INTEGRAÇÃO ou TRANSPOSIÇÃO?...
FN Café NEWS - Sábado, 2 de fevereiro de 2013
Obras do Projeto de Integração do Rio São Francisco - Estação de Bombeamento 1 do Eixo Norte
Com NBR/TV
Como anda a transposição do rio São Francisco?
Matéria exibida pela TV Itararé, em Campina Grande, estado da Paraíba:
FN Café NEWS - Sábado, 2 de fevereiro de 2013
Plano hidroviário estratégico do rio São Francisco deve ser implementado pela União
Hidrovia do São Francisco está contemplada em plano estratégico do
governo federal, afirma MT
Vapor Benjamim Guimarães: Patrimônio Histórico-Cultural do Rio São Francisco. Foto: França Neto/jan 2011. |
Com informações da Ascom Codesvasf
O governo federal trabalha na elaboração de um
plano hidroviário estratégico para o país, que contemplará intervenções na hidrovia
do São Francisco. A informação é do coordenador-geral de planejamento da
Secretaria de Política Nacional de Transportes, do Ministério dos
Transportes (SPNT/MT), Luiz Carlos Rodrigues Ribeiro, um dos palestrantes no
seminário sobre o projeto de Corredor Multimodal do rio São Francisco, que
aconteceu no Catussaba Resort Hotel, em Salvador (BA), no meio desta semana. O evento teve início na tarde da última
quinta-feira (30/1) e encerrou na sexta-feira (1º/fev.).
"Nesse plano estamos inserindo aquelas medidas
de grande porte que são necessárias para efetivamente ampliar a participação do
modal hidroviário na matriz de transporte brasileira. São medidas técnicas,
econômicas, ambientais, institucionais. Quanto vai custar, de onde virá o
dinheiro, quem vai implantar, são algumas das questões colocadas",
afirmou.
Ele acrescentou ainda que "o transporte
hidroviário tem características muito positivas do ponto de vista operacional, do
ponto de vista de energia e sobretudo em termos ambientais”. Dados apresentados
por Ribeiro indicam que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) investiu
até agora R$ 146,4 milhões em intervenções na hidrovia do São Francisco.
De acordo com Ribeiro, o transporte hidroviário
responde por 5% do fluxo de cargas no Brasil. O governo federal trabalhava com
a meta de fazer subir para 29% a participação de hidrovias e da navegação de
cabotagem no país. O plano hidroviário estratégico, que está em fase de
elaboração, no entanto, pode provocar uma revisão nessa meta, informou ele.
O seminário é promovido pelo Banco Mundial e pela
Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba
(Codevasf), com o apoio de Ministério dos Transportes, Ministério da Integração
Nacional, Agência Nacional de Transportes Aquaviários, Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes e Governo do Estado da Bahia. O objetivo do
projeto do Corredor Multimodal de Transporte do rio São Francisco é ampliar,
integrar e articular as estruturas hidroviária, rodoviária, ferroviária e
portuária da bacia hidrográfica do São Francisco.
Dados do Banco Mundial
Técnicos do Banco Mundial apresentaram nesta
quinta-feira (31) aos participantes do seminário sobre o projeto de Corredor
Multimodal do rio São Francisco dados sobre a estrutura de transporte e o fluxo
de produtos na região de influência do Corredor. De acordo com análises do
Banco Mundial, 38% do preço do milho para o produtor no Oeste da Bahia, por
exemplo, referem-se a custos logísticos; para o caroço de algodão, o percentual
é de 35%. Foi considerado, nas análises, o mercado nordestino como destino
desses produtos. Nos Estados Unidos, o custo logístico médio é de 8,2%.
De acordo com dados da Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), o mercado
de soja, farelo de soja, óleo, milho, pluma e caroço de algodão, gipsita e
calcário deve crescer em média 3% ao ano até 2035 em regiões de influência do
Corredor, o que dobrará o fluxo de cargas em relação às quantidades atuais e
exigirá mudanças estruturais na estrutura de transporte.
