Manifestações em 15 cidades
pedem erradicação do trabalho escravo
Carolina Gonçalves/Repórter da Agência Brasil*
BRASÍLIA – Daqui a dois dias, manifestantes de
várias partes do país devem tomar as ruas de pelo menos 15 cidades brasileiras
para pedir a erradicação do trabalho escravo e cobrar o julgamento dos
envolvidos no caso que ficou conhecido como Chacina de Unaí. Há nove anos, três
auditores fiscais de trabalho e um motorista do Ministério do Trabalho foram
assassinados durante uma fiscalização em fazendas da cidade mineira de Unaí,
distante 160 quilômetros de Brasília. Até hoje, a Justiça não conseguiu
concluir o processo.
O caso motivou as autoridades a instituírem a data
de 28 de janeiro como o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo. Várias
manifestações populares vêm sendo realizadas neste dia ao longo dos últimos
anos, organizadas pela população e, principalmente, por profissionais que atuam
direta ou indiretamente no combate à este tipo de condição ilegal de trabalho.
Em Belo Horizonte, no início da tarde de segunda,
será realizado um Ato Público pelo julgamento dos acusados da Chacina de Unaí,
em frente ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região. O mesmo protesto deve ser
realizado em todos os estados em frente às Superintendências Regionais do
Trabalho de cada capital, organizados pelo Sindicato Nacional dos Auditores
Fiscais do Trabalho (Sinait) e Associação dos Auditores-Fiscais do Trabalho de
Minas Gerais (Aafit-MG).
A reivindicação pela conclusão do processo de Unaí
é prioritária na agenda de manifestações anuais, mas o caso ainda parece estar
longe de uma solução. Nos últimos dias, a juíza substituta da 9ª Vara da
Justiça Federal em Belo Horizonte, Raquel Vasconcelos Alves de Lima, decidiu remeter
o julgamento da Chacina de Unaí para a Vara Federal da cidade onde o crime
ocorreu. A Procuradoria da
República vai recorrer para reverter a decisão. A crítica ao julgamento
em Unaí é a de que os principais réus do caso gozam de grande influência
política e econômica na cidade.
No mesmo dia em que os protestos estão previstos, a
Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae) vai ser
reunir novamente na capital mineira para discutir o caso. A comissão foi criada
há dez anos para coordenar as ações do Plano Nacional de Combate ao Trabalho
Escravo e acompanhar a tramitação de projetos de lei no Congresso Nacional
sobre o tema.
A expectativa é que também participem do encontro a
ministra chefe da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da
República, Maria do Rosário Nunes, o ministro do Trabalho, Brizola Neto, o presidente
da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, deputado
Domingos Dutra, e a subprocuradora-geral da República coordenadora da 2ª Câmara
Criminal do MPF, Raquel Dodge.
Em Teresina, no Piauí, será lançada, também no dia
28, uma publicação de experiências e relatos das oficinas do projeto Educar
para Libertar, que trata da prevenção ao aliciamento do trabalho escravo no
estado. Em Salvador, a Comissão Estadual para a Erradicação do Trabalho Escravo
vai discutir a realização de pesquisas para a identificação dos locais de alta
incidência da prática de trabalho escravo no interior da Bahia, para definir
medidas de prevenção e combate ao crime.
Em Palmas e Araguaína, a comissão que trata sobre a
erradicação de trabalho escravo no Tocantins vai promover uma blitz educativa
nas ruas das cidades distribuindo material informativo sobre o tema. E, em
Açailândia, no Maranhão, representantes do Executivo e Legislativo local vão
receber uma proposta de Plano Municipal de Apoio às Vitimas do Trabalho
Escravo. Na Bahia, no município de Barreiras, a Comissão Pastoral da Terra e
Cáritas vai discutir o problema do trabalho escravo e as alternativas de
superação desta realidade com catadores de lixo da cidade. Os quilombolas de
Bom Jesus da Lapa também vão receber informações sobre como identificar e
denunciar os casos.
Em São Luís, no Maranhão, a Comissão Estadual para
a Erradicação do Trabalho Escravo vai se reunir para discutir o tema no dia 29.
No dia seguinte (30), em Porto Alegre, deve ocorrer, durante toda a tarde, o 1º
Debate sobre o Plano Estadual para a Erradicação do Trabalho Escravo no Rio
Grande do Sul.
No dia 31, em São Paulo, está previsto um debate
sobre como articular os esforços dos governos federal, estadual e municipal no
combate ao trabalho escravo na capital paulista. As discussões devem ser
coordenadas pela ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República, Maria do Rosário e pela secretária da Justiça e da
Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo, Eloisa Arruda. A previsão é que os
representantes do governo também definam como serão implementadas as políticas
acordadas na Carta Compromisso contra a Escravidão, que foi assinada pela
presidenta Dilma Rousseff com o governador Geraldo Alckmin e o prefeito de São
Paulo, Fernando Haddad.
No Rio de Janeiro, a Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) criou um curso de extensão Direitos Humanos do Trabalhador, que
está sendo ministrado desde o último dia 21 e será concluído no dia 8 de março.
* Colaborou Alex Rodrigues. Edição:
Fábio Massalli
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