Escassez de água provoca crise no governo federal
Antaq acusa ANA de omissão na função de equilibrar uso da
água que, por sua vez, diz que a primeira nunca apresentou uma solução
André Borges - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - A escassez de água na Região
Sudeste começou a causar fissuras dentro do governo federal. A crise, que até
agora era tratada como um problema restrito ao governo de São Paulo, sendo
observada à distância pela União, acabou desembocando em troca de acusações e
desentendimentos entre as agências reguladoras.
A Agência Nacional de Transportes
Aquaviários (Antaq), responsável pela administração do transporte fluvial no
País, acusa a Agência Nacional de Águas (ANA) de ser omissa em sua função de
garantir o equilíbrio no uso da água para diferentes propósitos: abastecimento,
geração de energia e transporte de carga. A Antaq também disparou críticas
contra o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), acusado de privilegiar
apenas o plano de geração de energia e ignorar o resto.
“A ANA não faz o básico, que é garantir o
uso múltiplo da água. Nem a ANA nem o ONS respeitam essa regra. Não somos
consultados em nada, quem decide tudo são eles. Ficamos sabendo das decisões de
vazão do Tietê-Paraná na última hora. Todos simplesmente ignoram a navegação”,
disse ao jornal Estado de S. Paulo o diretor da Agência Nacional de
Transportes Aquaviários (Antaq), Adalberto Tokarski.
O diretor da ANA, Vicente Andreu, reagiu
às acusações. “A Antaq reclama, mas a verdade é que eles nunca apresentaram uma
solução. Uso múltiplo da água não significa uso equivalente. O departamento
hidroviário de São Paulo apresentou duas propostas para o ONS para resolver o
problema. A Antaq nunca apresentou uma proposta”, afirmou.
O ONS afirma que as decisões sobre a
vazão dos rios são técnicas e decididas pelos membros do Comitê de
Monitoramento do Setor Elétrico, ligado ao Ministério de Minas e Energia.
Rusgas. O clima na Antaq é de indignação. As
rusgas entre as agências reguladoras começaram a surgir em maio, com a redução
de vazão de água nas hidrelétricas do sistema Tietê-Paraná. A medida afetou
diretamente o tráfego de barcaças na hidrovia, que é a mais movimentada do
País. Há quase um mês, as operações foram completamente paralisadas.
O diretor da agência, Adalberto Tokarski,
fez um levantamento sobre o reflexo da retenção de água na Tietê-Paraná para a
movimentação de carga. “Entre maio e novembro do ano passado, 2 milhões de
toneladas de soja e milho passaram por essa hidrovia. Neste ano, se ela
permanecer intrafegável nesse período, serão colocados 45 mil caminhões a mais
nas estradas da região, para causar, mais uma vez, aquelas filas imensas nos
portos do Sudeste. Isso é um absurdo.”
Questionada sobre o assunto, a ministra
do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, saiu em defesa da ANA. Em entrevista ao Estado de S. Paulo,
disse que a Antaq não propõe soluções para a situação. “A ANA tem uma proposta
clara sobre hidrovia, e é verdade que o ONS tem uma certa resistência a isso.
Mas a Antaq nunca soube discutir esse assunto. Ela não está preparada para esse
debate político”, disse Izabella. “Por que a Antaq não constrói o diálogo? Por
que não procura o seu ministro para discutir o tema? Se a situação está no
limite, em vez de ficar acusando, o que ela deveria fazer é provocar o debate e
tentar construir o marco regulatório que viabilize isso.”
Para a diretoria da Antaq, as suas propostas são constantemente rejeitadas. Adalberto Tokarski diz que os problemas de navegação também começaram a afetar operações no rio São Francisco, onde empresas estão paralisando o transporte de carga e demitindo funcionários. A queixa foi levada à Comissão de Infraestrutura do Senado. “Ninguém está dizendo que não se deve gerar energia ou abastecer a população com água. O que está em questão é a forma de gestão. O uso da água é mal feito”, disse o diretor da agência.
Para a diretoria da Antaq, as suas propostas são constantemente rejeitadas. Adalberto Tokarski diz que os problemas de navegação também começaram a afetar operações no rio São Francisco, onde empresas estão paralisando o transporte de carga e demitindo funcionários. A queixa foi levada à Comissão de Infraestrutura do Senado. “Ninguém está dizendo que não se deve gerar energia ou abastecer a população com água. O que está em questão é a forma de gestão. O uso da água é mal feito”, disse o diretor da agência.
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