Especificamente sobre o modal rodoviário, o Banco
avalia que há na região do Corredor Multimodal 1.974 km de vias que apresentam
incompatibilidade técnica e gerencial com o tráfego de caminhões pesados e que
precisam de ajustes. São vias não pavimentadas, com problemas de drenagem ou
que têm a superfície deteriorada nos períodos de chuva. Seriam ainda
necessários 1.545 km de novas rodovias pavimentadas e trabalhos de
revitalização, e aumento de capacidade de outros 1.331 km.
O Benjamim singra pelas águas do 'Velho Chico'. Foto: França Neto jan 2011. |
O Rio São Francisco (‘Velho Chico’, popularmente
batizado pelos 10 milhões de ribeirinhos) possui 2.800 km de extensão e drena
uma área de aproximadamente 641.000 km2.
O Velho Chico nasce em Minas Gerais, na Serra da
Canastra, e desemboca no Oceano Atlântico entre Sergipe e Alagoas. Apresenta dois
estirões navegáveis, o médio, com cerca de 1.371km, entre Pirapora (MG) e
Petrolina (PE)/Juazeiro (BA) e o baixo com 208km entre Piranhas (AL) e a foz
no Atlântico.
CODEVASF
A Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São
Francisco e do Parnaíba (Codevasf) é uma empresa pública, vinculada ao
Ministério da Integração Nacional, que promove o desenvolvimento e a
revitalização das bacias dos rios São Francisco e Parnaíba com a utilização
sustentável dos recursos naturais e estruturação de atividades produtivas para
a inclusão econômica e social. Com a Lei Nº 12.196, sancionada em 14
de janeiro de 2010, passa a atuar também nos vales dos rios Itapecuru e
Mearim, no estado do Maranhão.
A Empresa mobiliza investimentos públicos para a
construção de obras de infraestrutura, particularmente para a implantação de
projetos de irrigação e de aproveitamento racional dos recursos hídricos. É
reconhecida principalmente pela implantação de polos de irrigação, a exemplo do
Polo Petrolina–Juazeiro.
Investe também na aplicação de novas tecnologias,
diversificação de culturas, recuperação de áreas ecologicamente degradadas,
capacitação e treinamento de produtores rurais, além da realização de pesquisas
e estudos socioeconômicos e ambientais, entre outras ações. Um trabalho que
gera emprego e renda para a população residente em sua área de atuação.
Por meio das PPPs (Parcerias Público-Privadas), a
Companhia tem buscado parceiros para viabilizar importantes projetos de
irrigação em andamento.
A Codevasf participa do Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC), do governo federal, implantando obras em diversos
municípios, no âmbito do Programa de Revitalização da Bacia Hidrográfica do rio
São Francisco.
Uma ação de destaque na área de responsabilidade
social é o Projeto Amanhã, através do qual a Empresa promove a capacitação profissional
de jovens rurais em atividades agrícolas e não agrícolas relacionadas com as
necessidades do mercado regional.
FN Café NEWS - sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
Combate aos crimes contra o patrimônio da natureza: desvio do curso do rio São Francisco
Empresa é punida judicialmente por fazer desvio de curso do rio Rio São Francisco
Justiça mineira condena empresa a pagar
indenização por mudança feita há 37 anos no curso do São Francisco em Luz, na
Região Centro-Oeste do estado. Companhia promete recorrer ao STJ
Rio São Francisco: patrimônio ambiental e sociocultural para o povo barranqueiro-sanfraciscano. FN Café NEWS dez. 2012 |
Policial, ao lado de pescador, constatou em 2003
que um afluente do Velho Chico foi aterrado em Luz para plantio de
cana-de-açúcar: em outro trecho, houve desvio do rio. Foto: Jornal EM/BH.
|
Luz e Lagoa da Prata* – Depois de quase 10 anos, ambientalistas
conseguiram uma vitória na disputa judicial em torno de desvios feitos no Rio
São Francisco na Região Centro-Oeste de Minas. O Tribunal de Justiça de Minas
Gerais (TJMG) condenou a Empresa de Participação Oeste de Minas e Táxi Aéreo
(Epomta), ex-Companhia Agrícola do Oeste de Minas (Ciaom) e ex-Usina de Açúcar
e Álcool Luciânia, a pagar indenização pelo desvio feito, em 1975, no curso do rio
São Francisco – o Velho Chico, em Luz, a 190 quilômetros de Belo Horizonte. O
objetivo da empresa era plantar cana e atender o Programa Nacional de Várzeas
(Provárzeas), do governo federal. Na época, além de um aterro, foi construído
ali um canal de cerca de 800 metros que secou várias lagoas naturais.
