Senado julga neste momento o senador Demóstenes Torres
Indagado por jornalistas
se o julgamento é ruim para a imagem do Senado, Sarney respondeu: - Ruim? A
instituição está mostrando que funcionam seus mecanismos de controle e decoro
parlamentar.
Demóstenes Torres chegou
ao Senado acompanhado de seu advogado, Antonio Carlos de Almeida Castro
(Kakai).
“O que está em jogo não é a condenação de
conduta errônea. A votação de hoje é um sinal a milhões de brasileiros sobre a
credibilidade de uma instituição centenária, fundamental para democracia em
nosso país”. Com essa afirmação o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) abriu
seu discurso nesta quarta-feira (11) durante sessão destinada a julgar o
processo de cassação do mandato do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO).
Siga ao vivo pela TV Senado a cassação do senador Demóstenes Torres (sempartido-GO)
Senador Sarney, presidente da sessão. |
BRASÍLIA
– AO VIVO (TV SENADO): Ao abrir a sessão de análise do Projeto de Resolução
22/2012, que trata da perda do mandato do senador Demóstenes Torres (sem
partido-GO), presidente do Senado, José Sarney afirmou “temos que tratar da
cassação de um senador. É sempre uma sessão que não é agradável para ninguém.
Mas temos que cumprir com nosso dever”. Após esta afirmação, o presidente do Sarney
deu abertura aos trabalhos no Senado Federal que realiza a sessão a qual
definirá o futuro político do senador Demóstenes .
Demóstenes e seu advogado Kakai (à esq.) |
A sessão para votar o
projeto de resolução (PRS 22/2012) que propõe a cassação do mandato de
Demóstenes Torres foi marcada para as 10h desta quarta-feira.
Randolfe: ‘O que está em
jogo é a credibilidade do Senado’
Senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) |
Randolfe falou em nome do PSOL, partido
que ingressou com representação contra Demóstenes Torres no Conselho de Ética e
Decoro Parlamentar do Senado, e afirmou que o cargo de senador exige uma
espécie de “sacerdócio com a coisa pública”.
- Ser republicano exige muito de nós.
Exige ser, em especial, intensamente ético. Conduta moral e decoro parlamentar
não é um favor que fazemos à sociedade. É o dever-ser do parlamentar – disse
Randolfe.
O parlamentar amapaense sustentou que
Demóstenes colocou seu mandato a serviço de interesses do contraventor
Carlinhos Cachoeira, obteve vantagens indevidas e mentiu a seus pares e à
população brasileira ao alegar desconhecimento das atividades de Cachoeira.
- A nenhum agente público cabe receber favores,
seja um real, seja um centavo de um agente privado. Quanto mais quando esse
favor é claramente prestado por um agente de uma organização criminosa - disse
o senador em referência ao aparelho celular dado por Cachoeira a Demóstenes e
às centenas de ligações registradas entre os dois.
Segundo Randolfe, o teor das ligações
indicava que o senador não era apenas amigo de Cachoeira, mas um “braço
político” do grupo do contraventor no Congresso. Na avaliação do parlamentar do
PSOL, a conduta de Demóstenes justifica o processo protocolocado pelo partido.
Representação
A sessão deliberativa extraordinária é a
última etapa da ação encaminhada pelo PSOL. No dia 28 de março deste ano, o
partido protocolou no Conselho de Ética do Senado, uma representação pedindo a
abertura de processo contra o senador de Goiás, por quebra de decoro.
O documento, posteriormente
aprovado pelo Conselho de Ética e ratificado pela Comissão de Constituição,
Justiça e Cidadania (CCJ), reuniu uma série de denúncias veiculadas na
imprensa, que apontariam o envolvimento de Demóstenes com a organização
criminosa de Carlinhos Cachoeira.
