Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz encontraram três espécies que inibem a replicação do vírus da dengue
Descoberta foi possível com estratégia da
Fiocruz, que nos últimos anos descentralizou atividades e passou a fazer
estudos no interior
Clarissa Thomé - Enviada especial de O Estado de S. Paulo
AQUIDAUNA (MS) - Num acervo de 4.400 plantas
coletadas no Pantanal Mato-Grossense, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz
encontraram três espécies que inibem a replicação do vírus da dengue. Os
extratos vegetais foram testados em células infectadas com os vírus dos tipos 2
e 3. A pesquisa caminha agora para nova fase, a de testes em animais, para
avaliar a toxicidade.
Arbusto eteraceae, uma das plantas usadas para neutralizar o vírus da dengue. Foto: Fábio Motta/Estadão |
O trabalho se tornou possível por causa
de uma estratégia que tomou fôlego nos últimos cinco anos na Fiocruz - a de
descentralizar as atividades e fazer ciência no interior do País, aproveitando
as diferenças regionais. A instituição já está em nove Estados, além do Rio de
Janeiro - Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Amazonas, Rondônia, Ceará, Mato
Grosso do Sul e Piauí. Está em negociação a abertura de um polo no Rio Grande
do Sul.
No Mato Grosso do Sul, os trabalhos se
dividiram em várias linhas de pesquisa - da saúde indígena à busca por novas
moléculas a partir da flora local, além da formação de mão de obra.
O diretor da Fiocruz-MS, Rivaldo Venâncio
da Cunha, diz que a primeira etapa do trabalho em Campo Grande foi identificar
as instituições que poderiam ser parceiras da Fiocruz. "Não vamos repetir
o que eles já estão fazendo. A história não começa com a chegada da
Fiocruz." Nessa busca por parceiros, chegaram à Universidade
Anhanguera-Uniderp, onde o curso de Agronomia já tinha catalogado 4 mil plantas
do Pantanal mato-grossense.
Ao testarem as possibilidades
terapêuticas das plantas, os pesquisadores chegaram a três famílias capazes de
inibir a replicação do vírus da dengue. "Uma delas teve atividade
fenomenal. Vamos tentar sintetizar a molécula e testar em modelo vivo",
disse a pesquisadora Jislaine Guilhermino. As regiões Norte, Nordeste e
Centro-Oeste foram escolhidas como prioritárias por causa de "vazios de
desenvolvimento de ciência e tecnologia", diz o presidente da instituição,
Paulo Gadelha.
Tecnologia. Se no início do século 20 cientistas como
Oswaldo Cruz, Carlos Chagas e Artur Neiva deixavam o Rio para desbravar o País
e desvendar as doenças que assolavam os cantos mais distantes, hoje o que se
tem é investimento em tecnologia de ponta. Como a que está sendo levada para o
Ceará. A Fiocruz começará a construir no Polo Tecnológico de Euzébio a primeira
plataforma para a produção de medicamentos biológicos a partir de células
vegetais. O processo de produção a partir da extração vegetal é uma novidade no
País.
A tecnologia garante mais segurança do
que os remédios produzidos a partir de vírus e bactérias - produz menos efeitos
colaterais. E requer menos investimentos. "Vamos usar a célula do tabaco
para expressar a proteína do envelope do vírus da vacina da febre
amarela", exemplifica o presidente do conselho Político e Estratégico de
Bio-Manguinhos, Akira Homma.
A fábrica também produzirá medicamentos
para doenças raras, como a doença de Gaucher. O remédio será fabricado a partir
da célula da cenoura.
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