É
um resultado muito positivo, mas queremos mais, pois não está completo. Vamos
recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para que a empresa pague também
por danos morais ambientais à coletividade”, afirmam os advogado Gustavo
Ferreira Carvalho e Mateus Botinha Oliveira, representantes do Movimento
Ambientalista Casca D’Anta. Em 2003, a entidade ajuizou ação civil pública
pedindo a integridade do chamado Rio da Unidade Nacional, embora descartando a
volta do trecho ao leito normal, pois os impactos no patrimônio natural
poderiam ser maiores, de acordo com laudo pericial produzido nos autos.
Já
no município vizinho de Lagoa da Prata, a 197 quilômetros da capital, a batalha
judicial é para que o rio volte ao traçado original. No local, ocorreu a maior
agressão ao São Francisco, na avaliação dos ambientalistas. Na localidade de
Volta Grande, foi executado, em 1981, um desvio que interrompeu o curso natural
em 7,5 quilômetros. Os peixes desapareceram e ribeirinhos protestaram contra a
mutilação da natureza. “Vamos às últimas consequências para defender o São
Francisco”, diz o pescador e integrante da Associação dos Pescadores Amadores
do Alto São Francisco (Aapa), Damião Lopes, de 73 anos.
Segundo
os advogados do Movimento Ambientalista Casca D’Anta, a Justiça ainda vai
mandar avaliar o valor da indenização. “O valor certamente vai ser muito alto,
pois estamos falando de danos ambientais causados há quatro décadas”, diz
Gustavo Ferreira, lembrando que a quantia deverá ser repassada à Associação
Brasileira dos Membros do Ministério Público (Abrampa), para trabalhos de
revitalização de áreas degradadas, com espécies nativas, programas de educação
ambiental e projetos de piscicultura em Luz. A empresa poderá recorrer do
acórdão, publicado em 4 de dezembro, mas só na esfera superior. “Perdemos na
primeira instância e recorremos ao TJMG. Esperamos que seja mantida a decisão
pelo Superior Tribunal de Justiça, caso a empresa recorra”, afirma Gustavo.
Danos
A
luta dos ambientalistas de Luz e Lagoa da Prata vem sendo documentada pelo
Estado de Minas desde 2003, quando a situação veio à tona e o Ministério
Público recebeu denúncias sobre as obras do desvios nas décadas de 1970 e 1980.
Em abril de 2010, foi apresentado à Justiça um laudo pericial comprovando os
efeitos danosos das irregularidades cometidas em Luz. Na época, para plantar
cana, a empresa então pertencente ao famoso empresário mineiro Antônio Luciano
Pereira (1913–1990), conhecido como Lucianinho, fez um canal para alterar o
leito do São Francisco e aumentar a área de cultivo em cerca de 130 hectares.
“O
laudo mostrou que houve intervenção significativa no rio São Francisco,
comprometendo fauna e flora, em especial a reprodução de peixes. Foi uma prova
pericial eficaz e muito importante no processo”, dizem os advogados de Luz. O
documento elaborado pela empresa STA Engenharia Florestal revelou que, segundo
boletins de ocorrência policial lavrados em 2003, o aterro feito na região de
Praia Alta secou “lagoas que funcionavam como criatórios naturais de várias
espécies de peixes”. Informou ainda que houve desvio no leito e que o canal
construído pela empresa afetou o curso do rio e provocou intervenção direta em
área de preservação permanente (APP). “Foi uma irregularidade ambiental. De
acordo com o Código Florestal, não pode haver intervenção em APP”, afirma
Gustavo. A empresa, por meio do advogado João Paulo Campello, informou ontem
que vai recorrer da decisão no STJ.