Humberto Costa: Demóstenes
“faltou com a verdade; seu passado o condena”
Ao defender o parecer em que recomenda a
cassação do mandato de Demóstenes Torres (Sem Partido-GO), o senador Humberto
Costa (PT-PE) reafirmou que o acusado “faltou com a verdade, praticou
irregularidades graves no desempenho de seu mandato, abusou de prerrogativas
asseguradas a membros do Congresso Nacional e se beneficiou com vantagens
indevidas”.
– Não temos recall no Brasil para
esse tipo de caso. Mas se os eleitores de Goiás soubessem das relações
perigosas de Sua Excelência, será que o teriam enviado para cá? Creio que não –
declarou o senador.
Humberto Costa fez essas afirmações na
manhã desta quarta-feira (11), antes da votação do pedido de cassação.
Ao repetir que Demóstenes utilizou o
mandato para defender os interesses do contraventor Carlos Augusto Ramos, mais
conhecido como Carlinhos Cachoeira, Humberto Costa citou diversos pontos
apresentados em seu parecer para justificar o pedido de cassação.
Um deles foi o caso do aparelho de
celular e rádio da marca Nextel doado por Cachoeira a Demóstenes. Humberto
Costa lembrou que o contraventor ofereceu esse tipo de aparelho “a um seleto
grupo de pessoas que compunha a cúpula da organização criminosa comandada pelo
contravento”.
– Isso não quer dizer que Demóstenes
fosse integrante da cúpula. Mas os aparelhos Nextel eram usados para tratar dos
assuntos dessa organização criminosa – frisou.
O senador também mencionou o diálogo em
que Demóstenes avisa Cachoeira sobre uma operação da Polícia Federal de combate
a jogos de azar no estado de Goiás. Humberto Costa explicou que, nesse caso, a
operação era uma simulação que tinha justamente o objetivo de descobrir quem
estava vazando informações sobre as ações da polícia.
Humberto Costa reiterou que Demóstenes
mentiu quando disse, no Plenário do Senado, que sua relação com Cachoeira
possuía somente caráter pessoal e que o principal assunto de suas conversas se
referia a uma crise conjugal.
–Em mais de 300 ligações telefônicas, não
há qualquer referência a uma crise conjugal – ressaltou.
E, ao refutar a alegação de Demóstenes de
que não conhecia as atividades ilícitas de Cachoeira, Humberto Costa recordou
que o senador acusado já foi procurador-geral de justiça e secretário de
Segurança Pública de Goiás, além de ter sido integrante da CPI dos Bingos (que
apontou o envolvimento de Cachoeira em diversos crimes, como o de formação de
quadrilha).
– Quem julga
somos nós. Mas quem condena [Demóstenes] é o seu passado – declarou Humberto
Costa.
Pedro Taques defende a lisura do processo disciplinar contra Demóstenes
O senador Pedro Taques (PDT-MT), relator
do processo contra o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) na Comissão de
Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), defendeu a lisura do processo
disciplinar que resultou no pedido de cassação do senador goiano.
- Entendo que houve pleno atendimento de
todas as normas constitucionais, legais e regimentais, dentre as quais destaco
o cumprimento dos princípios constitucionais do contraditório e da ampla
defesa. Está configurada a absoluta regimentalidade de todo o procedimento –
afirmou na sessão do Plenário que vota o processo contra Demóstenes.
Pedro Taques, nos vinte minutos
concedidos aos relatores, deteve-se a analisar a legalidade do processo
iniciado pelo Conselho de Ética, passando pela CCJ, até chegar ao Plenário. Ele
destacou que a decisão do Conselho ateve-se ao que foi apurado no âmbito
daquele colegiado.
- Em todos os momentos, o Conselho de
Ética se preocupou em interpretar as normas da forma mais favorável ao
representado, nunca lhe negando defesa, nem a ele, nem ao seu advogado. Não há
máculas de índole constitucional ou violação de garantia formal no relatório
produzido pelo senador Humberto Costa.
