Aliados acusam petistas de fragmentar base para impor
projeto de hegemonia
Derrotas impostas ao governo na semana passada têm como
principal objetivo frear tentativa de correligionários da presidente de se
estabelecerem como única sigla relevante na Câmara dos Deputados
Com Agência - AE
BRASÍLIA - As derrotas impostas ao governo na Câmara
durante a semana passada escancararam o descontentamento da base com a reforma
ministerial e a política de liberação de emendas do Palácio do Planalto. A
rebelião, porém, traz em sua essência o temor de que o PT fragmente os partidos
aliados e cresça nas eleições de outubro justamente sobre eles, para obter
hegemonia no Congresso.
Segundo líderes de partidos aliados
ouvidos pelo Estado,
esse é, na verdade, o principal motivo da crise enfrentada por Dilma Rousseff
na Câmara.
Os parlamentares que dão sustentação à
presidente acusam o PT de promover rompimentos em Estados-chave e buscar
exclusividade na hora de faturar politicamente com ações do governo. Tudo para
conseguir eleger sua maior bancada da história na Câmara.
Ao mesmo tempo, os petistas incentivam
cisões internas nos partidos da base para provocar seu enfraquecimento. Por
essa tática, o ideal para os petistas seria ter partidos com no máximo 60
deputados. Com isso, seu poder de fogo na hora das negociações cresceria significativamente.
Hoje o PT tem a maior bancada da Câmara,
com 87 deputados. A expectativa dos dirigentes petistas é elevar esse número
para mais de 100 cadeiras.
A segunda maior bancada da Câmara é a do
PMDB, principal aliado dos petistas no projeto eleitoral de Dilma e detentor da
vaga de vice na chapa petista. Hoje há 75 peemedebistas na Câmara. O partido,
porém, não tem perspectivas de aumento. Teme, inclusive, perder espaço para o
PT. Trata-se de uma previsão compartilhada por outros partidos da base. Como a
oposição já foi reduzida de forma substancial nas eleições de 2010 e sangrou
ainda mais com o patrocínio do governo à criação de novas legendas, como PSD e
PROS, só resta agora aos petistas crescer em cima dos próprios partidos
aliados.
"O ponto principal é que querem
crescer em cima da gente", diz o líder do PTB, Jovair Arantes (GO).
"Há um sentimento generalizado, que permeia todos os partidos, de que o PT
trabalha ferozmente com um desejo até programático de ter uma maioria folgada
de deputados federais", afirma Moreira Mendes (RO), líder do PSD.
"Estão crescendo às custas do enfraquecimento da base. Todos apoiam o
governo e se suicidam", diz Eduardo Cunha (RJ), líder do PMDB e
organizador do "blocão" que abriu guerra contra o Palácio do Planalto.
Comando. A redução do poder dos aliados daria a
chance de o PT ocupar o comando da Câmara. A maior bancada tradicionalmente
indica o presidente da Casa. Petistas e peemedebistas fecharam acordo de fazer
um rodízio no cargo. O PT não tem intenção de renovar esse acordo para a
próxima legislatura.
Nos bastidores, o atual vice-presidente
da Câmara, André Vargas (PT-PR), é dado como certo na disputa pelo posto. O
PMDB garante que disputará a continuidade em 2015, ainda que saia encolhido das
urnas. Dois nomes são cotados: o atual presidente, Henrique Eduardo Alves (RN),
e Eduardo Cunha.
A pretensão peemedebista é um dos fatores
que ajudam a explicar a formação do "blocão", o grupo de
parlamentares da base aliada que decidiu atuar de forma independente do governo.
Palanque. O número de deputados define o tempo de
televisão no horário eleitoral gratuito e as cotas do Fundo Partidário
destinados às siglas, recursos públicos direcionados para sustentar as
legendas. A briga entre PT e PMDB nos Estados também tem a ver com isso. As
eleições para governador influenciam diretamente o resultado das eleições para
deputado federal e estadual, pois os candidatos ao Executivo acabam puxando
votos de legenda para os candidatos ao Legislativo.
Em 2010, o PT apoiou candidatos do PMDB
em sete Estados (Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas, Paraíba, Rio de Janeiro e
Tocantins), que somam 29,57% do eleitorado brasileiro e 42 milhões de votantes.
Neste ano, o PT garante, por enquanto, apoio ao PMDB em três Estados (Amazonas,
Pará e Sergipe), que representam 6,17% do eleitorado e 19,7 milhões de
votantes.
Além do notório caso de rompimento no
Rio, onde Lindbergh Farias (PT) está em campanha aberta para enfrentar Luiz
Fernando Pezão (PMDB), vice de Sérgio Cabral (PMDB), o PT banca as candidaturas
dos ex-ministros Fernando Pimentel em Minas e Gleisi Hoffmann no Paraná,
Estados onde apoiou partidos aliados em 2010.
Máquinas. No que se refere ao faturamento
político por causa dos programas federais, a principal queixa dos aliados se refere
ao programa do Ministério do Desenvolvimento Agrário, nas mãos do PT, que doa
máquinas e equipamentos a prefeitos do interior. Os aliados afirmam que
petistas procuram prefeitos de outros partidos para incluí-los na ação e
faturam as entregas nas bases sem que os deputados aliados consigam capitalizar
o resultado. "A gente não é chamado nem pra tirar foto em eventos e
inaugurações", afirma o petebista Jovair.
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