Governo quer criar fundo para bancar
conselhos
Segundo
ministro Gilberto Carvalho, verba servirá para viabilizar reuniões dos órgãos
Erich Decat e Rafael Moraes Moura - O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - O ministro da Secretaria-Geral
da Presidência, Gilberto Carvalho, afirmou ontem que o governo discute a
publicação de um novo decreto presidencial para criar um fundo que vai custear
o funcionamento dos conselhos populares. A medida está sendo analisada após o
polêmico decreto da presidente Dilma Rousseff que estabelece a Política
Nacional de Participação Social e o Sistema Nacional de Participação Social.
Estamos trabalhando na ideia de um Fundo
Financeiro da Participação Social. Vamos fazer também por decreto, a presidente
Dilma pode fazer isso", disse Carvalho, que se reuniu com representantes
do Conselho Nacional de Saúde (CNS), instância máxima de deliberação do Sistema
Único de Saúde.
Editado em 23 de maio, o decreto 8.243,
de 22 artigos, orienta a instituição no governo de um complexo sistema de
consulta à sociedade civil na elaboração de políticas públicas. O texto diz que
a meta é "consolidar a participação social como método de governo".
A determinação gerou críticas entre
juristas, na oposição e até entre representantes da base aliada ao governo
federal. Houve reação no Congresso. A Câmara aprovou anteontem, com 294 votos a
favor e 54 votos contra, o regime de urgência para o decreto legislativo que
susta o decreto presidencial.
Projeto de lei. Na reunião com representantes do CNS, o
ministro também defendeu a elaboração de um projeto de lei, a ser enviado para
discussão no Congresso, no qual seriam inseridos tópicos que não puderam
inicialmente ser tratados por meio do decreto presidencial.
"Esse projeto de lei deverá abordar
questões que o decreto não tem como abordar. Por exemplo, o papel deliberativo
ou consultivo dos conselhos... bela discussão para se fazer em um projeto de
lei porque num decreto não podia mudar isso", afirmou Carvalho. Outro tema
que pode entrar na proposta é a definição dos critérios de escolha dos
conselheiros.
Após o encontro, o ministro, porém, não
deu detalhes sobre o projeto de lei nem como o fundo seria financiado. Segundo
ele, ainda não há data definida para as propostas saírem do papel. A divulgação
estaria dependendo da votação no Congresso do decreto legislativo.
"Isso vai depender, naturalmente, do
destino do decreto no parlamento. Temos agora que esperar um pouco.
Fundamentalmente, (o fundo) custearia passagens e infraestrutura mínima",
disse o ministro.
A imprensa pediu, nesta quarta-feira
(16), mais esclarecimentos à Secretaria-Geral da Presidência sobre as
propostas, mas não obteve resposta ao pedido de entrevista.
Mobilização. Na reunião com representantes do CNS,
Carvalho aproveitou para pedir uma "mobilização" dos integrantes do
conselho contra o decreto legislativo que tramita no Congresso. A aprovação do
regime de urgência contou com o apoio da maioria dos partidos da base aliada,
com exceção do PT e do PC do B.
Integrantes da bancada do PT, no entanto,
recorreram a artifícios regimentais e impediram o avanço da discussão.
"É provável que no dia 5 de agosto
volte à pauta o debate do decreto no Congresso Nacional. Se fosse votado ontem
(anteontem) teríamos uma fragorosa derrota, portanto, queria deixar para vocês
o desafio de uma ação porque o governo sozinho não vai conseguir segurar isso,
ficou provado ontem. Fica esse desafio para que vocês pensem em forma de
mobilização", afirmou o ministro.
Presente na reunião, o ministro da Saúde,
Arthur Chioro, não comentou a criação de um Fundo da Participação Social, mas
também cobrou um posicionamento público a favor do decreto por parte do CNS e
defendeu o decreto da Política Nacional de Participação Social. "Talvez
para nós da Saúde não fosse tão decisivo, mas será fundamental na medida que
terá o comitê governamental que vai permitir para a gente articular políticas
intersetoriais", disse.
A discussão da iniciativa do Palácio do
Planalto de institucionalizar a consulta popular à sociedade civil também traz
à baila o debate sobre estruturas semelhantes já existentes.
Atualmente, o governo federal conta com
35 conselhos que, muita vezes, enfrentam uma realidade de falta de
transparência, reuniões pouco produtivas e critérios questionáveis na escolha
de seus representantes. Esses 35 conselhos são bancados pelos ministérios aos
quais estão vinculados.
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