quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

O centenário de Luiz Gonzaga, o rei do baião: 'A Alma Eterna do Nordeste'

Há 100 anos nascia Luiz Gonzaga
Luiz Gonzaga - 100 anos: LUA do Forró e Rei do Baião.
Por Agência Brasil
Publicada em 13/12/2012 09:14:47
No dia 13 de dezembro de 1912, uma sexta-feira, nascia em Exu (PE) o segundo dos nove filhos do casal Januário José dos Santos e Ana Batista de Jesus, que, na pia batismal da igreja matriz da cidade, recebeu o nome de Luiz Gonzaga Nascimento.
Com apenas 8 anos de idade, ele substituiu um sanfoneiro numa festa tradicional na Fazenda Caiçara, no Araripe, Exu, a pedido de amigos do pai. Cantou e tocou a noite inteira e, pela primeira vez, recebeu o que hoje se chamaria cachê. O dinheiro, 20 mil réis, "amoleceu" o espírito da mãe, que não o queria sanfoneiro.
A partir daí, os convites para animar festas - ou sambas, como se dizia na época - tornaram-se frequentes. Antes mesmo de completar 16 anos, Luiz de Januário, Lula ou Luiz Gonzaga já era nome conhecido no Araripe e em toda a redondeza, como Canoa Brava, Viração, Bodocó e Rancharia.
Em recente entrevista, o cantor, compositor e ex-ministro da Cultura Gilberto Gil disse que Luiz Gonzaga foi “a primeira coisa significativa do ponto de vista da cultura de massa no Brasil”. Gil revelou que Gonzaga foi o seu primeiro ídolo, ainda na cidade baiana de Ituaçu, onde cresceu. Por causa disso foi um acordeon, e não o violão, seu primeiro instrumento musical.
Vários nomes da música popular brasileira (MPB) que eram meninos ou jovens na época em que o baião tomou conta do rádio tiveram o acordeon, e não o violão ou o piano, como primeiro instrumento. Este também foi o caso de Milton Nascimento e de João Donato.
Historiadores da MPB, como Ricardo Cravo Albin, destacam o papel fundamental que o sanfoneiro teve na inserção dos ritmos nordestinos no mapa musical do Brasil. Isso foi possível por causa do rádio, que vivia uma era de ouro na década de 1940.
No universo do rádio da então capital federal, um local protagonizou a grande mexida que a sonoridade da sanfona, da zabumba e do triângulo trouxe para a música popular brasileira: o auditório de 500 lugares da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, com seus programas transmitidos para todo o país.
Foi do auditório da Rádio Nacional que saíram, pela primeira vez, em 1946, para todo o Brasil, os versos de Humberto Teixeira para a composição de Luiz Gonzaga que ensinou o Brasil a dançar o baião e fez o ritmo virar uma febre musical que tomou conta do país. “Eu vou mostrar pra vocês como se dança um baião e quem quiser aprender é favor prestar atenção”, diz o refrão da música cantada por Gonzagão.
Também foi na Rádio Nacional que ele ganhou o apelido Lua, dado pelo violonista Dino Sete Cordas, devido à sua cara redonda. O apelido foi popularizado pelos radialistas César de Alencar e Paulo Gracindo em seus programas, que sempre contavam com a participação do sanfoneiro.

Gonzaga difundiu a música brasileira retratando a realidade do sertão nordestino


Um dos responsáveis por difundir a música popular brasileira, o cantor e compositor pernambucano Luiz Gonzaga completaria 100 anos de vida em dezembro de 2012.

Natural da cidade de Exu, o Rei do Baião encontrou no cenário do interior do nordeste brasileiro a inspiração para sa poesia. Cantando acompanhado de sua sanfona, zabumba e triângulo, levou em suas músicas com ritmo alegre a tristeza e pobreza de sua  terra, o sertão nordestino.

Ganhou notoriedade com as antológicas canções "Baião", "Asa Branca”, "Siridó" (1948), "Juazeiro"e "Baião de Dois".

Morreu em 1989, vítima de parada cardiorrespiratória, na capital pernambucana. Seu corpo foi velado em Juazeiro do Norte.
2012, ano em que se completa o centenário do artista, ele foi tema do carnaval da escola de samba Unidos da Tijuca,  que foi o vencedor.
Também foi lançado o filme De Pai Pra Filho, narrando a relação conturbada dele com o filho Gonzaguinha.

Livro retrata proximidade com o choro
Por Roberto Nascimento
Agência Estado
Reza a lenda que o grande lampejo de Luiz Gonzaga aconteceu na zona. O sanfoneiro mudara-se para o Rio, em 1939, visando a seguir carreira de músico. E como todo recém-chegado, esforçava-se para esconder os traços matutos. Vestia-se como os malandros do Mangue, o bairro quente da capital, onde tocava com frequência, e praticava arduamente o sotaque carioca, a fim de aniquilar o nordestino. Entretanto, um grupo de estudantes cearenses, frequentadores de um dos bares do Mangue, notou o sotaque sertanejo na forma com que o futuro mestre tocava as valsas e tangos da moda. Pediram-lhe que tocasse alguma coisa "lá do Norte", e o músico, instigado e encabulado, ao mesmo tempo, resolveu emendar, em sua apresentação seguinte, duas composições que lembrava de sua infância. Pé de Serra e Vira e Mexe, dois dos clássicos de sua discografia instrumental, relíquias de sua infância em Pernambuco, tempo em que acompanhava seu pai, foram o estopim.