*Publicação do EM/BH, com adaptações de texto e imagens FN Café NEWS
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Velho Chico: da trajetória histórico-cultural à transposição - 24/01/2010*
rio São Francisco nasce em Minas Gerais, na Serra da Canastra, desemboca no Oceano Atlântico entre Sergipe e Alagoas. Apresenta dois estirões navegáveis, o médio, com cerca de 1.371km, entre Pirapora-MG e Petrolina-PE/Juazeiro-BA e o baixo com 208km entre Piranhas- AL e a foz, no Oceano Atlântico.
O Velho Chico atravessa regiões com condições naturais as mais diversas. As partes extremas superior e inferior, da bacia, apresentam bons índices pluviométricos e fluviométricos, enquanto os seus cursos médio e sub-médio, atravessam áreas de clima bastante seco e semi-árido. Assim, cerca de 75% do deflúvio do São Francisco é gerado em Minas Gerais, cuja área da bacia ali inserida é de apenas 37% da área total.
Comercialmente, o trecho principal são os 1.371km dito anteriormente. Este trecho corresponde a uma distância equivalente entre Brasília (DF) e Salvador (BA) e é sem dúvida a mais econômica forma de ligação entre o Centro Sul e o Nordeste. Com o seu extremo sul localizado na cidade de Pirapora (MG), a Hidrovia do São Francisco é interligada por ferrovia e estradas aos mais importantes centros econômicos do Sudeste, além de fazer parte do Corredor de Exportação Centro-Leste. Ao Norte, nas cidades vizinhas de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), a Hidrovia está ligada às principais capitais do Nordeste, dada a posição geográfica destas duas cidades.
O Velho Chico
oferece condições naturais de navegação, durante todo o ano, com
variações de profundidade (calado), segundo o regime de chuvas. Em
grande parte no vale do São Francisco, as áreas mais propícias ao
aproveitamento agrícola situam-se às margens desse rio. Por esse motivo é
nas proximidades do rio que se encontra a maior parcela da população do
vale. A consolidação da Hidrovia do São Francisco fará com que
atenda-se a demanda, não só da região ribeirinha, mas de todo o país.
A
transposição de águas do Rio São Francisco é um projeto que gera muita
polêmica. Constitui, basicamente, na utilização das águas do rio para a
perenização de rios e açudes da Região Nordeste durante os períodos de
estiagens. Os Estados beneficiados seriam: Paraíba, Rio Grande do Norte e
Ceará e por isso a idéia é defendida pelos políticos destes Estados, já
os políticos de Minas Gerais, Bahia, Alagoas e Sergipe não a aceitam
bem, preocupados com os efeitos em seus Estados. Assista aos vídeos sobre o Velho Chico, Clicando à sua esquerda na imagem.
Entenda o projeto de transposição do Rio São Francisco
Assista aos vídeos sobre a transposição do Velho Chico, com o jornalista Washington Novaes e uma reportagem do SBT acerca das obras em andamento de transferência de águas do Rio São Francisco. Clique na imagem para assistir.
O projeto de transposição das águas do rio São Francisco consiste na transferência de águas do rio para abastecer pequenos rios e açudes da região Nordeste que possuem um déficit hídrico durante o período de estiagem. As obras são prioritárias para o governo no setor de infra-estrutura no ano que vem. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o projeto deve custar R$ 2 bilhões ao governo, e adiantou que o primeiro trecho da transposição deve ser inaugurado em janeiro de 2006.
O projeto em discussão pelo Executivo, porém, vai além da transposição das águas do Velho Chico. A transferência de água está incluída no Programa de Desenvolvimento Sustentável para o Semi-Árido e a Bacia do Rio São Francisco. A prioridade, para o governo federal, é melhorar as condições de vida da população que vive às margens do rio ou têm no São Francisco o seu meio de sobrevivência. O Orçamento de 2005 encaminhado pelo governo federal ao Congresso prevê recursos da ordem de R$ 1 bilhão para a revitalização do rio no ano que vem.
