TCU condena ex-diretores da Petrobras por
prejuízo com Pasadena, mas inocenta membros do conselho da estatal, entre eles a presidente
Dilma Rousseff
Parlamentares
da oposição questionam a posição do tribunal de isentar de culpa os membros do
conselho de administração da estatal. Segundo líder do governo no Senado, essa
decisão foi “ducha de água fria” para os oposicionistas.
Marco Maia (E): secretário reafirmou à CPMI ausência de culpa de conselheiros da estatal. Para Rubens Bueno (D), decisão do TCU contraria Lei das S/As. Foto: Luis Macedo / Câmara dos Deputados. |
Agência Câmara Notícias*
BRASÍLIA
(DF) – O Tribunal de Contas da União (TCU) condenou, nesta quarta-feira (23), o
ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli e outros dez diretores da estatal a
pagar o prejuízo de 793,2 milhões de dólares com a compra da refinaria de
Pasadena, nos Estados Unidos. O acórdão do tribunal inocentou os membros do
conselho de administração da estatal, entre eles a então comandante do
colegiado, a presidente Dilma Rousseff.
O
secretário de Controle Externo da Administração Indireta do TCU, Osvaldo
Perrout, confirmou a inocência do conselho de administração em seu depoimento
nesta tarde aos integrantes da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI)
da Petrobras. “Na análise dos técnicos do TCU, não há responsabilidade dos
membros do conselho. Isso foi reafirmado mais uma vez”, disse o relator da
CPMI, deputado Marco Maia (PT-RS). O depoimento do secretário aconteceu a
portas fechadas, a pedido do depoente, e ele não falou com a imprensa após o
encontro.
Perrout é
o chefe da área que fez o parecer para subsidiar o voto do ministro José Jorge,
relator no TCU do processo sobre Pasadena. Um primeiro relatório feito em 4 de
junho pelo auditor Alberto Pereira, que coordenou o caso, responsabilizou o
conselho. Um novo parecer, revisado duas semanas depois, isentou o colegiado.
Foi este texto que serviu de base para o acórdão aprovado hoje pelo TCU.
Contradição
Parlamentares
da oposição criticaram uma possível contradição no depoimento de Perrout.
Perguntado se teria votado com base no resumo executivo apresentado ao conselho
de administração, caso pertencesse ao colegiado, o secretário teria dito que
não. “Ele disse que exigiria mais documentos e não votaria [pela aprovação da
compra de Pasadena] e agora disse que o conselho não tem responsabilidade”,
reclamou o deputado Fernando Francischini (SD-PR), autor do convite para ouvir
Perrout.
Para o
deputado Rubens Bueno (PPS-PR), a decisão do TCU contraria a Lei das Sociedades
Anônimas (S/A – Lei 6.404/76) sobre a necessidade de os membros de conselho de
administração buscar o maior número de informações possíveis antes de tomar uma
decisão. “A lei obriga o conselho a tomar todos os cuidados porque é o último a
dar o parecer.”
Segundo
Francischini, o ministro José Jorge foi pressionado para inocentar a presidente
Dilma Rousseff. “Vamos criar um novo precedente no TCU para gestores de
recursos públicos, dizendo que a culpa no desvio de dinheiro público não serve
para punir mais ninguém”, declarou.
Em 2006,
o conselho de administração autorizou a compra de 50% da refinaria de Pasadena,
que pertencia à belga Astra Oil, por 360 milhões de dólares. Ao final do
negócio, em 2012, a refinaria foi adquirida pela Petrobras, depois de um
processo de arbitragem judicial, por 1,25 bilhão de dólares.
‘Água
fria’
Segundo o
líder do PT no Senado, senador Humberto Costa (PE), a decisão do plenário do
TCU de não culpar o conselho administrativo pelas perdas com a aquisição de
Pasadena foi uma “ducha de água fria” para a oposição. “O ministro José Jorge
foi obrigado a reconhecer que a presidenta Dilma não tem qualquer
responsabilidade no caso. O principal objetivo da oposição caiu por terra”,
sustentou Costa.
PGR
Também
hoje, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, decidiu arquivar a
apuração para analisar possível irregularidade na aprovação da compra de
Pasadena. O procurador informou que não é possível "imputar o cometimento
de delito de nenhuma espécie" aos integrantes do conselho.
Outros
depoimentos
No dia 30
deste mês, a CPMI ouvirá José Orlando Melo de Azevedo, ex-presidente da
Petrobras América Inc e primo do ex-presidente da estatal Sérgio Gabrielli. Em
agosto, devem prestar depoimento à comissão os ex-diretores da área
internacional da empresa Jorge Luiz Zelada (dia 6) e Nestor Cerveró (dia 13).
Segundo o
presidente do colegiado, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), a escolha dos
depoentes foi feita para dividir o trabalho da CPMI de acordo com os quatro
eixos de investigação propostos quando a comissão foi instalada. “Com os
próximos depoimentos, vamos fechar o eixo Pasadena”, comentou.
*Reportagem
– Tiago Miranda/Edição – Marcelo Oliveira
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