Maioria
dos municípios mineiros não tem receitas próprias e dependem de repasses
federais para fortalecer seus cofres públicos
Com informações de Bertha Maakaroun/Jornal EM
A maioria dos municípios mineiros não cobra nem o IPTU. |
São poucas cidades com uma estrutura de arrecadação, como Belo Horizonte, que lhe permite alcançar 55% de sua receita corrente líquida, de R$ 4,46 bilhões, com os impostos e taxas municipais. A capital mineira só perde para Jeceaba, na Região Central, que lidera o ranking no estado na relação entre arrecadação própria e receita corrente líquida: 75% de sua receita deriva de tributos municipais, mais especificamente do Imposto Sobre Serviços (ISS) – menos em função de um trabalho de fiscalização e cobrança, mais graças à inauguração, em 2011, da gigante Vallourec & Sumitomo Tubos do Brasil na cidade.
No
outro extremo da relação entre receitas de tributos municipais e
receitas transferidas estão 170 cidades, como Desterro do Melo e Casa
Grande, na Região Central; Santa Rita de Ibitipoca, na Zona da Mata; Dom
Viçoso, na Região Sul; Monte Formoso, no Jequitinhonha; e Miravânia, no
Norte. Se somados os tributos municipais, eles não alcançam 5% das
respectivas correntes líquidas, abastecidas basicamente pelo FPM. Nessa
condição estão municípios espalhados por todas as regiões do estado, que
têm em comum uma população que oscila entre dois mil e sete mil
habitantes, orçamentos que variam entre R$ 6 milhões e R$ 9 milhões e,
no geral, uma movimentação econômica baixa.
“Mais de 90% de
nossas receitas são do Fundo de Participação dos Municípios. Também
dependemos muito das emendas parlamentares para pequenas obras na
cidade”, afirma José Donizetti de Souza (PT), prefeito de Dom Viçoso.
Base da economia, o leite e o café atravessam período difícil. A
movimentação econômica – transação de mercadorias – é baixa, o que
também resulta em pequenas transferências estaduais com base no
recolhimento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
(ICMS). Dos tributos municipais que são competência da administração
local, o ISS tem um resultado pouco significativo, apesar de duas
indústrias do setor de vestuário implantadas na cidade no mandato
passado. Já em relação ao IPTU, é grande a inadimplência. “Temos
dificuldade em arrecadar. A dívida ativa, principalmente resultado do
não pagamento do IPTU, chega a R$ 70 mil”, considera Donizetti.
AÇÕES DE RISCO
Com menos de três mil habitantes, a inadimplência com o IPTU
corresponde a quase aquilo que Dom Viçoso arrecadaria em um ano com os
tributos municipais. Já no segundo mandato, menos pressionado pela
necessidade da reeleição, o prefeito prepara um projeto de lei para
encaminhar à Câmara Municipal com possibilidade de descontos para o
pagamento do IPTU em atraso. “Se não surtir efeito, vou ter de cobrar
judicialmente. Constrange o morador, mas é a única alternativa.”
Cobrar
IPTU judicialmente não é uma política aconselhável aos prefeitos de
cidades onde não há cultura de recolhimento desse tributo.
Principalmente se o prefeito está em primeiro mandato. “É impopular e
seria um complicador para quem tenta uma reeleição”, admite Donizetti.
Mas a dívida ativa se arrasta, o caixa da cidade se ressente e a
população pede mais obras. “Toda cidade pequena tem dificuldade para
adotar uma política sistemática de cobrança de impostos e, em geral, não
há pessoal qualificado para o trabalho”, acrescenta.
Receita Corrente Líquida
A
receita corrente líquida é formada pelo conjunto das receitas – a
receita própria, as transferências constitucionais de ICMS, IPVA, FPM,
receitas do SUS e Fundeb. Só não são computadas na receita corrente
líquida as receitas de capital, operações de crédito, alienação de bens e
transferências espontâneas do governo para algum objetivo.
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