jornal EM/BH.
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Luz e Lagoa da Prata* – Depois de quase 10 anos, ambientalistas
conseguiram uma vitória na disputa judicial em torno de desvios feitos no Rio
São Francisco na Região Centro-Oeste de Minas. O Tribunal de Justiça de Minas
Gerais (TJMG) condenou a Empresa de Participação Oeste de Minas e Táxi Aéreo
(Epomta), ex-Companhia Agrícola do Oeste de Minas (Ciaom) e ex-Usina de Açúcar
e Álcool Luciânia, a pagar indenização pelo desvio feito, em 1975, no curso do rio
São Francisco – o Velho Chico, em Luz, a 190 quilômetros de Belo Horizonte. O
objetivo da empresa era plantar cana e atender o Programa Nacional de Várzeas
(Provárzeas), do governo federal. Na época, além de um aterro, foi construído
ali um canal de cerca de 800 metros que secou várias lagoas naturais.
É
um resultado muito positivo, mas queremos mais, pois não está completo. Vamos
recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para que a empresa pague também
por danos morais ambientais à coletividade”, afirmam os advogado Gustavo
Ferreira Carvalho e Mateus Botinha Oliveira, representantes do Movimento
Ambientalista Casca D’Anta. Em 2003, a entidade ajuizou ação civil pública
pedindo a integridade do chamado Rio da Unidade Nacional, embora descartando a
volta do trecho ao leito normal, pois os impactos no patrimônio natural
poderiam ser maiores, de acordo com laudo pericial produzido nos autos.
Já
no município vizinho de Lagoa da Prata, a 197 quilômetros da capital, a batalha
judicial é para que o rio volte ao traçado original. No local, ocorreu a maior
agressão ao São Francisco, na avaliação dos ambientalistas. Na localidade de
Volta Grande, foi executado, em 1981, um desvio que interrompeu o curso natural
em 7,5 quilômetros. Os peixes desapareceram e ribeirinhos protestaram contra a
mutilação da natureza. “Vamos às últimas consequências para defender o São
Francisco”, diz o pescador e integrante da Associação dos Pescadores Amadores
do Alto São Francisco (Aapa), Damião Lopes, de 73 anos.
Segundo
os advogados do Movimento Ambientalista Casca D’Anta, a Justiça ainda vai
mandar avaliar o valor da indenização. “O valor certamente vai ser muito alto,
pois estamos falando de danos ambientais causados há quatro décadas”, diz
Gustavo Ferreira, lembrando que a quantia deverá ser repassada à Associação
Brasileira dos Membros do Ministério Público (Abrampa), para trabalhos de
revitalização de áreas degradadas, com espécies nativas, programas de educação
ambiental e projetos de piscicultura em Luz. A empresa poderá recorrer do
acórdão, publicado em 4 de dezembro, mas só na esfera superior. “Perdemos na
primeira instância e recorremos ao TJMG. Esperamos que seja mantida a decisão
pelo Superior Tribunal de Justiça, caso a empresa recorra”, afirma Gustavo.
Danos
A
luta dos ambientalistas de Luz e Lagoa da Prata vem sendo documentada pelo
Estado de Minas desde 2003, quando a situação veio à tona e o Ministério
Público recebeu denúncias sobre as obras do desvios nas décadas de 1970 e 1980.
Em abril de 2010, foi apresentado à Justiça um laudo pericial comprovando os
efeitos danosos das irregularidades cometidas em Luz. Na época, para plantar
cana, a empresa então pertencente ao famoso empresário mineiro Antônio Luciano
Pereira (1913–1990), conhecido como Lucianinho, fez um canal para alterar o
leito do São Francisco e aumentar a área de cultivo em cerca de 130 hectares.
“O
laudo mostrou que houve intervenção significativa no rio São Francisco,
comprometendo fauna e flora, em especial a reprodução de peixes. Foi uma prova
pericial eficaz e muito importante no processo”, dizem os advogados de Luz. O
documento elaborado pela empresa STA Engenharia Florestal revelou que, segundo
boletins de ocorrência policial lavrados em 2003, o aterro feito na região de
Praia Alta secou “lagoas que funcionavam como criatórios naturais de várias
espécies de peixes”. Informou ainda que houve desvio no leito e que o canal
construído pela empresa afetou o curso do rio e provocou intervenção direta em
área de preservação permanente (APP). “Foi uma irregularidade ambiental. De
acordo com o Código Florestal, não pode haver intervenção em APP”, afirma
Gustavo. A empresa, por meio do advogado João Paulo Campello, informou ontem
que vai recorrer da decisão no STJ.
*Publicação do EM/BH, com adaptações de texto e imagens FN Café NEWS
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