Taques frisou que Demóstenes teve
assistência do advogado ao longo da tramitação, assim como acesso às provas e
ciência de todos os atos processuais. Já sobre o exame do processo na CCJ,
ressaltou que o seu relatório só foi votado depois “de respeitar o estrito
cumprimento dos prazos”.
Decoro
Ao discorrer sobre o decoro parlamentar,
o senador citou o constitucionalista José Afonso da Silva Bandeirante, para
quem incompatível com o decoro parlamentar é o comportamento assim entendido
pela maioria absoluta dos membros da Casa que analisa a conduta. Sendo assim,
os parâmetros de moral e a conduta ética são balizas externas que amparam o
conceito de decoro.
- O senador Demóstenes adotou conduta
incompatível com o decoro parlamentar, ferindo de morte a dignidade do cargo e
a ética que se impõe aos parlamentares, conforme a robusta fundamentação
apresentada.
Para Taques, o Senado não precisa aguardar
a conclusão do Inquérito 3430 que tramita contra Demóstenes no Supremo Tribunal
Federal para decidir hoje sobre o mandato de Demóstenes porque “as instâncias
políticas e jurídicas não se confundem. Cada uma tem seus objetivos próprios, e
o julgamento do Senado é dotado de discricionariedade”.
- Analisei o processo com
todo o rigor, mas com honestidade intelectual, acadêmica e, sobretudo,
parlamentar. Por isso, assino o voto aprovado por unanimidade na CCJ.
Saiba quais são as acusações contra Demóstenes
ACUSAÇÃO
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O QUE DIZ A DEFESA DE
DEMÓSTENES
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Atuar
em favor de empresas, inclusive as de Cachoeira, em órgãos públicos
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Ele
confirma. "Quanto à Anvisa e a atuação da Vitapan, eu atuei em favor de
todas as empresas do Estado de Goiás, todas que me procuraram. A Vitapan, que
era de propriedade do Sr. Carlos Cachoeira, me procurou, sim, e fui lá"
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Usar o cargo para negociar um projeto de R$ 8 milhões em favor da Delta Construções, de acordo com gravações telefônicas e relatório do Ministério Público Federal obtidos pela Folha de S.Paulo |
Em
seu memorial, Demóstenes ironiza o fato de ter sido considerado “sócio
oculto” da Delta e utiliza reportagem na qual o ex-presidente da Delta,
Fernando Cavendish, negou que conhecesse o senador
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Contratar
a sobrinha de Cachoeira como funcionária fantasma. O político teria dito ao
contraventor que teria que demitir dois servidores e depois recontratá-los
para escapar das denúncias de desvio de dinheiro
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De
acordo com Demóstenes, a servidora Kenya Vanessa Ribeiro foi admitida em 6 de
maio de 2008 e exonerada em 22 de maio de 2009. Ela atuava na cidade
Anápolis, onde ele não tinha escritório político. Segundo o parlamentar, a
exoneração foi feita como “ação preventiva”, ele disse que decidiu demiti-la
assim como outros servidores. Em depoimento ao Conselho de Ética, ele disse
que a contratou pela qualificação e não por ter parentesco com o empresário
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Ter
recebido R$ 20 mil de Gleyb Ferreira da Cruz, integrante da do grupo de
Cachoeira
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Demóstenes
diz tratar-se de "factoide criado e devidamente derrubado"
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Ter
recebido R$ 1 milhão, segundo diálogo gravado com Geovani Pereira da Silva,
suposto contador do grupo do contraventor
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Em
seu memorial, disse que abriu seu sigilo bancário e demonstrou a
"sandice" da acusação. Em plenário, já havia negado o fato e disse
que vivia de salário. Ele também negou caixa dois em sua campanha
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Ter
pedido a Cachoeira R$ 3 mil para que fosse efetuado o pagamento de um taxi
aéreo
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Nega
o pedido e disse que o perito que contratou identificou “uma diferença nítida
entre o que estava na escuta e o que constou da degravação divulgada”
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Ter
recebido 30% do valor recebido por Cachoeira na exploração do jogo ilegal.
