Nelson Mandela, ícone da
luta contra o apartheid morre aos 95 anos
Com O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo
Morreu na quinta-feira, 5, o maior ícone
da luta contra o apartheid. Nelson Mandela, de 95 anos, estava em sua
residência em Johannesburgo, onde se recuperava de uma infecção pulmonar. Em
1993, ele levou para casa um Prêmio Nobel da Paz - dividido com o último
presidente sul-africano branco, Frederik de Klerk. No ano seguinte, tornou-se o
primeiro presidente negro da África do Sul. Para muitos analistas, era o único
capaz de conduzir pacificamente o país rumo à democracia racial após meio
século de governo segregacionista. Para o palácio presidencial, ele levou o
respeito conquistado durante a luta contra o apartheid, que lhe rendeu 27 anos
de prisão.
Rolihlahla Mandela nasceu em 1918 na
pequena vila rural de Mvezo, na atual Província de Eastern Cape. O menino tinha
sangue real, era descendente dos chefes Thembu, do povo cossa. Foi criado para
ser líder tribal. Na infância, caçava passarinho, tomava conta de gado e
brincava descalço, lutando contra outros garotos com pedaços de pau. Segundo
Tom Lodge, um de seus mais importantes biógrafos, foi nessa época que lhe
ensinaram a lição que guiaria sua ética pessoal: Mandela aprendeu a derrotar
seus inimigos sem humilhá-los.
Só aos 7 anos, depois que entrou para uma
escola britânica, é que ganhou o nome de Nelson. "Minha professora no
primário exigiu que eu tivesse um nome cristão e decidiu que eu me chamaria
Nelson", lembrou Mandela anos mais tarde. O pequeno nobre, do clã dos
Madiba - nome pelo qual Nelson seria carinhosamente chamado até o fim da vida
-, frequentou as escolas britânicas de Clarkebury e Healdtown. Em casa, vivia
com um pai polígamo, que tinha quatro mulheres e nove filhos. A fusão da
tradição africana com o civilismo britânico produziu um dos maiores líderes do
século 20. Poucos no mundo tiveram o status messiânico de Mandela.
Profundamente influenciado pelo pacifismo de Mahatma Gandhi, que também viveu
parte da vida na África do Sul, ele se tornou um símbolo global de paz e
reconciliação.
A África nunca terá visto nada igual. Em
meio a tristeza inimaginável, a morte de Nelson Mandela será marcada pelos
maiores eventos jamais organizados no continente, e que serão acompanhados pelo
maior número de pessoas.
O presidente sul-africano, Jacob Zuma,
disse na noite de quinta-feira: "Nosso amado Madiba terá um funeral de
Estado. Dei ordem para que todas as bandeiras da República da África do Sul
sejam hasteadas a meio-pau e que continuem a meio-pau até depois do
funeral."
Plano do funeral de Mandela será prova máxima para África do Sul
David Smith - Do "Guardian",
em Johannesburgo
A expectativa é que todos os presidentes
americanos vivos compareçam, desde que sua saúde o permita, ao lado de dignitários
estrangeiros que irão desde o príncipe Charles até o presidente zimbabuano,
Robert Mugabe. Celebridades que se consideravam próximas de Mandela, como Oprah
Winfrey, também deverão estar presentes.
Tudo isso assinala um pesadelo sem
precedentes de planejamento e segurança para a África do Sul, no exato momento
em que o país está mergulhado no luto pela figura vista como pai da nação. É
provável que o país virtualmente pare por duas semanas enquanto a morte de
Mandela for marcada de várias maneiras, algumas das quais espontâneas e
imprevisíveis.
"Ele é o herói do planeta",
disse um diplomata estrangeiro de alto nível. "Será o maior funeral de
Estado desde Winston Churchill, e acho que qualquer país teria dificuldade em
organizar algo assim."
DIVISÃO
Um documento interno do governo
sul-africano ao qual o "Guardian" teve acesso define uma programação
provisória de 12 dias a partir do momento da morte. Embora o documento tenha
sido redigido mais de um ano atrás e seja sujeito a revisões, oferece uma visão
de como as autoridades se prepararam para um momento ímpar na história.
"Corpo será levado para o necrotério
sob guarda policial. Planos para possível cobertura ao vivo sendo
estudados", diz o documento para o dia um.
