Rombo da Previdência cresce e
governo quer apertar regras para benefícios
Déficit cresceu de R$ 42,3 bi em
2012 para R$ 49,9 bi no ano passado; um dos planos é endurecer as regras
para a concessão de auxílios-doença e aposentadorias por invalidez
Ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves Filho (ao centro),
participa de evento da pasta em Brasília, DF. Foto: Nicolas Gomes
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Mauro
Zanatta - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA
- O rombo nas contas da Previdência Social voltou a crescer de forma expressiva
em 2013. O déficit chegou a R$ 49,9 bilhões, segundo dados obtidos pelo Estado
de S. Paulo, e que devem ser divulgados nesta semana. O governo
esperava um "equilíbrio" na comparação com 2012, quando a conta ficou
negativa em R$ 42,3 bilhões.
A surpresa na elevação dos gastos é
explicada no governo pelo pagamento, por decisão judicial, de quase R$ 3
bilhões em passivos acumulados ao longo de anos anteriores. Pesaram no rombo as
revisões do teto da Previdência, causadas pelos benefícios com reajuste acima
da inflação, e o recálculo de auxílios-doença e aposentadorias por invalidez
cujos beneficiários tinham feito menos de 180 contribuições.
Além disso, a Previdência começou a pagar
o estoque da chamada compensação previdenciária a Estados e municípios, devida
entre 1989 e 1999 e até aqui ainda não quitado.
Em um esforço para atenuar esse rombo, a
Previdência busca meios para apertar as regras de concessão de auxílios-doença
e invalidez, cujas despesas atingiram R$ 65,4 bilhões em 2013. O foco é reduzir
os auxílios de longa duração, cuja despesa somaria atualmente R$ 7 bilhões
anuais.
Reabilitação. As normas sob avaliação de um grupo
interministerial vão incorporar, segundo informou o Ministério da Previdência,
o chamado Plano de Reabilitação Integral. A partir da recomendação da perícia
médica do INSS, o beneficiário fará uma reabilitação física e profissional
conjunta. A situação seria reavaliada a cada dois anos.
A situação é considerada grave. Do total
de benefícios concedidos todo ano, 18% são por invalidez. O governo quer baixar
ao nível "aceitável" de 10% do total, índice semelhante ao imposto
pela União Europeia à Grécia após a crise que quebrou o país. Mesmo com faixa
etária mais alta, a Grécia tinha 14,5% dos benefícios nessa modalidade até ser
varrida pela crise. Parece possível. O sistema previdenciário dos servidores
públicos da União conseguiu reduzir os auxílios-doença de 30% do total, em
2004, para 4% no ano passado.
O plano no Regime Geral da Previdência
Social (RGPS) é cortar em 40% o total desses benefícios até 2024, o que
resultaria em uma economia de R$ 20 bilhões no último ano, em valores nominais.
Em uma década, haveria uma economia de R$ 108 bilhões aos cofres públicos.
Plano. Para ter êxito, após uma determinada
cirurgia, por exemplo, o beneficiário passará a ser acompanhado. Se não for
possível voltar à função original, a empresa indicará outro posto compatível
com o salário e a qualificação, respeitadas limitações físicas e de aptidão.
O governo fará um esforço conjunto de
suas áreas para requalificar, via programas com o Pronatec, e até recolocar o
profissional no mercado, a partir da base de dados do Sistema Nacional de
Emprego (Sine). Um grupo interministerial deve aprovar as regras até março.
Na avaliação do governo, em casos mais
graves, seria possível reduzir os custos aos cofres. Seria pago um
auxílio-acidente, benefício de curta duração e valor bem menor que
aposentadorias por invalidez e auxílios-doença. "Todo mundo ganha. O
trabalhador continua a contribuir, recebe um benefício, ainda que menor, e o
soma ao salário", resume o secretário de Políticas de Previdência,
Leonardo Rolim. "O País recupera um trabalhador e a empresa tem opção de
cumprir sua cota reservada a deficientes."
Um projeto-piloto começou a funcionar em
Porto Alegre e outro está em estruturação no Rio, segundo o INSS.
O exemplo perseguido pelo governo já foi
provado em Piracicaba (SP). O médico perito Rubens Cenci Motta coordena o
programa local de reabilitação integrada.
Quase 90% dos casos potenciais de
invalidez e auxílio-doença são tratados pela abordagem preventiva com
alternativas de trabalho adaptado ou restrito por um grupo multidisciplinar de
profissionais, e não apenas pelos peritos do INSS. Assim, a maior parte dos
casos, que implicaria dois anos de "molho", leva dois ou três meses
de afastamento.
Além disso, os juízes trabalhistas
passaram a tratar com mais rigor as empresas que se negam a colaborar com o
grupo, fixando punições. "Os casos são fechados por consenso. É possível
fazer em nível nacional, mas precisa haver parceiros da Previdência", diz
Cenci.
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