Morre Hugo Chávez,
presidente da Venezuela, aos 58 anos
Hugo Chávez, líder que imprimiu sua marca registrada: a luta contra o Capitalismo e os EUA na América Latina. Foto: AP/2006. |
Com Informações do UOL/Folha
Ferrenho crítico do neoliberalismo e do governo dos
Estados Unidos, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, morreu aos 58 anos nesta
terça-feira (5), vítima de um câncer na região pélvica, com o qual convivia há
um ano e meio. Desde que sua enfermidade foi diagnosticada, em junho de 2011,
Chávez passava longos períodos em Cuba, onde tratava a doença.
Antes de viajar à ilha pela última vez,
em dezembro de 2012, Chávez fez um pronunciamento na televisão venezuelana, no
qual aludiu ao risco de morte ou de complicações maiores. Na ocasião, ele
também indicou o seu sucessor, o vice-presidente e chanceler Nicolás Maduro.
No dia 18 de fevereiro, Chávez voltou à
Venezuela de forma de surpreendente após dois meses em Cuba. "Chegamos de
novo à Pátria venezuelana. Obrigado Deus meu!! Obrigado povo amado!! Aqui
continuaremos o tratamento", escreveu na ocasião em seu perfil no Twitter.
Desde então, a oposição vinha cobrando
mais clareza por parte do governo sobre o estado de saúde o mandatário.
Em outubro de 2012, Chávez havia sido
reeleito presidente da Venezuela, com 54% dos votos. Como faleceu antes de
assumir o governo, o país deverá passar por novas eleições. O ex-governante já
deixou o seu recado sobre o futuro do país. "Vocês todos têm de eleger
Nicolás Maduro como presidente. Peço isso de coração", afirmou, durante
seu pronunciamento na TV.
Foram mais de três décadas de vida
política na Venezuela, que começou quando ele se formou em ciências e artes
militares na Academia Militar da Venezuela, aos 21 anos.
Natural de Sabaneta, oeste da Venezuela,
Chávez nasceu a 28 de julho de 1954. Ele era o segundo de seis filhos dos
professores Hugo de los Reyes Chávez e Elena Frías de Chávez. Sua infância e
adolescência, vividas em Sabaneta e Barinas, também no oeste do país, foram
marcadas pelo gosto por esportes e artes – o presidente chegou a escrever
alguns contos e obras de teatro.
Em 1975, ingressou na Academia Militar da
Venezuela, e não demorou muito para que se tornasse tenente-coronel, em 1990.
Sua ideologia esquerdista e a identificação com Simón Bolívar, um dos heróis da
independência da Venezuela, o levaram a fundar o Movimento Bolivariano
Revolucionário 200 (MBR200), que pregava a reforma do Exército e a mudança da
ordem constitucional vigente.
Em fevereiro de 1992, orquestrou um golpe
de Estado contra o então presidente Carlos Andrés Pérez, que estava envolvido
em denúncias de corrupção. A tentativa fracassou e Chávez foi levado à prisão,
onde permaneceu por dois anos. Já em 1997, ele fundou o Movimento Quinta
República (MVR), agremiação pela qual venceu as eleições presidenciais do ano
seguinte, com 56,5% dos votos.
Assim que tomou posse, em 1999, Chávez
dissolveu o Congresso e convocou um referendo para a instauração de uma
Assembleia Nacional Constituinte. Das 131 cadeiras, 120 pertenciam a aliados do
então presidente. A nova Carta, aprovada por 71,21% dos eleitores, mudou o nome
do país para República Bolivariana da Venezuela, outorgou maiores poderes ao
Executivo, extinguiu o Senado – o Parlamento virou unicameral – e aumentou os
direitos culturais e linguísticos dos povos indígenas. Novas eleições
presidenciais foram realizadas em 2000, e Chávez foi reeleito com 59,7% dos
votos.
Em 2002, o país passou por uma grave
crise política depois que Chávez demitiu gestores da PDVSA – a petrolífera
estatal venezuelana, que controla 95% da produção nacional – e substitui-los
por gente de sua confiança. Opositores organizaram um golpe de Estado em abril
do mesmo ano, que foi seguido de um contragolpe dois dias depois, já que forças
leais a Chávez perceberam o clamor popular do líder. Com duração de 47 horas,
este foi o golpe de Estado mais rápido da história.
