quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

QUEBRA DE BRAÇO: O Brasil decola ou desaponta na economia mundial em 2014?

Em ano de eleição, governo terá pouco espaço para estimular a economia, diz economistas.
Por outro lado, ‘Brasil deve crescer em 2014 um pouco mais do que em 2013', disse Delfim Netto

Capas da revista inglesa ‘The Economist’ sobre estágios da economia brasileira. Em 2009, a primeira capa de The Economist (à esquerda) diz que “o Brasil decola” em um eventual cenário promissor na economia mundial. Entretanto, a segunda capa da revista ilustra, em outubro de 2013, um momento de pessimismo e desapontamento com a economia brasileira. Imagens: Capas The Economist 2009 e 2013.

FN Café NEWS – O ano mal chegou e a polêmica foi suscitada por alguns economistas do País: o Brasil cresce economicamente, ou não, em 2014? Para além da economia, será também se o Brasil vai ter um desempenho significativo no crescimento em áreas como a educação e o desenvolvimento social sustentável neste ano? Esta é outra questão que compete ouvir especialistas desses segmentos do conhecimento.

No entanto, para o momento, lança-se mão de algumas opiniões na quebra de braço entre economistas brasileiros sobre cenário e estágio econômico para o Brasil 2014.

Por um lado, sem margem de manobra, segundo alguns economistas, normalmente a ordem seria aquecer a economia brasileira, mas Planalto terá de lidar com redução de estímulos nos EUA e desconfiança externa sobre o Brasil em 2014; perspectiva de mercado é de crescimento de 1,5% a 2%. Por outro lado, de acordo com Delfim Netto, apontado como um dos conselheiros econômicos da presidente Dilma Vana Rousseff [o que ele nega], em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, há chances de a economia brasileira crescer mais de 2014 do que em 2013. "Hoje, o que precisa é uma decisão da presidente de fazer 2% de superávit primário, sem truques", disse Delfim. 

Veja a seguir a controvérsia de ideias entre os economistas.

O Estado de S. Paulo/Luiz Guilherme Gerbelli
O governo terá de lidar com diversas amarras em 2014, o que dará pouco espaço para estimular a economia brasileira. A expectativa é que o padrão econômico do País dos últimos anos se repita com baixo crescimento e inflação elevada. 

Se o governo decidir, por exemplo, aumentar os gastos para estimular a economia, a situação fiscal tende a piorar ainda mais, e aumenta o risco de o Brasil ser rebaixado pelas agências de risco num ano de disputa eleitoral - em junho, a agência Standard & Poor's colocou a perspectiva de rating brasileiro de estável para negativo.

"O desejo do governo seria o de colocar o pé no acelerador porque 2014 é um ano eleitoral. Mas existe uma restrição dada pelas agências de risco", afirma Juan Jensen, economista e sócio da Tendências Consultoria. A estimativa para 2014 é que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 2,1% e inflação, medida pelo IPCA, fique em 6%.
A inflação, em particular, também tende a ser um incômodo neste ano por causa da pressão dos preços administrados. Em 2013, esse grupo foi beneficiado pelo congelamento das tarifas dos transportes e pelo baixo reajuste do combustível. Assim, os administrados devem subir apenas 1,5% em 2013, nível considerado baixo e que não deve se repetir em 2014.

"A economia está tão amarrada que desamarrá-la não vai ser fácil. A inflação reprimida está muito alta e, se o governo liberá-la, o BC terá de subir os juros para impedir um patamar mais alto da inflação", afirma Armando Castelar, coordenador da área de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). Novas altas da taxa básica juros (Selic) podem esfriar ainda mais a economia brasileira. A expectativa do Ibre é que o PIB cresça 1,8% em 2014, e a inflação fique em 6,1%.

O controle inflacionário também deve ser dificultado pela normatização da política monetária dos Estados Unidos, o que trará mais pressão para o câmbio - com a desvalorização do real - e um possível repasse para os preços. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) iniciou em dezembro a retirada dos estímulos da economia. Reduziu as compras mensais de ativos de US$ 85 bilhões para US$ 75 bilhões.