Na avaliação do secretário-executivo do Comitê do São Francisco, Luiz Carlos Fontes, o grande desafio do governo é conciliar a revitalização do rio com a sua transposição. "Precisamos ter uma medida justa para revitalização, um compromisso que assegure que isso não vai ficar apenas restrito a um primeiro momento. Acredito que o governo tenha mecanismos de nos dar um conforto que essa obra não ficará sujeita a variações anuais e que valores serão aprovados no Orçamento da União. Entendo que o valor apresentado nesse momento é uma sinalização, mas não é nem de longe o valor que a gente precisa para revitalização da bacia", diz.
Vapor Benjamim Guimarães navega pelas águas do 'Velho Chico'. França Neto jan 2011. |
Os estados mais beneficiados seriam a Paraíba, o Rio Grande do Norte e o Ceará. O rio São Francisco possui 2,8 mil km de extensão, nasce em Minas Gerais, na Serra da Canastra, e desemboca no Oceano Atlântico, entre Sergipe e Alagoas.
*Fontes: Governo da Bahia, Minas Gerais, IBAMA e Radiobrás, com Adapatações de texto, vídeos e imagens: FN Café News
Por França Neto - francaneto@gmail.com*
Durante o segundo semestre do ano passado (2010), o FN Café News realizou uma enquete sobre o rio São Francisco, o Velho Chico,
em que inquiriu aos seus leitores/seguidores na Internet: você é
favorável à transposição do rio? O resultado dessa pesquisa evidenciou
que 75% dos internautas, seguidores do blog, são favoráveis à
transposição do Velho Chico e apenas 25% deles se dizem contrários a essa intervenção do governo federal no curso do rio.
Apesar da enquete do blog não registrar justificativas em um pequeno universo de pesquisados, deve-se, portanto, levar em conta o resultado obtido acerca da opinião dos internautas, para uma melhor tomada de decisão na administração pública federal, que poderá submeter ao crivo de uma audiência pública.
Pois bem, o debate sobre a transposição do rio São Francisco não pára por aí. Recentemente o jornal O Tempo, de Belo Horizonte (MG), reacendeu o debate, em sua edição de 11 de fevereiro deste ano, indagando dois especialistas no assunto.
No debate das ideias, uma delas trata-se de uma opinião do mundo político: o deputado estadual Paulo Guedes, do Partido dos Trabalhadores (PT), que foi reeleito em outubro do ano passado, com mais 92 mil votos, e, hoje, representa a principal liderança do Partido na região do Norte de Minas, banhada pelas águas do Velho Chico, e nos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Já a outra, uma visão técnica, é representada pela opinião do engenheiro civil Manoel Bomfim Ribeiro, que é mestre em hidrologia e geologia
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ARTIGO
Transposição do rio São
Francisco: mais uma idéia rocambolesca do Governo Federal**
Por França Neto - francaneto@gmail.com*
É meio rocambólico o atual
projeto do governo federal de transposição da águas do rio São Francisco para
terras do semi-árido do Nordeste brasileiro. Tudo isso porque não existe
transparência em suas intenções e há alguns pontos obscuros e polêmicos em seus
objetivos. Um dos pontos polêmicos: o atual projeto não se submete a um crivo
maior de discussões com as partes envolvidas na transposição do rio, como os
debates, fóruns e consultas populares a serem realizadas junto à população nas
margens de seu leito, a qual é conhecida como ‘barranqueira’ ou ‘ribeirinha’.