"Livros de condolências serão abertos
em todas as missões estrangeiras, na Fundação Nelson Mandela, na Union
Buildings [residência oficial e gabinete do presidente da África do Sul] e
possivelmente no Museu Mandela em Soweto", está previsto para o dia dois.
No dia três, diplomatas estrangeiros
receberão um briefing em Pretória e serão discutidos os aspectos logísticos do
velório de Mandela. No dia quatro, vários dignitários visitarão a família de
Mandela.
No dia seis haverá uma cerimônia
religiosa memorial com a presença de dignitários e líderes de organizações,
"com o corpo presente. O presidente Jacob Zuma fará um discurso, haverá
telões do lado de fora da Prefeitura, e possivelmente em Soweto, Cidade do Cabo
e vários outros lugares."
VELÓRIO
De acordo com o documento provisório, no
dia oito o corpo de Mandela será levado à sede da Prefeitura de Pretória, onde
será velado por três dias. "O corpo ficará no local até muito tarde cada
dia e então removido para ser preparado para o dia seguinte... dentro de um
féretro coberto de vidro, para possibilitar a visualização."
No dia nove, as forças armadas farão um
ensaio do funeral oficial de Estado na Union Buildings, onde Mandela tomou
posse como presidente após a primeira eleição democrática no país, em 1994.
Chefes de Estado de vários países chegarão aos aeroportos de Pretória e
Johannesburgo.
Haverá mais chegadas no dia 10, e ruas
serão fechadas. "Todas as medidas de segurança serão implementadas. Os
preparativos finais na Union Buildings incluirão a entrega de equipamentos a
serem usados na cerimônia. O corpo será levado mais tarde para ser preparado
pela última vez."
PROCISSÃO
No dia 11 terá lugar uma procissão do
mortuário até a Union Buildings, seguida por um funeral de Estado no anfiteatro
da Union Buildings, com a presença de chefes de Estado. A cerimônia será
transmitida em telões espalhados pelos jardins da Union Buildings e na
Prefeitura de Pretória, onde é aguardada a presença de uma multidão maciça.
O memorando diz ainda: "Após a
cerimônia o corpo será retirado e mais tarde, durante a noite, levado de avião
pelos militares até Qunu (a aldeia natal de Mandela, na província do Cabo
Oriental) para o sepultamento final".
Para o dia final do plano está previsto:
"Procissão matinal pelas ruas e então até a casa da família para o sepultamento
final no complexo residencial da família Mandela, não no cemitério
familiar".
CONVIDADOS
Entre os convidados ao funeral de Estado
é quase certo que estejam Barack Obama, sua mulher, Michelle, que visitou
Mandela na África do Sul em 2011, e as filhas do casal, além de Bill e Hillary
Clinton, que o conheciam bem. Está prevista também a presença de ex-presidentes
americanos e de grandes delegações de ministros e parlamentares.
Uma fonte da alta comissão britânica em
Pretória disse que está prevista a presença também do príncipe Charles e do
primeiro-ministro britânico, David Cameron. Os aliados do Congresso Nacional
Africano na África e fora dela, como em Cuba, também devem ter presença
destacada, ao lado de chefes de Estado e membros de famílias reais de todo o
mundo.
Mas as autoridades sul-africanas teriam
dito a diplomatas que não devem esperar que seus dignitários recebam tratamento
VIP --que a prioridade será dada a sul-africanos, depois a líderes africanos e
a outros movimentos de libertação, enquanto o resto do mundo virá depois.
JORNALISTAS
Os eventos vão atrair um exército imenso
de equipes de jornalismo internacionais, repórteres, fotógrafos e analistas,
alguns dos quais vinham se preparando havia anos para este momento.
Consta que grandes redes de TV já
reservaram há muito tempo sacadas de hotéis que dão para a Union Buildings,
além de casas em Qunu. Mesmo assim, é provável que haja uma disputa acirrada
por hospedagem e pelos melhores pontos desde os quais acompanhar e filmar os
eventos.
Longe desses pontos focais principais,
haverá eventos memoriais em cidades e vilas em todo o país. A África do Sul é
um misto bizarro de modernidade high-tech e infraestrutura insuficiente, e às
vezes as duas coisas se vêem lado a lado.
Os próximos dias vão testar como nunca
antes sua capacidade de sediar um evento global, deixando muito para trás os
desafios criados pela Copa do Mundo de 2010, que foi amplamente saudada como
triunfo, desmentindo os céticos.
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