Docentes de 57 das 59 universidades federais
rejeitaram a primeira proposta do governo federal
Governo e professores podem pôr um fim na greve, que já dura mais de dois meses nas universidades federais. |
Eugênia Lopes, Tânia Monteiro e Rafael Moraes Moura*
O governo cedeu à pressão dos professores
universitários e de institutos de pesquisa e apresentou ontem contraproposta de
reajuste que varia de 25% a 40%. Há duas semanas, o governo ofereceu aumento
entre 12% e 40% ao longo dos próximos três anos para a categoria, que está em
greve há mais de dois meses. Os novos percentuais de reajustes vão representar
um impacto de R$ 4,2 bilhões no Orçamento da União. Na proposta anterior, o
impacto estimado era de R$ 3,9 bilhões.
“Acreditamos que essa proposta é um movimento
suficiente do governo para que a greve termine”, afirmou ontem Sérgio Mendonça,
secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento. “Nosso desejo
é pôr fim a greve”, disse Marco Antônio Oliveira, secretário de Educação
Profissionalizante e Tecnológica do Ministério da Educação. “Mas no caso dos
valores, nós chegamos a um limite”, alertou. “Se não caminharmos para um acordo
vamos ficar numa situação bastante delicada”, completou Marco Antônio.
A situação chamada de “delicada” pelo secretário do
Ministério da Educação refere-se ao corte de ponto dos grevistas. Tanto Marco
Antônio quanto Sérgio observaram que já existe uma determinação do governo
federal para cortar o ponto dos servidores públicos em greve.
O governo espera que as entidades representativas
de professores respondam no início da semana que vem se aceitam a
contraproposta de reajuste. A presidente do Sindicato Nacional dos Docentes de
Instituições de Ensino Superior (Andes), Marinalva Oliveira, não gostou da
proposta do governo. “Essa proposta não resolve o problema de desestruturação
da carreira”, argumentou. Segundo ela, a categoria não aceita a concessão de
percentuais de reajustes diferenciados para docentes com título.
Para o presidente da Federação de Sindicatos de
Professores de Instituições Federais de Ensino Superior (Proifes), Eduardo
Rolim de Oliveira, a contraproposta é satisfatória. “Numa análise rápida, o
governo atendeu integralmente nossas reivindicações”, disse Eduardo.
Os novos percentuais de reajuste não atingem os
professores que estão no topo da carreira. Os professores titulares, com
doutorado e dedicação exclusiva, mantiveram o aumento em seus salários, que vão
saltar dos atuais R$ 12.224,56 mil para R$ 17.057,74 mil. Já os vencimentos dos
professores com doutorado e 40 horas semanais pularão dos R$ 5.918,95 propostos
pelo governo há duas semanas para R$ 7.859,61. O governo também concordou em
antecipar o pagamento dos reajustes do mês de julho para março dos anos de
2013, 2014 e 2015.
Um grupo de 150 servidores públicos federais fez um
protesto se sentando na subida da rampa do Palácio do Planalto. Os servidores,
todos do poder executivo, condenam a atitude do governo federal que além de não
apresentar proposta para os grevistas, ainda determinaram o corte de salários
da categoria. "isso é inaceitável", desabafou César Henrique Leite,
do Ministério da Saúde, ao acusar o governo Dilma de agir com
"autoritarismo". "Estamos há 36 dias em greve e o governo não
apresentou nenhuma proposta. Nenhuma. Só estão nos enrolando", declarou
ele, ao denunciar que is servidores estão "sendo ameaçados por telefone em
casa, à noite, e por email" com a perda de seus cargos e corte dos dias.
"Esse governo que se diz dos trabalhadores, está agindo e nos fazendo
lembrar um passado que queremos esquecer, que é da ditadura", afirmou
César Henrique. Eles estavam se desmobilizando, no momento, prometendo voltar
às 17h30, quando há promessa de serem recebidos pelo ministro-chefe da
Secretaria Geral, Gilberto Carvalho.
Preocupado com os desdobramentos da greve em
setores do funcionalismo público, o governo federal sugeriu ontem uma trégua
até meados de agosto na paralisação. Em troca, o Palácio do Planalto aceitaria
negociar o ponto cortado dos cerca de 350 mil servidores que aderiram ao
movimento, segundo informações do secretário-geral do Sindicato dos Servidores
Públicos Federais no DF (Sindsep-DF), Oton Pereira Neves.
Uma nova reunião deverá ocorrer até quinta-feira
entre sindicalistas e o Ministério do Planejamento para tratar especificamente
do ponto cortado.
“Ele (Gilberto Carvalho) fez uma proposta que a
gente acha, a princípio, inaceitável também: a gente dá uma trégua de 15 dias
para o governo, o governo repõe os salários que foram descontados, que a gente
vai deixar de receber no inicio do mês. Evidente que a gente vai discutir tudo
isso com as nossas bases, mas, a princípio, acho difícil essa proposta essa
proposta face ao exíguo tempo que tem para fechar o Orçamento, que é dia 31 de
agosto”, disse Oton.
De acordo com os sindicalistas, a trégua serviria
inicialmente para refazer a folha de pagamento. “O governo não garante qual
seria o reajuste, nem para quem exatamente”, afirmou o secretário-geral.
Segundo o Estado apurou, o Planalto acredita que a
greve é precipitada e que tem o direito e o dever de cortar os dias parados.
“Eles (sindicatos) poderiam propor ao governo a suspensão da greve até que o
governo apresente a sua resposta”, diz um auxiliar.
* O Estado de S. Paulo: Publicado em 24 de julho de
2012 | 20h 34
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