Pelo “barranqueiro”, o rio
São Francisco é carinhosamente chamado de “Velho Chico”. Entretanto, ele é
conhecido no País como ‘rio da unidade nacional’. Isso porque suas férteis
águas banham a uma extensão de 2.614 km, ou seja, cinco estados brasileiros
(Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas). Por essa condição de ‘rio
da unidade nacional’, o “Velho Chico” causa ainda hoje muito ciúmes em outras
regiões brasileiras. Li, em meados deste ano, uma reportagem de Veja sobre o rio, na qual um cronista
do Rio Grande Sul atribuíra que “o São Francisco é um erro da natureza (...). O
rio deveria mesmo é correr para terras do sul (...)”. Independente do teor ou
da seriedade de tal atribuição, ficou ali subentendido para mim, naquela
reportagem, de que uma simples ‘dádiva da natureza’ aos barranqueiros (o rio)
passara então a condição de objeto de desejo por outras plagas. O motivo do
desejo era, naquele momento, óbvio: água sadia (sem poluição) correndo, como
veias, em terras férteis.
Volta e meia às leituras das
reportagens da grande imprensa nacional e internacional sobre o projeto de
transposição das águas do São Francisco, inclusive com manchete no jornal The
New York Times, no início deste ano, pude acompanhar então que, em paralelo a
essas notícias, o governo federal, responsável e signatário do projeto, não
estabelecera um diálogo direto com a população barranqueira ou mesmo com o
País. Se não for um equívoco de minha parte, parece-me que, nesse período, o
governo federal nem sequer realizou algumas dezenas de audiências públicas
junto às populações ribeirinhas com intuito de dar viabilidade a sua proposta
ou pelo menos abriu o debate à volta de alternativas para o desenvolvimento do
rio São Francisco, como a revitalização de suas matas nativas/ciliares e a
recuperação do leito do rio em decorrência da ação de degradação ambiental e do
acintoso assoreamento ao longo de toda sua extensão. Em outras palavras, não
houve debate e o governo federal tentou em empurrar goela a baixo o projeto de
transposição do São Francisco às comunidades barranqueiras.
Diante disso, uma ‘onda de
protestos’ ambientalistas correu-se, tanto pelo Brasil quanto pelo mundo,
contra o projeto ‘rocambolesco’ do governo federal em fazer a transposição das
águas do São Francisco, sem transparência, critérios e sem debates com à
população. Em face a essa ‘onda’, um bispo da Igreja Católica nordestina
radicalizou o seu protesto: fez recentemente uma greve de fome por mais de 10
dias. O protesto do bispo ecoou pelo mundo afora e chegou a sensibilizar o
governo, em Brasília-DF, que teve de mandar seu ministro Jacques Wagner ao
sertão nordestino para pôr fim a crise e anunciou um plano para ‘ouvir e
debater’ com a população ribeirinha.
Como quase tudo no governo
Lula é cheio de peripécias em seu afã de empreender a todo custo qualquer
projeto à população, a proposta de transposição das águas do rio São Francisco,
no Nordeste brasileiro, é mais uma idéia nebulosa, confusa e ‘enrolada’
(rocambólica) do governo federal em desenvolver políticas públicas “de cima
para baixo” para população, ou seja, sem a submissão do debate e da
participação popular.
*Mestre em Administração Pública – Gestão da
Informação pela Fundação João Pinheiro (FJP/Escola de Governo Professor
Paulo Neves de Carvalho), em Belo Horizonte (MG). Especialista em Políticas
Públicas e Gestão Governamental (Adm. Pública/FJP-EG); Bacharel em Comunicação
Social, em B. Horizonte. Atuou no jornalismo, em diversos órgãos de imprensa de
Montes Claros (MG), nas décadas de 1980/90. Como Jornalista em BH, atuou como
redator-chefe do Jornal de Política e foi Assessor de Comunicação Social em
órgãos da Administração Pública estadual em Belo Horizonte (MG). É, também,
licenciado em Pedagogia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Exerce, atualmente, o cargo de professor-pesquisador na educação superior.
**Artigo
publicado em 1º de novembro de 2005 em Belo Horizonte (MG).