"O fim dos estímulos nos Estados Unidos diminui a liquidez internacional e complica um pouco o mercado brasileiro", afirma Jensen. Para ele, o BC está se aproximando do fim do ciclo de aumento da taxa básica de juros (Selic). Desde abril, os juros subiram de 7,25% ao ano para 10% ao ano.

Ajuste. Para especialistas, o governo também terá de trabalhar parra reduzir os desequilíbrios econômicos apresentados em 2013. Indicadores ruins levaram a uma piora da percepção sobre o Brasil, sobretudo desde o fim de outubro, quando foi divulgado o déficit de R$ 9 bilhões nas contas públicas de setembro. A queda de 0,5% no PIB do terceiro trimestre também piorou o cenário.

O problema é que o governo quer evitar ajustes que possam prejudicar o crescimento da economia em 2014, por causa da eleição. "Em 2015, o Brasil vai ter de fazer alguns ajustes na política econômica, independentemente de quem vença as eleições. Hoje, há incerteza da magnitude desse ajuste", diz o sócio da Tendências.

Para Castelar, as consequência de um eventual ajuste seriam redução no reajuste do salário mínimo e alta no desemprego. "Acho que o governo não quer tocar demais no bem-estar da população. O custo é tão grande que o governo deve empurrar com a barriga", diz. Embora afirme que o ajuste terá de ser feito algum dia, o economista acredita que as reservas internacionais podem ajudar a adiar mudanças pouco populares.

ENTREVISTA DE DELFIM AO ‘ESTADÃO’

'Brasil deve crescer em 2014 um pouco mais do que em 2013'

Para ex-ministro, País pode ser favorecido por uma mudança na postura do governo em relação à gestão da economia

Luiz Guilherme Gerbelli - O Estado de S.Paulo
O ex-ministro Delfim Netto acredita que o governo brasileiro melhorou o diálogo com a iniciativa privada e que está nas mãos da gestão Dilma Rousseff evitar o ele que chamou de tempestade perfeita. Para Delfim, apontado como um dos conselheiros econômicos da presidente - o que ele nega- , há chances de a economia brasileira crescer mais de 2014 do que em 2013. "Hoje, o que precisa é uma decisão da presidente de fazer 2% de superávit primário, sem truques", disse. A seguir trechos da entrevista concedida ao Estado.

ESTADÃO – O problema na economia brasileira é real ou é um problema de imagem por causa das manobras que foram feitas no passado?
DELFIM NETTO - Houve uma manobra realmente devastadora: a quadrangulação (envolvendo Petrobrás, Fundo Soberano, BNDES e Caixa Econômica) no fim de 2012 (o governo só fechou a conta de 2012 com essa manobra). Ela revelou tanta imaginação que apavorou os analistas. Não estamos diante do apocalipse. Uns 60% de dívida bruta é desagradável, mas não é um risco. Ela é desconfortável porque, se amanhã você precisar usar política anticíclica, não tem mais espaço. As medidas foram minando a credibilidade. Depois houve outro problema sério: a perspectiva, no Congresso, de que haveria aumento de despesas era muito séria e grave. Nisso o governo deu um passo importante ao fazer um acordo com o Congresso. Pelo menos em 2013 e em 2014 não serão colocados em pauta projetos que aumentem despesas e reduza receita.

ESTADÃO – O acordo é tão importante?
DELFIM NETTO - A perspectiva (de desequilíbrio nas contas), não do presente, mas do futuro, criou uma dúvida nas agências risco. Há possibilidade de um rebaixamento de um rating ou um ponto (na nota de crédito do Brasil). Eu creio que não haverá mudança no nível de investimento, mas o rebaixamento já será uma coisa grave. O risco maior é a combinação disso com a redução dos estímulos americanos. Eu acho que o governo entendeu e está fazendo o que é necessário para reverter essa crença. Hoje, o que precisa é uma decisão da presidente de fazer 2% de superávit primário, sem truques. E, na minha opinião, isso é mais do que suficiente para estabilizar a dívida bruta. E, quando recuperar o crescimento, ela vai reduzir-se naturalmente.