Um referendo sobre a permanência de
Chávez no poder foi realizado em agosto de 2004, e 58,25% dos votantes se
mostraram favoráveis ao presidente. Em 2006, ele foi reeleito para um segundo
mandato de seis anos. Mais uma vez, ele governou com grande apoio no Congresso,
já que a oposição havia boicotado as eleições legislativas de 2005.
O primeiro revés veio no final de 2007,
quando a população, após um plebiscito, negou uma reforma à Constituição. Em
2008, a oposição ganhou a prefeitura das duas maiores cidades do país, Caracas
e Maracaibo, além de cinco Estados economicamente importantes (Zulia, Carabobo,
Miranda, Táchira e Nueva Esparta).
Os revezes seriam em parte compensados em
2009, quando Chávez conseguiu a aprovação da reeleição ilimitada em um
referendo no qual 54% dos votos foram favoráveis à proposta. Em 2012, ele
disputou o pleito presidencial pela quarta vez e foi reeleito, mas não chegou a
assumir o governo.
Aliados e inimigos
No campo da política externa, Chávez não
escondia seu apreço por governantes como o boliviano Evo Morales, o equatoriano
Rafael Correa e os cubanos Raúl e Fidel Castro, todos combatentes da diplomacia
dos EUA. Por outro lado, era feroz crítico do governo da vizinha Colômbia,
aliada dos EUA na América do Sul, e se desentendeu várias vezes com o
ex-presidente colombiano Álvaro Uribe (2002-2010).
Ainda no âmbito regional, Chávez era o
principal defensor da Alba (Aliança Bolivariana para as Américas), bloco de
cooperação regional fundado em 2004 em oposição à Alca (Área de Livre Comércio
das Américas), proposta impulsionada pelos EUA desde a década de 90, mas que
nunca foi criada.
Em 2009, o presidente expulsou do país o
embaixador de Israel, em represália à intervenção militar israelense na faixa
de Gaza, em janeiro do mesmo ano. Por outro lado, era próximo do iraniano
Mahmoud Ahmadinejad e dos ex-ditadores iraquiano Saddam Hussein (1937-2006) e
Muammar Gaddafi (1942-2011). Também defendia o ditador sírio, Bashar al Assad,
o que causava controvérsias, já que o regime árabe é acusado de promover uma
violenta repressão à revolta popular que atinge o país.
Política interna
Enquanto presidente, Chávez trabalhou
para diminuição da pobreza em seu país. Em 2003, ele implementou as
"Misiones Bolivarianas", programas sociais voltados à população
carente. Existem 26 missões – as mais conhecidas são a "Misión
Robinson", que promove a alfabetização em regiões pobres, e a "Misión
Barrio Adentro", que leva assistência médica a estas zonas.
Tais políticas contribuíram para a
melhora na condição de vida dos venezuelanos. Segundo pesquisa do Instituto
Datos, a renda da classe "E", a mais pobre do país e que concentra
15,1 milhões de pessoas (58% da população), aumentou 53% entre 2003 e 2004.
Antes, em 2001, ele havia baixado um
decreto-lei conhecido como Lei dos Hidrocarbonetos, que fixou em 51% a
participação do Estado no setor petrolífero – a Venezuela é o oitavo maior
exportador mundial de petróleo, que representa 80% das exportações do país --
aumentou o preço dos royalties pagos por empresas estrangeiras pela exploração
do líquido. A Lei de Terras e Desenvolvimento Agrário, do mesmo ano,
estabeleceu a expropriação de terras improdutivas acima de 5.000 hectares.
Em 2007, em mais um gesto contra os
opositores ao seu governo, o presidente decidiu não renovar a licença do canal
de televisão aberta Radio Caracas Televisión (RCTV), que desde então é obrigada
a transmitir via cabo.
Entre 2009 e 2010, o país sofreu uma grave
crise energética após uma seca provocada pelo fenômeno climático El Niño. A
oposição culpou o governo por não investir na área, e a população foi obrigada
a fazer racionamento.
O dilema energético venezuelano persiste,
e se juntou ao problema no sistema carcerário, explicitado após uma rebelião de
mais de mil presos na cadeia de El Rodeo, a 40 km de Caracas, em junho de 2011,
que deixou dezenas de mortos.
Herança familiar
Chávez deixa três filhas e um filho –
três são fruto do casamento com Nancy Colmenares e uma nasceu da união com a
jornalista Marisabel Rodríguez, de quem havia se separado em 2003. O
ex-presidente ainda manteve um caso amoroso de dez anos com a historiadora
Herma Marksman, enquanto estava com sua primeira mulher.
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