Dilma tenta se descolar do fracasso da seleção brasileira na
Copa
Vera Rosa e Tânia Monteiro/Estadão
Dilma tenta dar 'volta por cima' e descolar do fiasco em campo'. Foto: Palácio Planalto jul 2014. |
A ordem no Palácio do Planalto é “virar a
página” do que Dilma definiu como “pesadelo” e baixar o tom do mote “Copa das
Copas”, com o qual o governo pretendia bater o bumbo na campanha. No lugar do
ufanismo, entra agora a retórica da “volta por cima” e da capacidade de
superação do brasileiro nas adversidades, além da organização “impecável” do
evento.
A equipe da reeleição dá como certo que
Dilma será hostilizada na final da Copa, no domingo, quando a presidente
entregará a taça ao campeão, no Maracanã. Ministros e coordenadores da campanha
petista acreditam que o “efeito Copa” não dure até a eleição, em outubro. O
temor, agora, é que o fim antecipado da catarse coletiva alimente novos
protestos, que podem ser disseminados e atingir “tudo o que está aí”, mirando
em Dilma e na alta dos preços - e consequentemente dos índices de inflação -
por causa da Copa.
“Quem tentar transferir para o campo da
política eleitoral uma derrota no futebol dará um tiro no pé”, disse o ministro
da Justiça, José Eduardo Cardozo, que assistiu à derrota do Brasil em Belo
Horizonte. “A politização é simplesmente ridícula”. Para Cardozo, a derrota do
Brasil “não muda em nada” o caráter da Copa, nem da segurança e da organização
do evento, “que estão sendo aplaudidos pelo mundo inteiro”.
O chefe da Secretaria-Geral da
Presidência, Gilberto Carvalho, que na terça-feira admitiu a preocupação do
governo com a possibilidade de volta das ações violentas dos black blocs, ontem
disse que “o desastre com a seleção brasileira não é o desastre com a Copa”.
“Precisamos cuidar para que tudo continue dando certo.”
Na rede. A coordenação da campanha de Dilma
identificou nas redes sociais “perfis falsos” de apoiadores dos candidatos
Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) associando a presidente ao vexame do
Brasil diante da Alemanha, para desconstruir a imagem de “gerente” que a
petista tenta apresentar. Vinte e quatro horas antes do fracasso da seleção,
Dilma deu estocadas nos adversários e disse, em conversa com internautas, que a
Copa era uma “belezura”, para “azar dos urubus”.
“Do ponto de vista de organização, a Copa
é um sucesso e isso é inegável”, afirmou o ministro de Relações Institucionais,
Ricardo Berzoini. “O Brasil sofreu uma derrota absolutamente inesperada, que
entristeceu todos nós, e quem quiser fazer proselitismo político com isso terá
de enfrentar o julgamento do eleitor.”
Berzoini se reuniu nesta quarta com o
presidente do PT, Rui Falcão, coordenador da campanha de Dilma. Mais tarde,
Falcão conversou com o jornalista Franklin Martins, responsável pelo
monitoramento das redes sociais. O governo e o comitê da reeleição estão
atônitos com o fiasco da seleção e avaliam qual a melhor estratégia a seguir
para blindar a presidente.
Uma das estratégias será apostar na
agenda “positiva” dos próximos dias. Além de almoçar com chefes de Estado que
estarão no Rio, no domingo, para a final da Copa, Dilma vai receber 21
presidentes na próxima semana. O comitê da reeleição quer aproveitar esses
eventos para mostrar a presidente como “estadista”.
Palpite errado. Em conversa com o fundador da Amil
Assistência Medica Internacional, Edson Bueno, ontem à tarde, Dilma não
escondeu o abatimento com a derrota da seleção. “Mas ela foi para a guerra e é
uma pessoa muito forte”, disse Bueno. “Ela falou para mim: ‘Temos de ir em
frente, temos de motivar o País’.”
No encontro, Dilma achava que o Brasil
poderia enfrentar a Argentina, na briga pelo terceiro lugar, o que não se
concretizou - horas depois, a equipe de Messi se classificou para a final. “Nós
discutimos o seguinte: se for contra a Argentina, o negócio é ganhar de uns 4 a
0, porque a gente pelo menos fica um pouco melhor”, afirmou Bueno.
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