PSD e PSB puxam derrotas do governo Dilma na Câmara
Apenas
123 deputados votaram com o governo 90% das vezes em 2013; no início eram 306
José Roberto de Toledo, Isadora Peron e Rodrigo
Burgarelli - O Estado de S.Paulo
Foram 11 derrotas do governo em 37
votações na Câmara dos Deputados no segundo semestre de 2013. Nunca a
presidente Dilma Rousseff (PT) perdeu tanto em tão pouco tempo. Ela sofrera só
3 derrotas ao longo de todo ano de 2011, 5 em 2012 e outras 5 no primeiro
semestre do ano passado. O surto de derrotas sucedeu os protestos de rua que
derrubaram a popularidade presidencial.
'Presidencialismo de Coalizão': em xeque no governo Dilma. Foto: AE/2013. |
A tendência de perda de apoio vem de
longe, porém. O núcleo duro governista - aqueles que votam com Dilma em pelo
menos 90% das vezes - caiu de 306 deputados em 2011 para 134 em 2012 e fechou
2013 com apenas 123 parlamentares (uma redução de 59,8%). Ou seja, a presidente
só pode contar mesmo com o voto de 1 em cada 4 deputados.
Como o governo tem maioria teórica no
Congresso, as derrotas só podem ser impingidas por seus aliados. Nessas 11
derrotas, os partidos da base de apoio a Dilma que mais traíram a presidente
foram PSD e PSB, este último já em fase de afastamento do Planalto por causa do
projeto presidencial do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Mas não
foram só eles. Ao racharem, os peemedebistas também atrapalharam bastante. Além
disso, o PMDB detém a presidência da Câmara e determina o que e quando será
votado.
Os aliados "ma non troppo"
morderam com precisão de vampiro, só em votações-chave, e assopraram nas
demais, apoiando o governo maciçamente nas outras matérias. Como resultado, a
taxa de apoio ao governo aumentou no segundo semestre, apesar das derrotas. A
média de apoio na Câmara foi de 81% dos votos entre julho e dezembro, contra
72% no semestre anterior.
Tome-se o caso do PSD. O partido de
Gilberto Kassab foi o primeiro a anunciar publicamente apoio à reeleição de
Dilma. Mas, na Câmara, o PSD agiu como se fosse de oposição. O líder do partido
recomendou que sua bancada votasse contra o governo em 8 das 11 derrotas de
Dilma no segundo semestre. Só para comparar, o PSDB fez isso em 9 das 11
votações.
A liderança do PSD foi na contramão do
governo, por exemplo, na apreciação das propostas de extinção da multa sobre o
FGTS a ser paga pelos empregadores em caso de demissão, na criação do programa
Mais Médicos e no apoio da proibição de o BNDES conceder empréstimos
subsidiados em fusões ou aquisições de empresas. Também bateu de frente nas
votações da dívida dos municípios e dos royalties do petróleo.
O PSB fez o discurso oposto - anunciou
sua saída do governo, por causa da candidatura presidencial de seu chefe,
Eduardo Campos, e cumpriu a promessa. De uma taxa de governismo de 94% em 2011,
o PSB caiu para 88% em 2012 e para 77% em 2013. Foi o único grande partido que
teve taxa de governismo menor no segundo semestre (74%) do que no primeiro
(79%). E já anunciou que vai radicalizar a tendência em 2014.
Senado. A situação no Senado é similar, apesar de
mais confortável. O número de derrotas pulou de três no primeiro semestre de
2013 para dez no segundo - e todos os partidos governistas votaram contra o
governo em algum momento. O núcleo duro, porém, continua o mesmo de 2011, com
25 senadores.
Para o professor da FGV-SP Cláudio Couto,
o "desgaste" na relação de Dilma com os aliados explica parte das
derrotas sofridas pelo Planalto. "Quando fica claro que a conduta ruim do
governo não vai se alterar, as pessoas votam contra." Humberto Dantas, do
Insper, concorda. "As derrotas mostram que é notório que temos um governo
que não sabe negociar e que envolve pouco o Legislativo nas decisões."
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sinta-se à vontade para postar seu comentário.
Espaço aberto à participação [opinião] e sujeito à moderação em eventuais comentários despretensiosos de um espírito de civilidade e de democracia.
Obrigado pela sua participação.
FN Café NEWS