Supremo decide enviar para 1ª instância julgamento de Azeredo no mensalão mineiro
Ex-governador, Eduardo Azeredo (PSDB), vai ser julgado em Minas Gerais. Foto: Sérgio Dutti/AE. |
AE/Mariângela Gallucci e Marcelo Portela
Brasília e Belo Horizonte – (atualizado às 21h06) Os
ministros do Supremo Tribunal Federal decidiram ontem, por 8 votos a 1,
transferir para a Justiça de 1ª. Instância em Minas Gerais o processo criminal
contra o ex-deputado federal Eduardo Azeredo (PSDB-MG), acusado de participar
no chamado mensalão mineiro.
Conforme a acusação, o esquema consistiu
no desvio de recursos públicos para a campanha de Azeredo à reeleição para o
governo do Estado em 1998 – na qual perdeu para Itamar Franco.
A decisão do Supremo beneficia, na
prática, o PSDB – pois tira da agenda nacional, em plena campanha presidencial,
um assunto que contaminaria os projetos do pré-candidato tucano Aécio Neves. Em
Belo Horizonte, o promotor João Medeiros definiu como “manobra” a iniciativa do
ex-deputado tucano e afirmou que ela não pode retardar o julgamento na Justiça.
“A notícia que se tem é que ela (a ação
contra o ex-deputado) está prontinha para ser julgada”, disse o promotor. Ele é
contrário à ideia de se juntar o processo a outro que tramita sobre o caso, que
tem nove acusados.
Informado da decisão do Supremo, Azeredo
disse que é o “bode expiatório” de uma ação “que tem contaminação política”. Na
prática, porém, a decisão favorece sua defesa, pois lhe dá maior chance de
recursos.
Na sessão do Supremo, ministros fizeram
críticas a esse privilégio. Apesar de ter concluído que o ex-deputado renunciou
ao mandato para evitar o julgamento pela Corte, o relator do processo, ministro
Luis Roberto Barroso, votou pelo envio da ação à 1.ª instância.
“Não tenho nenhuma dúvida disso (sobre a
intenção do ex-deputado de retardar a Justiça)”, afirmou Barroso. No entanto,
ele entendeu que no caso de Azeredo deveria ser aplicada jurisprudência
tradicional da Casa, segundo a qual a renúncia do mandato leva à transferência
do processo para a 1ª. Instância.
Com nove ministros – Carmen Lúcia e
Ricardo Lewandowski não votaram – só o presidente da Corte, Joaquim Barbosa,
votou pela manutenção da ação no Supremo. “A finalidade do réu é evitar o
julgamento não somente por essa Corte, mas pelo juiz de 1.º grau. Ao que tudo
indica a prescrição deverá se concretizar”, alegou Barbosa.
Deboche. O presidente do Supremo foi além:
“Deixar ao arbítrio da parte o poder de escolha do seu julgador representa uma
verdadeira afronta à efetividade da prestação jurisdicional e de certa forma
deboche ao Poder Judiciário.”
Para evitar riscos desse tipo, Barroso
propôs que o STF fixe regras para casos futuros nos quais o réu renuncia ao
mandato parlamentar antes do julgamento. Ele propôs que se a renúncia ocorrer
após o recebimento da denúncia, o processo será julgado pelo Supremo.
E, se for anterior à denúncia ser admitida,
o caso será transferido para a Justiça de 1ª Instância. O ministro Dias Toffoli
propôs que, se a renúncia ocorrer após o relator ter dado seu voto, o caso seja
mantido no STF. O plenário deverá rediscutir essas regras na próxima semana
para tentar chegar a um consenso.
Em nota, Azeredo disse que acata a
decisão “esperando que o julgamento ocorra dentro da normalidade, sem falsos
documentos ou testemunhos inidôneos”. Seu advogado, José Gerardo Grossi, não
foi localizado.
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