ESTADÃO – Está claro para o sr. que o governo já tomou a decisão de acalmar o mercado?
DELFIM NETTO - O governo incorporou a ideia de que está na sua mão evitar a tempestade perfeita. Em relação a política monetária americana, não temos nenhuma influência, mas sobre a política fiscal brasileira temos.
Quais são os sinais de mudança do governo?

ESTADÃO – DELFIM NETTO - São muitos. Primeiro, nas relações com o setor privado. Havia uma dúvida muito séria no programa de concessões. O governo passou a ouvir mais e tem tido mais sucesso. Eu acho que está se dissipando a ideia de que o governo é contra o setor privado, mas mais lentamente do que gostaria. Agora, estamos vivendo com uma redução no nível de crescimento. Isso aconteceu no mundo inteiro. No nosso caso, eu acho que é um pouco mais porque, aos erros do mundo, nós acrescentamos os nossos próprios erros. Mas, na minha opinião, 2014 vai ser um pouco melhor do que 2013.

ESTADÃO – Por que o Brasil cresce tão pouco no governo Dilma?
DELFIM NETTO - O Brasil praticamente atingiu o pleno emprego. Nesse caso, quanto pode crescer a mão de obra no futuro? 1% ao ano? Para um País crescer 4%, quando a população cresce 1%, a produtividade tem de crescer 3%. Mas é preciso dar muito mais capital humano e físico para o trabalhador. Ou seja, ele precisa de um pouco mais de saúde, de educação. Há também a destruição da indústria, que não é um acidente. Foi um erro de política econômica. Ampliaram os salários nominais muito acima da produtividade física do trabalho e usaram a taxa de juros - a maior do mundo - para valorizar o câmbio nominal. De 2002 a 2008, tinha um excedente de exportação de manufaturados de US$ 120 bilhões. Depois, virou um déficit de uns US$ 170 bilhões. Ou seja, na verdade, a valorização do câmbio roubou quase US$ 300 bilhões de dólares de demanda do setor industrial. Se o sujeito, diante desse roubou, decide investir, é um idiota. A indústria foi roubada duas vezes. Primeiro, a valorização do câmbio foi cortando a exportação, depois, ela foi se acentuado e, também, foi cortando o mercado interno.

ESTADÃO – Como se resolve isso?
DELFIM NETTO - Está sendo resolvido. O juro nunca mais voltar ao nível que era - não precisa de juro real a 10%. E o câmbio está melhor. Só que a resposta do setor industrial leva 12, 18 meses. Lentamente esses efeitos vão surgir. Há também uma compreensão do governo de que é preciso transferir para o setor privado as obras de infraestrutura em forma de PPP (Parceria Público Privada) ou concessão, porque é evidente que o Estado não tem recursos e competência para fazer isso. De fato, eu acho que não só o governo aprendeu, mas as condições objetivas melhoraram. O Brasil deve crescer em 2014 um pouco mais do que 2013.

ESTADÃO – O senhor tem falado com a presidente Dilma?
DELFIM NETTO - Isso é um mito, é história. Eu tenho, sim, uma simpatia (pela Dilma) porque eu acho que ela tem qualidades muito interessantes que podem ser usadas no desenvolvimento econômico por isso que eu fico lutando para que haja um entendimento melhor entre o setor privado e o governo. Só a coordenação dos dois é que pode produzir o desenvolvimento. Como acho que a probabilidade de reeleição dela supera os 50%, a minha tendência é dizer: o jeito é nós usarmos a Dilma. Ninguém sabe tanto quanto ela que existem coisas invioláveis, e uma delas é a contabilidade nacional. Dilma foi vítima de um curso de economia (risos). Existem limitações. Cada vez que alguém tentar violar (a contabilidade nacional), vai dar com os burros n'água porque não vai conseguir e só vai ter problemas.

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