A casa veio a baixo. "Peguei o pires (para recolher as moedas)", disse Luiz. "Na terceira mesa, o pires já estava cheio. Aí eu gritei: ‘Me dá um prato!’ Daqui a pouco o prato estava cheio. Aí pedi uma bandeja. E pensei: agora a coisa vai." O depoimento é citado no prefácio do novo livro Tem Sanfona no Choro, organizado pelo músico Marcelo Caldi e lançado pelo Instituo Moreira Salles. Tem Sanfona no Choro ilustra, através de partituras e um ensaio de Fernando Gasparini, a conexão entre o choro na produção de Luiz Gonzaga. As partituras são completas com cifras, e acompanham um CD, em que Caldi toca algumas composições. O ensaio discute a importância do choro nos primeiros anos de gravação, antes do sanfoneiro decidir lançar-se como cantor e alcançar o sucesso com Asa Branca e outras.

No início dos anos 40, sua eureca boêmia desencadeou uma série de conquistas - gravações de rádio, uma vitória no programa de talentos de Ary Barroso - e, por fim, fez o músico compreender tanto a riqueza de sua herança quanto o valor de sua arte tinha para milhões de migrantes nordestinos.

O berço do xote de Luiz Gonzaga
A transformação de Luiz Gonzaga em Rei do Baião se daria mais tarde. As composições transcritas ressaltam o talento como compositor e o brilho virtuosístico de Luiz Gonzaga.
"A magia de Gonzaga foi traduzir para a urbanidade o sotaque e as melodias desse pequeno instrumento de recursos limitados, mas tão criativamente explorado pelos que fazem a festa nos bailes e forrós na roça. Como gênero tipicamente urbano, o choro, por sua vez, encontra na sanfona uma forma de se expandir para as paisagens rurais", escreve Gasparini. Essa expansão se dá, nitidamente, em Vira e Mexe, composição tradicional, meio maxixe, com a qual Gonzagão chamou a atenção do público.

Na época, início dos anos 40, o choro vivia sua fase áurea. Assim, sua proximidade com os craques do gênero se deu no estúdio. Dino 7 Cordas e Meira, dois dos mestres do violão brasileiro, já integravam o regional e foram incumbidos de acompanhar o pernambucano. A amizade veio fácil.

"Podemos assim imaginar o ambiente criativo e alegre instaurado a partir do encontro do sanfoneiro com a fina flor do choro carioca; e quanto isso contribuiu para a gestação e o nascimento do baião. O choro foi, de fato, o berço que recebeu a sanfona nordestina no Rio, o portal sonoro que ofereceu as condições para Luiz Gonzaga desenvolver e expressar a sua genialidade", escreve Gasparini.

As composições instrumentais de Luiz Gonzaga não dividem sucesso de sua obra cantada. Mas a importância dessas peças e gravações para a evolução da sanfona na música brasileira é seminal. Sem o sotaque nordestino dos
Tem sanfona no choro — Organizado por Marcelo Caldi, prefácio de Fernando Gasparini (IMS, 72 págs., preço a definir).


Relançamento da biografia só em 2013
Por Renato Vieira

Agência Estado
 Apesar da celebração do centenário de Luiz Gonzaga neste mês, o fã do rei do baião terá pouco o que comemorar no dia 13 de dezembro.
Prometido para este ano, o relançamento da discografia do artista ficou para 2013. A Sony, que detém o acervo da RCA, na qual Gonzaga registrou 34 álbuns e mais de uma centena de 78 rotações entre os anos 1940 e 1950, informou que as reedições só devem chegar ao mercado a partir de março. A princípio, serão 15 CD’s. O restante deve chegar às lojas paulatinamente, até 2014.
Ainda segundo a Sony, há questões pendentes quanto a autorizações de compositores e a liberação dos discos que Gonzaga gravou na Odeon e na Copacabana, hoje sob poder da EMI. O plano da gravadora é relançar a obra completa do rei do baião. Álbuns importantes, como O Canto Jovem de Luiz Gonzaga (1971), com músicas de autores contemporâneos, como Tom Jobim e Gilberto Gil e A Festa (1981), que inclui participações de Milton Nascimento e Gonzaguinha, nunca chegaram ao formato digital.
Já a EMI lança neste mês a coletânea O Fole Roncou. São 20 faixas, extraídas de Luiz Gonzaga (1973) e Daquele Jeito (1974), além de músicas dos discos Vou Te Matar de Cheiro e Aquarela Nordestina, registrados no ano de sua morte. Assum Preto e A Vida do Viajante entram na compilação em duetos com Gonzaguinha.

Luís ‘Lua’ Gonzaga do Nascimento (Exu, 13 de dezembro de 1912 – Recife, 2 de agosto de 1989) foi um compositor popular brasileiro, conhecido como o Rei do baião. Foi uma das mais completas, importantes e inventivas figuras da música popular brasileira. Cantando acompanhado de sua sanfona, zabumba e triângulo, levou a alegria das festas juninas e dos forrós pé-de-serra, bem como a pobreza, as tristezas e as injustiças de sua árida terra, o sertão nordestino, para o resto do país, numa época em que a maioria das pessoas desconhecia o baião, o xote e o xaxado.
Admirado por grandes músicos, como Dorival Caymmi, Gilberto Gil, Raul Seixas, Caetano Veloso, entre outros, o genial instrumentista e sofisticado inventor de melodia e harmonias, ganhou notoriedade com as antológicas canções "Baião" (1946), "Asa Branca" (1947), "Siridó" (1948), "Juazeiro" (1948), "Qui Nem Jiló" (1949) e "Baião de Dois" (1950)
 

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