Segundo a representação do PSOL, o dinheiro, avaliado em R$ 50 milhões, seria
usado na campanha dele ao governo de Goiás, via caixa dois
|
Nega
e diz que o advogado que deu origem à reportagem sobre o fato também negou as
informações. Demóstenes cita os depoimentos dos delegados da Polícia Federal
Matheus Rodrigues e Raul Alexandre Marques de Sousa, e relatório do Procurador
Geral da República, Roberto Gurgel. Todos, segundo ele, afirmam que ele nunca
fez parte do jogo ilegal
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Trecho
de gravação da Polícia Federal de conversa entre ele e Cachoeira trata de um
projeto em tramitação na qual o senador parece estar alertando que a proposta
poderia “pegar” o bicheiro
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Ele
nega o teor da conversa. Em seu memorial, ele afirma que no contexto que o
diálogo ocorreu, Cachoeira era um conhecido ex-empresário do jogo e "não
se sabia que ele era líder de uma organização criminosa do jogo ilegal"
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Receber
presentes de Cachoeira, entre eles uma geladeira, um fogão e aparelho de
telefone Nextel, que teve as contas pagas pelo contraventor
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Ele
confirma. “É claro que agora, depois que os fatos ocorreram, as pessoas
olhando para trás podem dizer: ele não deveria ter aceitado o Nextel. Mas,
sinceramente, tomar este fato como base para dizer que há quebra de decoro e
cassar um mandato de um senador, no meu ponto de vista, é muito",
defendeu Kakay em mais de uma ocasião. O senador afirma não saber que os
rádios Nextel eram utilizados também por integrantes do grupo de Cachoeira
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Os
relatores Humberto Costa e Pedro Taques avaliaram que o parlamentar utilizou
o mandato em favor de Cachoeira
|
Ele
nega e diz que trabalhou apenas em favor das empresas e dos interesses do seu
Estado, Goiás. Demóstenes disse ainda que nada cobrou nem recebeu para isso.
Em seu memorial de defesa, ele diz que o relator"teceu uma série de
considerações, quase sempre com base em meras suposições"."Tal afirmação
é, contudo, um acinte! É uma inverdade"
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Em
seu relatório, Humberto Costa aponta Demóstenes como atuante na defesa da
legalização dos jogos de azar
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Ele
nega que tenha feito qualquer movimentação para acelerar a tramitação de um
projeto sobre o tema no Congresso
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Somadas
as denúncias, a representação e os relatórios do caso avaliaram que relação
com Cachoeira teria extrapolado a amizade e incluído negócios com o
contraventor
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Em
discurso em plenário no último dia 2 de julho, ele negou:"Apenas admiti
em pronunciamento aqui na tribuna, no dia 6 de março passado, que fui amigo
de Carlinhos Cachoeira e conversava frequentemente por telefone, mas nunca
tive negócios legais ou ilegais com ele. Eu não tenho nem sociedade nem nada a
ver com os delitos investigados pelas operações Vegas e Monte Carlo”
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O
senador Humberto Costa diz que Demóstenes mentiu aos colegas em seu discurso
em 6 de março deste ano em plenário sobre a extensão da relação com Cachoeira
e que só isso seria suficiente para se configurar quebra de decoro
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Demóstenes
defendeu em discurso nesta segunda-feira (9) que que a Constituição assegura
liberdade para o parlamentar falar o que quiser da tribuna – ainda que não
seja algo verdadeiro. “Se o parlamentar mentir, é um problema dele com sua
consciência e sua audiência, não com o decoro. Aliás, nada do que o
parlamentar diz da tribuna pode ser quebra de decoro". Ele relembrou
ainda o caso de Luiz Estevão: “Criou-se esse mito por causa do precedente
utilizado para cassar um senador no ano 2000. A diferença é que eu não
menti”, completou
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Siga ao vivo pela TV Senado a cassação do senador Demóstenes Torres (sempartido-GO)
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