terça-feira, 24 de julho de 2012

Greve de professores nas universidades federais: o impasse entre docentes e governo pode chegar ao fim...



Docentes de 57 das 59 universidades federais rejeitaram a primeira proposta do governo federal

Governo e professores podem pôr um fim na greve, que já dura mais de dois meses nas universidades federais.

Eugênia Lopes, Tânia Monteiro e Rafael Moraes Moura*
O governo cedeu à pressão dos professores universitários e de institutos de pesquisa e apresentou ontem contraproposta de reajuste que varia de 25% a 40%. Há duas semanas, o governo ofereceu aumento entre 12% e 40% ao longo dos próximos três anos para a categoria, que está em greve há mais de dois meses. Os novos percentuais de reajustes vão representar um impacto de R$ 4,2 bilhões no Orçamento da União. Na proposta anterior, o impacto estimado era de R$ 3,9 bilhões.

“Acreditamos que essa proposta é um movimento suficiente do governo para que a greve termine”, afirmou ontem Sérgio Mendonça, secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento. “Nosso desejo é pôr fim a greve”, disse Marco Antônio Oliveira, secretário de Educação Profissionalizante e Tecnológica do Ministério da Educação. “Mas no caso dos valores, nós chegamos a um limite”, alertou. “Se não caminharmos para um acordo vamos ficar numa situação bastante delicada”, completou Marco Antônio.

A situação chamada de “delicada” pelo secretário do Ministério da Educação refere-se ao corte de ponto dos grevistas. Tanto Marco Antônio quanto Sérgio observaram que já existe uma determinação do governo federal para cortar o ponto dos servidores públicos em greve.

O governo espera que as entidades representativas de professores respondam no início da semana que vem se aceitam a contraproposta de reajuste. A presidente do Sindicato Nacional dos Docentes de Instituições de Ensino Superior (Andes), Marinalva Oliveira, não gostou da proposta do governo. “Essa proposta não resolve o problema de desestruturação da carreira”, argumentou. Segundo ela, a categoria não aceita a concessão de percentuais de reajustes diferenciados para docentes com título.

Para o presidente da Federação de Sindicatos de Professores de Instituições Federais de Ensino Superior (Proifes), Eduardo Rolim de Oliveira, a contraproposta é satisfatória. “Numa análise rápida, o governo atendeu integralmente nossas reivindicações”, disse Eduardo.

Os novos percentuais de reajuste não atingem os professores que estão no topo da carreira. Os professores titulares, com doutorado e dedicação exclusiva, mantiveram o aumento em seus salários, que vão saltar dos atuais R$ 12.224,56 mil para R$ 17.057,74 mil. Já os vencimentos dos professores com doutorado e 40 horas semanais pularão dos R$ 5.918,95 propostos pelo governo há duas semanas para R$ 7.859,61. O governo também concordou em antecipar o pagamento dos reajustes do mês de julho para março dos anos de 2013, 2014 e 2015.

Um grupo de 150 servidores públicos federais fez um protesto se sentando na subida da rampa do Palácio do Planalto. Os servidores, todos do poder executivo, condenam a atitude do governo federal que além de não apresentar proposta para os grevistas, ainda determinaram o corte de salários da categoria. "isso é inaceitável", desabafou César Henrique Leite, do Ministério da Saúde, ao acusar o governo Dilma de agir com "autoritarismo". "Estamos há 36 dias em greve e o governo não apresentou nenhuma proposta. Nenhuma. Só estão nos enrolando", declarou ele, ao denunciar que is servidores estão "sendo ameaçados por telefone em casa, à noite, e por email" com a perda de seus cargos e corte dos dias. "Esse governo que se diz dos trabalhadores, está agindo e nos fazendo lembrar um passado que queremos esquecer, que é da ditadura", afirmou César Henrique. Eles estavam se desmobilizando, no momento, prometendo voltar às 17h30, quando há promessa de serem recebidos pelo ministro-chefe da Secretaria Geral, Gilberto Carvalho.

Preocupado com os desdobramentos da greve em setores do funcionalismo público, o governo federal sugeriu ontem uma trégua até meados de agosto na paralisação. Em troca, o Palácio do Planalto aceitaria negociar o ponto cortado dos cerca de 350 mil servidores que aderiram ao movimento, segundo informações do secretário-geral do Sindicato dos Servidores Públicos Federais no DF (Sindsep-DF), Oton Pereira Neves.
Uma nova reunião deverá ocorrer até quinta-feira entre sindicalistas e o Ministério do Planejamento para tratar especificamente do ponto cortado.

“Ele (Gilberto Carvalho) fez uma proposta que a gente acha, a princípio, inaceitável também: a gente dá uma trégua de 15 dias para o governo, o governo repõe os salários que foram descontados, que a gente vai deixar de receber no inicio do mês. Evidente que a gente vai discutir tudo isso com as nossas bases, mas, a princípio, acho difícil essa proposta essa proposta face ao exíguo tempo que tem para fechar o Orçamento, que é dia 31 de agosto”, disse Oton.

De acordo com os sindicalistas, a trégua serviria inicialmente para refazer a folha de pagamento. “O governo não garante qual seria o reajuste, nem para quem exatamente”, afirmou o secretário-geral.

Segundo o Estado apurou, o Planalto acredita que a greve é precipitada e que tem o direito e o dever de cortar os dias parados. “Eles (sindicatos) poderiam propor ao governo a suspensão da greve até que o governo apresente a sua resposta”, diz um auxiliar.

* O Estado de S. Paulo: Publicado em 24 de julho de 2012 | 20h 34


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