TUDO
RUIM, MAS TUDO BEM
Por Arthur da Távola*
O “tudo bem” é uma
expressão profundamente brasileira. Somos um povo pacífico e acomodado. Término
do romance, sem dinheiro, brigou com a família e, após contar a desgraça
inteira, diz: “Mas tudo bem”.
Na verdade, preferimos
fingir que não ligamos e secretamente diluir o que nos chateia ou oprime, a
remover o mal sob forma cirúrgica. Para tal, o “tudo bem” cai como luva. Revela
uma espécie de certeza de que nada é duradouro, tudo acabará modificado, por mais
que a rigidez pareça dominar.
O “tudo bem” possui duas
outras leituras que latejam por dentro de sua significação aparente. São elas:
“Não faz mal” e “deixa comigo que adiante eu dou um jeito”.
“Não faz mal” quer dizer
“não importa”, “não há de ser nada”, “tentaram me atingir mas não conseguiram”.
Quer, portanto, dizer: “Olha, eu não desistirei; estou apenas fingindo que não
ligo”.