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Vapor Benjamim Guimarães: Patrimônio Histórico-Cultural do Rio São Francisco. Foto: França Neto/jan 2011. |
O Benjamim singra pelas águas do 'Velho Chico'. Foto: França Neto jan 2011. |
Apesar da enquete do blog não registrar justificativas em um pequeno universo de pesquisados, deve-se, portanto, levar em conta o resultado obtido acerca da opinião dos internautas, para uma melhor tomada de decisão na administração pública federal, que poderá submeter ao crivo de uma audiência pública.
Pois bem, o debate sobre a transposição do rio São Francisco não pára por aí. Recentemente o jornal O Tempo, de Belo Horizonte (MG), reacendeu o debate, em sua edição de 11 de fevereiro deste ano, indagando dois especialistas no assunto.
No debate das ideias, uma delas trata-se de uma opinião do mundo político: o deputado estadual Paulo Guedes, do Partido dos Trabalhadores (PT), que foi reeleito em outubro do ano passado, com mais 92 mil votos, e, hoje, representa a principal liderança do Partido na região do Norte de Minas, banhada pelas águas do Velho Chico, e nos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Já a outra, uma visão técnica, é representada pela opinião do engenheiro civil Manoel Bomfim Ribeiro, que é mestre em hidrologia e geologia
Veja a seguir o debate sobre a transposição do rio São Francisco, segundo O Tempo, em BH.
DEBATE
O governo está cometendo um erro ao prosseguir a obra de transposição das águas do rio São Francisco?*
Obra essencial (1)
Quem
tem conforto em casa, pode abrir a geladeira e beber uma água gelada,
tomar um banho gostoso, girar a torneira e vê-la jorrar, experimente
passar um dia sem água.
Não
sou demagogo; defendo a transposição das águas do rio São Francisco,
não por vínculo partidário com o governo; sou um sertanejo que já sentiu
na pele o que é a seca. Criado no Norte de Minas, cresci vendo a minha
mãe carregar água na cabeça.
Para
os que se dizem conhecedores do meio ambiente, mas que não sabem o que é
o flagelo da seca, a transposição é uma obra inviável, de alto custo e
de interesse político; mas para quem convive com o drama da falta
d’água, ela é sinônimo de esperança e de vida.
O
projeto vai bombear água para o leito de outras bacias hidrográficas
que, historicamente, são atingidas pela falta de chuvas. Os canais
transportarão 26,4 m³/s de água - ou seja, apenas 1,4% da vazão média do
rio São Francisco após a barragem de Sobradinho. É uma pequena
quantidade de água que, inevitavelmente, vai para o mar. O rio não corre
para trás, mas essa água que é despejada no oceano Atlântico pode matar
a sede de 12 milhões de pessoas e gerar 5.000 empregos no semiárido,
evitando que famílias se mudem para os centros urbanos, onde podem se
perder de vez.
O
projeto de transposição não é criminoso. Criminosa é a omissão de
governos que jamais assumiram qualquer iniciativa oficial para combater
tal problema. É equivocada a afirmação de que a transposição vai reduzir
as águas do rio São Francisco, dificultar a navegação ou acabar com os
peixes. O projeto faz parte do marco regulatório de abastecimento de
água do Nordeste e não trata apenas de desviar o curso do rio, mas de
sua completa revitalização, que já pode ser vista em todos os municípios
ribeirinhos.
O
programa contempla ações de reflorestamento, controle da irrigação,
construção de barragens, melhoria da calha navegável, esgotamento
sanitário e um intenso trabalho de educação ambiental. Só no Norte de
Minas, mais de 30 municípios estão recebendo investimentos nessas áreas,
com recursos que somam cerca de R$ 500 milhões.
Considerado
"o rio da integração nacional", o rio São Francisco faz a ligação entre
o Sudeste e o Nordeste brasileiro. Em Minas Gerais, a bacia ocupa 40%
do território estadual e representa 70% de seu PIB. É preciso cuidar
dessa região, que é considerada a "caixa d’água" do Velho Chico. A
degradação do rio já dura centenas de anos e sua revitalização não é uma
ação de curto prazo e tampouco de responsabilidade só do governo
federal. Os governos estaduais e municipais devem ampliar suas ações e
trabalhar para o enfrentamento do problema.
Apesar
das ameaças causadas pela poluição, pelo assoreamento e pela agressão
às suas matas ciliares, o rio São Francisco segue resistindo bravamente.
Ele é e continuará sendo uma importante fonte de sustentação dos
municípios ribeirinhos e sempre levará vida por onde passa.
1 - Paulo Guedes
é deputado estadual (PT-MG) e presidente da Comissão Interestadual
Parlamentar de Estudos para o Desenvolvimento Sustentável da Bacia
Hidrográfica do Rio São Francisco (Cipe São Francisco).
Foco no secundário (2)
O
projeto de transposição de águas do rio São Francisco, à luz da
engenharia hidráulica, deixa de ser um assunto polêmico para ser uma
obra sem qualquer significado. Para alguns, as reações contrárias
transformar-se-ão em apoio quando executada a obra. A rede potamográfica
do Nordeste, apesar de bem distribuída, era e é intermitente, ficando
os leitos dos rios dessecados logo após as chuvas.
Devido
à incidência vertical da radiação solar da região, próxima ao Equador, a
evaporação chega a 3.000 mm/ano, ou seja, uma coluna líquida de 3 m³ de
água sobe pelos ares anualmente.
O
nordestino, com sua inventiva, tangido pela necessidade, foi
construindo pequenos barramentos que retinham a água por um tempo maior.
A ideia foi imitada e todos faziam suas aguadas. As técnicas foram
avançando, e o baronato rural começou a executar açudes de médio porte
que já suportavam os períodos estivais. Teófilo Guerra dizia: "No
sertão, vale mais deixar à família um açude do que um rico palácio".
Os
engenheiros nordestinos, no século XX, se tornaram os melhores
hidrólogos do mundo nas técnicas da açudagem. Houve uma grande nucleação
na construção dessas obras e chegamos aos albores do século XXI com
mais de 70 mil açudes no Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e
Pernambuco, que armazenam 40 bilhões de m³, volume equivalente a 16
vezes a baía da Guanabara. Construímos a maior rede de açudes do planeta
em regiões áridas e semiáridas, mas a ideia da transposição ficou na
cabeça de grupos, sobretudo de alguns políticos.
O
subsolo do Nordeste dispõe também de 135 bilhões de m³ de água
acumulados, podendo ser extraídos cerca de 27 bilhões por ano, sem
baixar o nível piezométrico dos seus aquíferos. A transposição, se for
concluída, transportará inicialmente 26 m³/s de água, ou seja, 400
milhões de m³/ano, volume igual a um açude médio. No pico, vai
transportar 127 m³/s, ou seja, 2 bilhões por ano, volume igual à
evaporação do Castanhão, que evapora 2 bilhões dos 6,7 bilhões que
armazena. Esse açude, no Ceará, é o maior do mundo - três vezes a baía
da Guanabara.
Os
canais norte e leste da transposição vão levar 2 bilhões de m³ de água
para oito açudes, que acumulam 13 bilhões e evaporam 4 bilhões por ano.
Chegarão mais 2 bilhões dos quais evaporam quatro bilhões. Entendamos:
40 bilhões não resolveram o problema hídrico da região, mas 2 bilhões
(5%) vão resolver, diz o governo.
O
que falta é distribuição através de um sistema de adutoras. Existem
apenas 4.000 km de adutoras principais. Precisamos de 40 mil km para as
águas dos nossos açudes viajarem por todos os cantos e recantos do
semiárido.
Esta
é uma análise resumida, mas verdadeira. A transposição é um crime de
lesa-pátria que o governo comete contra o país. Existem no Nordeste 38
obras hídricas do governo, inconclusas ou abandonadas. Essa será mais
uma - o coroamento da indústria das secas, cujos escombros em concreto
ficarão expostos e eternizados à flor da terra, atestando a incúria e a
irresponsabilidade do governo.
2 - Manoel Bomfim Ribeiro é engenheiro civil, mestre em hidrologia e geologia
*Publicado pelo FN Café News e Jornal OTEMPO, BH, em 11/02/2011.
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